domingo, 29 de janeiro de 2006

Amor & Arte


Somente a arte pode nos dar uma sensação de completude, de transcendência. Seja na literatura, na pintura, no cinema ou na educação. A arte cinematográfica é uma das mais fascinantes obras humanas. Quando os cineastas aprenderam a técnicas de montagem, também aprenderam a contar uma história com as mesmas tensões, permanências e rupturas da vida cotidiana. Com sabedoria, Griffith e Eisenstein tornaram o cinema uma das mais belas criações do gênero humano. E a beleza é a única coisa que nos acende, desperta e motiva. O cinema transforma situações deprimentes em arte e passamos a ressignificar a natureza do 'belo'.
Estou cada vez mais convencido de que o amor é a única forma de nos mantermos vivos e ligados à Gaia. Amar é uma arte. Exige cuidado, paciência, constância, habilidade, ternura, paixão, embate. O amor é a glória! Fiquei comovido com a entrevista do ator Raul Cortez numa das últimas edições da Revista IstoÉ. No fim da entrevista ele fez a seguinte consideração, referindo-se ao poeta Rainer Maria Rilke: "Põe a cabeça no travesseiro e pergunta se você viveria sem escrever". No interior dessa citação, quanta entrega e paixão! Assim como o ator não vive sem atuar, o educador não vive sem educar. E é essa a minha autêntica entrega...minha forma de semear o amor pelo mundo. Quantos sujeitos já passaram pelas minhas mãos? Quantas almas foram tocadas pelas minhas palavras e pelos meus gestos de carinho? Quantos del@s me recompensaram com seus depoimentos carinhosos, sinceros e amorosos? E isso não é pouco. Só o amor é capaz de dar essa medida. Só o amor nos arrebata! Só o amor é capaz de nos construir/desconstruir. O amor é a única virtude. Só ele nos conduz aos verdadeiros enlaces. Só o amor pode nos retirar de uma situação permanente de miséria. Só o amor pode nos fazer enxergar com os olhos sensíveis d'alma. Só o amor é a verdadeira fortaleza e somente ele pode nos libertar. Desnudar-se, portanto, faz-se fundamental!!!

As canções nativistas e a alma gaudéria


Pesquiso canções e intérpretes nativistas do Rio Grande do Sul. A especificidade dos temas, a importância dos festivais, levam-me àquelas paragens por ora tão distantes. Essa idéia de raiz, de tradição que os gaúchos possuem é bastante peculiar. Carrego comigo um pouco das tradições no amargo que bebo todos os dias, companheiro das leituras nas invernadas. Num desses momentos de lembranças da infância escrevi "Poço de Saudade"(1999), que foi devidamente musicada. É uma milonga:
Desgarrei-me do meu pago/ não me abrigo mais no pala/ sou um poço de saudade/ só o tempo é que me abala.
Ainda criança na Campanha/ meu avô contava histórias/ sobre o vento minuano/ dos charruas, lutas inglórias.
Desde piá eu já vislumbro/ que a raiz é o que importa/ e que o meu lugar no mundo/ só tem sentido nas bravatas.
Recuar no tempo é triste/ quando se está longe dos seus/ quanto mais o tempo insiste/ mais se sabe o que perdeu.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

A permanência do preconceito


Portal Aprendiz, 23/01/2006

Professores negros não chegam a 1%

Na tentativa de corrigir as desigualdades raciais, cada vez mais universidades separam vagas para negros no vestibular. Enquanto isso, na outra ponta da sala de aula, um problema da mesma natureza continua sem atenção: o número insignificante de professores negros no ensino superior. Quem chama a atenção é o antropólogo José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB). No ano 2000, ele fez uma espécie de censo racial em 12 importantes instituições de ensino superior. A conclusão: num país em que 45% da população se declara negra (preta ou parda), o número de professores dessa raça não chega, em média, a 0,7%.
O índice mais baixo foi na instituição de ensino e pesquisa mais conceituada do País. Dos 4.705 professores da Universidade de São Paulo (USP) em 2000, só cinco eram negros (0,1%). "Os números são escandalosos. É difícil encontrar outra explicação que não seja o racismo", diz Carvalho, que fez o levantamento para o livro Inclusão Étnica e Racial no Brasil (Ed. Attar). Na raiz desse problema, segundo o antropólogo, está a dificuldade que os negros têm para chegar à universidade pública. Dos estudantes que se inscreveram no vestibular deste ano da USP, 23,1% eram negros. Na segunda fase do concurso, o grupo de negros caiu para 12,9%.
Para Carvalho, as universidades só têm a perder com a exclusão racial na docência. "Com mais negros, o leque de temas tratados na academia se torna mais variado, chegam mais conhecimentos novos. A experiência pessoal do professor faz diferença." O hoje professor Renato Emerson dos Santos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), sentiu a ausência de negros quando procurou orientador para seu projeto de mestrado. Formado em Geografia, ele queria tratar da segregação racial. "Fui desencorajado por quatro professores. Disseram que o tema não tinha nada a ver. Consegui fazer o mestrado porque aceitei abordar outro tema", ele afirma. Santos estava entre os 30 professores negros identificados na Uerj em 2000. Ele, porém, diz conhecer não mais que 12.
Para o autor do levantamento, o tema precisa ser debatido porque "o poder no país passa pelo professor universitário". Ele cita exemplos, como Cristovam Buarque, reitor da UnB e depois ministro da Educação, e Carlos Lessa, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) antes de presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Ministério da Educação prometeu abrir 4 mil vagas para professores nas universidades federais até 2007. Para Carvalho, que é branco e ajudou a criar o sistema de cotas para vestibulandos negros em Brasília, essa é a chance de levar as ações afirmativas para a docência. Ele sugere que o professor negro tenha "acesso preferencial". "É diferente da cota. Se cinco são aprovados para três vagas, os negros teriam preferência." A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) pode ser a primeira a adotar o critério. A idéia foi aprovada pelo conselho universitário e agora aguarda a decisão do governo estadual.

sábado, 21 de janeiro de 2006

Noites Insones

Varo madrugadas. Noites longas, por vezes ásperas... e sonhos tempestivos. O corpo retesado, máculas por braços e pernas... e só desperto com o canoro pássaro que parece conhecer todos os meus segredos e degredos. Por certo, quando finalmente estiver em sono profundo, a mercê de todas as representações oníricas, poderei ter a medida certa do quanto fui alerta e do quanto aprendi com a musa de todas as épocas. E só ela, a Clio desavisada, pode compreender que o tempo é fronteira do que não se sabe... e ainda que caolha e submersa na lama humana, empreenderá suas retóricas análises... e eu estarei lá... insone... com minhas reticências agudas e sinceras.
NOTA: Este breve texto foi construído pensando no meu grande amigo Alexandre Barp, que pediu-me para explicar a gênese da expressão "Clio Insone". Então, Barp, promessa cumprida!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Do projeto literário "Forma Crua e Poema pra quem tem verso" (1987-1997)

POEMA PRA QUEM TEM VERSO


Você
até
me
olha
com
desconfiança
cruel...



Ele
não
ama


e


Chora
lágrimas
de
Papel...

Espionagem Virtual


Google nega pedido dos EUA para revelar buscas

Folha Online

O gigante das buscas Google se recusou a cumprir uma intimação do governo norte-americano que vai contra a política de privacidade da companhia --a administração Bush gostaria de saber o que milhões de pessoas estão procurando na internet com a ajuda da popular ferramenta.
Segundo a empresa, o governo quer uma lista com todos os termos digitados na caixa de buscas durante uma semana específica --caso elaborado, este documento teria milhões de palavras. Além disso, o Google deveria fornecer cerca de 1 milhão de endereços virtuais contidos em seu banco de dados e selecionados a esmo.
A intimação, afirma a agência de notícias Associated Press, mostra como os sites de busca podem ser úteis para os governos, quando eles querem controlar a população. Para justificar o pedido, representantes dos EUA falam que estas informações são "vitais" para o cumprimento de leis que protegem crianças contra a pedofilia.
Com a recusa do Google --a intimação chegou à empresa em meados do ano passado--, o advogado Alberto Gonzales, que representa os EUA, pediu nesta semana que um juiz de San José interviesse no caso e fizesse outro requisição oficial para a entrega das informações.
Ontem, o Yahoo! confirmou à Associated Press ter recebido uma intimação parecida. "Não revelamos qualquer informação pessoal de nossos usuários", afirmou a empresa. A Microsoft --dona da ferramenta de buscas MSN-- se recusou a dizer se recebeu um pedido oficial deste tipo.
Para especialistas, este caso preocupa por ir contra as políticas de privacidade das empresas de busca --teoricamente, o internauta tem direito de procurar o que bem entender nestes sites, sem ser identificado.
Este tipo de preocupação em relação ao direito à privacidade aumentou ainda mais quando se soube que, depois dos ataques de 11 de setembro, os EUA tiveram acesso à comunicação de civis sem autorização oficial para fazê-lo.
Com agências internacionais

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Brasil: terreno das contradições e das desigualdades



Estado de Minas, 19/01/2006 - Belo Horizonte MG

Réquiem para o trabalho: Universidades, quase sempre inacessíveis, deveriam ser o berço dos jovens que querem se preparar para o trabalho

Maurício Pessoa

Terá morrido o direito ao trabalho, levado pelos ventos furiosos e inclementes das novas tecnologias, incapazes de serem pacientes com os despreparados? Ou terá sido condenada ao sepultamento a esperança dos mais jovens, inaptos para a produção e vocacionados à marginalidade do ócio imposto pelo preconceito e pela má vontade? Seja o que for, para um universo estimado em mais de 17 milhões de desempregados – sem levar em conta as multidões de jovens que todos os anos batem às portas das fábricas, lojas e escritórios e as encontram fechadas –, este é um país que maltrata sua gente e despreza direitos naturais. Os jovens não trabalham porque, mesmo tendo a vitalidade da juventude, não dispõem da experiência gerada pela maturidade. Aos mais velhos, no entanto, é negada a oportunidade de trabalhar, porque, apesar da experiência, não têm a força da juventude. Não é ironia de mercado, é crueldade. Um casulo é o túmulo de uma lagarta e o berço de uma borboleta; as universidades, quase sempre inacessíveis, deveriam ser o berço dos jovens que querem se preparar para o trabalho, mas são, simplesmente, a desesperança de jovens e velhos, condenados a se tornarem meros espectadores dos acontecimentos. Assim, num país que convive com mais de 400 mil engenheiros desempregados, não se deve admirar as longas filas às portas dos quartéis como o retorno do serviço à pátria, mas, sem dúvida, a busca de um soldo, roupas e comida, além da garantia do emprego. O desenvolvimento econômico está atrelado a uma palavra sempre descuidada no Brasil, a educação.
Governos e empresários sempre se sentiram distantes do fenômeno durante o período em que manejar máquinas e equipamentos era quase trivial. Apertar parafusos, produzir uma peça, a exemplo do que sempre fizeram os torneiros, são assuntos do passado. Hoje, exige-se amplo conhecimento de informática, domínio da língua inglesa, num país onde a maioria das crianças, tangidas pela fome e pela miséria, mal consegue terminar o primeiro grau. Não há trabalho, morreu o emprego e a ressurreição da remuneração depende do desenvolvimento econômico, utopia de políticos e promessa de governo nunca realizada. Não se descobriu ainda ser a educação a mais criadora de todas as forças econômicas e a mais fecunda de todas as medidas financeiras. O que se sabe é que o Brasil é feito por nós. É urgente desatá-los.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Do projeto literário "Kiara e o Encontro dos Anjos" (2001)

O silêncio do meu pai

Dia chuvoso de carnaval. Na praia com uma dezena de pessoas entre mulheres e homens, buscava me fortalecer e me proteger da selvageria carnavalesca. Encontrei a mulher com o sorriso da permissividade. A praia deserta e sem iluminação elétrica, dava contornos mais saborosos ao ambiente breu.
Todos sorriam, cantavam e bebiam. Banhávamo-nos numa lagoa que nos conduzia ao oceano. Volúpias de mistério e descobertas! Todos os dias a aurora insistia em seu canto último. Teimava em nos sacudir. Preâmbulo das horas matutinas. Ronronávamos, acreditando que poderíamos ludibriar o tempo. Uma alma desesperada do meu lado fechava os olhos e, em tal clamor, lancinava-me sem piedade. A miséria era maior do que a devassidão humana!
Conversávamos, animadamente, sorvendo o amargo do chimarrão. Na brasa, o carreteiro estava quase pronto. Nuvens carregadas ameaçavam inundar nossas tendas plásticas. Dois viajores da América Central falavam da revolução no país de origem. Quando anoiteceu, chuva torrencial nos acuou. Tremíamos e sonhávamos apertados em lençóis de algodão. De um canto da tenda, grunhidos últimos dos retardatários da madrugada insone.
O carnaval se foi. Ainda havia a última canção. A última lamúria dos ventos feminis. Ao regressar para o meu casulo de degredos, já não era o mesmo. O pai me visitou. Algo raro. Fomos almoçar juntos. Conversava com ele num restaurante de aparência suspeita. Era Domingo. O pai acreditava que as novas gerações iriam mudar a ‘cara’ do canil brasilis. Olhar distante era aquele. Uma pressa de ir embora. Para onde? Entremeado pelos goles da cerveja quente, olhava para ele, para o seu silêncio interno.
Nota: Meu pai faria 62 anos hoje (18/01/06).

Queda de braço entre Andes e Mec ainda não terminou...



> Folha Dirigida, 17/01/2006 - Rio de Janeiro RJ

Técnicos e professores podem voltar a parar

Natália Strucchi

Ainda sem um acordo com o Ministério da Educação (MEC), o conjunto de técnico-administrativos das universidades federais pode retomar a greve iniciada no ano passado e que acabou após o governo se comprometer a atender parte das reivindicações da categoria. Após 48 dias de retorno às atividades normais nas instituições, com o novo calendário acadêmico em vigor, o coordenador-geral da Fasubra, sindicato nacional dos técnicos, João Paulo Ribeiro, garante que diante da falta de acordo com o MEC, outra greve pode ser a saída. "Diante de tanta intransigência, o jeito vai ser botar o bloco na rua. Ou seja, pode haver greve novamente", avisa.
Ribeiro conta que, no último dia 10, houve uma reunião com o ministério porém nada ficou acertado. "Tivemos ma reunião no dia 10 e o MEC se contradizia o tempo todo. Uma hora afirmava que era uma reunião de negociação, outra hora dizia que não", afirma. O dirigente explica que a verba prometida pelo MEC, durante as negociações da greve que durou mais de
100 dias, não vai mais ser repassada agora. "Durante a greve, o governo prometeu R$255 milhões em incentivo para capacitação e carreira. Agora não vai mais dar esse valor, alegando que não tínhamos fechado um acordo", reclama Ribeiro. Com a situação atual, o coordenador garante que a Fasubra continuará a lutar pelos seus direitos. "Estamos em uma situação crítica, ficamos mais uma vez na pior, com grande indignação. Vamos continuar forçando a barra, afinal ficou muito difícil. O governo jogou tudo para o segundo semestre".
Andes se revolta com paralisação do PL - O Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) também não está nada satisfeito com a atitude do MEC após a greve. Segundo a presidente do Andes, Marina Barbosa, o ministério paralisou o Projeto de Lei (PL) que estava em andamento na Comissão de Educação e Cultura da Câmara e que previa um reajuste salarial de 8,45% para a categoria. "O MEC simplesmente paralisou o PL para fazer algumas correções. Eles nem sequer avisaram isso para o sindicato. Ficamos
sabendo através da internet", reclama Marina. De acordo com a dirigente, o ministério não cumpriu o prometido. "A greve terminou e nós continuamos na mesma. O ministério não fez nada e ainda pretende diminuir nosso salário. Vamos denunciar à sociedade e ao Congresso qual o verdadeiro caráter do MEC", avisa a presidente do Andes. O sindicato vai tentar conseguir uma audiência no ministério, construir um calendário de lutas para reivindicar direitos e debater a campanha salarial de 2006. "Em janeiro já deveríamos receber o que tinha sido combinado com o ministério e não deve acontecer. Está marcada para 12 de fevereiro nossa próxima reunião nacional, para decidirmos que decisão tomar", declara. Sobre outra possível greve, Marina afirma que os professores não pensaram na questão, mas vão acompanhar tudo o que está acontecendo para decidirem o que fazer. "Vamos realizar muitos debates para resolver esta questão. Queremos primeiro trabalhar no acompanhamento das coisas", conclui a presidente do Andes.
Secretário desmente acusações dos sindicatos
O secretário-executivo adjunto do MEC, Ronaldo Teixeira, declarou que ambas as situações citadas são inverídicas. "No que diz respeito aos professores, o projeto está no Congresso e estamos fazendo grande esforço para sua aprovação, que não terá contrariedade, aumento nunca tem contrariedade. Em relação aos técnicos, a implementação da segunda etapa está em curso através da formação de um grupo de trabalho e de comissões", afirma Teixeira. O secretário conta que, na reunião do último dia 10 com a Fasubra, os representantes discutiram o assunto. "Fizemos a reunião para tratar da instituição de grupos de trabalho para que possam realizar a implementação da segunda etapa do plano de carreira, que é uma conquista histórica dos técnicos-administrativos. Essas declarações da Fasubra me surpreendem parcialmente", garante.
Em relação às declarações da presidente do Andes, Teixeira diz que o encerramento da greve foi unilateral, diante da proposta feita pelo ministério. "Não foi, lamentavelmente, assinado um acordo. Na verdade, estamos implementando nossa proposta com a compreensão da maioria dos professores. O sindicato em si não assinou nada. Já o ProIfes, que é a outra Associação Nacional dos Professores, concordou conosco, mas também não assinou um acordo", explica.
Teixeira falou da proposta feita pelo MEC. "A nossa proposta contempla reivindicações históricas. Serão R$650 milhões este ano e R$770 milhões de impacto para o ano de 2007. Estamos convencidos que é uma proposta qualificada. Tanto é que os professores saíram da greve, mesmo que não houvesse acordo formal, e decidiram ser favoráveis à proposta". Quanto à retirada do PL do Congresso Nacional, o secretário novamente desmente a
versão apresentada. "O MEC não retirou o PL do Congresso Nacional, de forma alguma. Não só foi enviada a proposta ainda em dezembro, como a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, já se comprometeu junto ao ministro da Educação, Fernando Haddad, de solicitar urgência na votação", esclarece.
Segundo ele, o ministério está trabalhando na expectativa da volta dos trabalhos do Congresso para intimar a solução. "Se for votado agora ou em março, ainda sim o impacto é a partir de janeiro. Portanto é retroativo, não haverá nenhuma perda para os professores", explica. O dirigente reforça que a palavra dada pelo governo continua de pé. "A palavra empenhada pelo MEC, pelo ministro e pelo presidente continua de pé. Talvez todas as acusações tenham um viés político, de parte daqueles que tentaram manter a greve e não obtiveram sucesso", finaliza.

Em busca da identidade brasileira



Vivemos, atualmente, não só no Brasil, mas em diversas partes do mundo, falsos dilemas e falsos problemas. Quero dizer com isso, que temos nos meios de comunicação de massa, diversos experts em assuntos econômicos, políticos, sociais e culturais, que tentam compreender o país numa dimensão bastante empobrecida de suas reais potencialidades, de suas reais motivações diante de um mundo carcomido pelo sensacionalismo, pelo arrivismo e pela competitividade cada vez mais desenfreada. É como se o ‘quarto poder’ quisesse impingir valores/crenças sem qualquer mediação histórica, desqualificando falas divergentes e/ou grupos sociais que discordam desta mimese absurda da sociedade de consumo.
Todas as formas de violência que assistimos hoje via satélite (homens-bomba, chacinas, estelionatos, corrupção estrutural, etc. e etc.), são fenômenos históricos que não foram devidamente resolvidos em suas diversas etapas históricas. A ‘fórmula da violência’ talvez tenha mudado o tom, mas continua sendo violência! Tudo que a sociedade produz materialmente/imaterialmente ganhou uma marca de qualidade que precisa passar, rigorosamente, pelos padrões ditados pelo ‘deus-mercado’. E se este acordo for rompido ou questionado de maneira veemente, o aparato repressor do Estado age sem qualquer receio ou lamento.
As práticas autoritárias se fazem sentir nas arenas política, econômica, cultural e educacional, como se todos pertencessem à alguém ou à alguma coisa da qual desconhecem, mas não conseguem se desvencilhar. Penso que ainda somos vistos como uma sociedade exótica, uma nação (?) terceiro-mundista cercada de miséria, inventividade, alegria e, ao mesmo tempo, de ‘passionalidade lusitana’. Entender o Brasil é analisar, efetivamente, o nosso passado colonial, daí a dívida que nós historiadores/educadores temos com uma História Comparada entre Brasil e Portugal. Isto explicaria, em boa parte, os mandos e desmandos de um Estado caolho, que necessita urgentemente ressignificar suas práticas políticas e ganhar um mínimo de credibilidade dos trabalhadores deste país.

O embrutecimento na relação pedagógica


Estou convencido de que o principal diferencial na formação de um graduando são as relações pedagógicas estabelecidas durante a sua vivência acadêmica. Ao integrar o quadro do magistério do Departamento de Estudos Especializados em Educação, em caráter temporário, tive contato com turmas da licenciatura (Letras Alemão/ História), e todo o trabalho desenvolvido deu-se no intuito de valorizar as experiências sociais e, principalmente, problematizar o inventário dos tempos de escola – ensinos fundamental e médio – dos graduandos. De acordo com a fala de um estudante de História, a disciplina que ministrei – Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1o. e 2o. graus – possibilitou a todos os seus colegas “expor em primeira pessoa” as angústias/dilemas da profissão. Na realidade, os encontros se transformaram em verdadeiros depoimentos dos tempos de escola, mediados pela legislação educacional vigente e referencial bibliográfico que tratava diretamente da função da escola pública e a valorização social do magistério.
Além dos debates acalorados, análises de casos e júris simulados, realizamos algumas dinâmicas de grupo, enfatizando a importância do carinho e do afeto. Foram momentos bastante marcantes, a ponto de alguns estudantes confessarem em grande grupo que depois dessa Disciplina, cresceu o desejo de serem professores da rede pública.
Mas, qual é a novidade deste relato aparentemente tão banal? Na verdade, algo bem simples. Há um elevado contingente de educadores espalhados pelos diversos centros da UFSC que têm desprezado as experiências de vida dos seus educandos, agindo de maneira fria e distante, menosprezando a própria razão de ser do processo ensino-aprendizagem: a(s) troca(s) pedagógica(s).
Compreender este fenômeno no âmbito do universo acadêmico parece-me essencial, já que a coisificação nos relacionamentos humanos tem ganhado uma dimensão perigosa, levando muitos graduandos à desistência de seus respectivos cursos. Aponto, pois, a necessidade de que nós, educadores, formemos homens e mulheres melhores, sempre preocupados com o restauro emocional efetivo desta nova geração de profissionais. Do contrário, estaremos reproduzindo a competitividade desenfreada, a meritocracia e a estratégia da desqualificação do outro, tão típicas da sociedade capitalista. Temos acima de tudo um compromisso ético com os nossos educandos e isto significa evitar o embate cada vez mais dilacerante entre Eros e Tânatos.

Para não esquecermos...


Ecos da Ditadura Militar em Florianópolis

04/07/2005

(após um relato de um estudante universitário: preso, desnudado e torturado psicologicamente).


Os últimos acontecimentos em Florianópolis têm nos revelado os limites da democracia representativa e, fundamentalmente, o desrespeito às liberdades individuais, o que é anticonstitucional. Evidente que me refiro ao movimento estudantil (ME) que tomou as ruas da capital catarinense, exigindo a diminuição das tarifas dos coletivos urbanos, algo que o atual prefeito havia se comprometido durante o pleito municipal. Na primeira manifestação de peso que o Sr. Dario Elias Berger enfrentou, não titubeou: acionou o aparato repressor para defender com unhas e dentes o capital/patrimônio privado.
Os jovens só são importantes, hodiernamente, quando se tornam consumidores de bugigangas eletrônicas ou quando vendem sua força de trabalho por míseros tostões. A potencialidade vital, o Eros criador da juventude, foi praticamente absorvido pelos instrumentos midiáticos, que os idiotiza de maneira implacável. Porém, quando a categoria “juventude” tenta se impor politicamente e ideologicamente é completamente desqualificada pelas mídias de massa, com termos no mínimo grotescos: baderneiros, vândalos, vagabundos, maconheiros, etc. Sim. A mesma juventude que consome e produz, não pode se rebelar. A rebeldia tem de ser silenciada para garantir o “direito de ir e vir” do cidadão pacato, honesto, resignado e respeitador da ordem. Estes termos lembram em muito o discurso dos parlamentares catarinenses em relação à população de Florianópolis, quando da visita do general-presidente João Baptista Figueiredo à capital em novembro de 1979. Os ecos da repressão militar, 20 anos depois, impõem-se de forma preocupante. O prefeito-empresário tem internalizado muito bem estas práticas arbitrárias.
O ME deve se orgulhar deste momento histórico, até porque estamos num processo de paralisia intelectual/política jamais vista neste país. Não serão as tropas de choque, as balas de borracha e os cães excitados que vão conseguir destruir aquilo que é intrínseco à juventude; a capacidade de sonhar e transformar a realidade existente! Precisamos estar atentos aos abusos do aparato repressor do Estado, pois isto pode se configurar como algo naturalizado na sociedade; em outras palavras, uma Ditadura Civil!

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Para além do Consenso de Washington: preocupações para o "Senhor da Guerra"


Evo Morales na Bolívia, Hugo Chávez na Venezuela e possibilidades do esquerdista Ollanta Humala vencer as eleições no Peru demonstram o quanto o quadro político da América Latina está se reconfigurando. No México, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, também pode levar a melhor no pleito presidencial, já que as relações de 'amizade' entre o atual presidente mexicano (Fox) e Bush (EUA) não trouxe os frutos prometidos. Na realidade, o fenômeno da 'esquerdização' na América Latina vem revelar que os propósitos do Consenso de Washington (1996) só tinham um único enfoque: a imposição das medidas liberalizantes dos EUA maquiados pela irretorquível 'globalização'.
A 'globalização' acelerou o fosso entre os que mais concentram renda e os miseráveis em toda a América Latina. Programas sociais de fachada e ajustes fiscais severos - para que grandes investidores internacionais possam atuar sem riscos - fez com que a população latino-americana buscasse uma alternativa mais 'radical', que pelo menos brecasse a fome insaciável do grande capital. Infelizmente, o Brasil não protagoniza esse feito na América Latina. Com toda sua potencialidade econômica/cultural, o governo de Lula seguiu à risca a cartilha de Washington e se afastou, estrategicamente, do 'instável' Chávez. Fidel Castro deixou seguidores, aparentemente. E quem sabe o sonho de Bolívar - uma América Latina totalmente integrada - não deixe de ser uma utopia e se concretize, ainda que a passos não tão largos, num horizonte próximo.

Do projeto literário "Suspenso e Alheio ou as minhas Reticências Sinceras" (2005-2006)

Havia naquela mulher um misto de contemplação, generosidade e sinceridade levadas ao extremo. Era uma aparição, um elemento que, ainda que apartado de mim, queria compreender minhas reticências profundas. E eu me apagava como um cérebro biônico, sem garantias de que uma recarga elétrica pudesse me fazer andar novamente. E eu tinha somente algumas certezas tristes. Nem essa mulher que penetrava em noites de lassidão, teria toda a força do meu gozo. Um macho condoído, sem asas e objetivos, desligado do mundo, suspenso, alheio ao incêndio global.

Alguma novidade?


Professores e pesquisa são problemas


da Folha de S.Paulo


O Brasil tem um dos mais acelerados processos de privatização do ensino superior do mundo e o resultado disso são instituições dos mais variados níveis. Alguns pontos ainda são deficientes em relação às universidades públicas."Os problemas são vários", afirma José Dias Sobrinho, pró-reitor de pós-graduação da Unicamp entre 1990 e 1994, especialista em educação.Dias Sobrinho aponta dois aspectos como os mais graves na qualidade do ensino no setor privado. Segundo ele, é dado baixo valor pelo Estado e pela sociedade à pesquisa, com poucos investimentos na área. "As particulares menores não têm interesse na pesquisa porque é cara e não traz lucro", afirma. A conseqüência disso é que o ensino se torna mais imediatista e não há produção de conhecimento.Outro aspecto complicado, ainda segundo ele, é que com o aumento da demanda por professores, "grande parte [dos contratados] não teve formação adequada para magistério superior".Um problema comum às públicas e privadas é a desqualificação da educação. "A formação básica dos estudantes não está em nível adequado", diz.

Ascensão Feminina: para pensar...


A eleição de Bachelet no Chile, a excelente representatividade política feminina na Argentina e a participação cada vez mais efetiva das mulheres em cargos públicos em diversas partes do mundo, pode ser um indício claro de que daqui a alguns anos haverá um equilíbrio de "gênero" tanto no parlamento como no poder executivo. Essa "novidade" é explicada, em parte, pelos estudiosos da cabala, que vêem a ascensão feminina como uma 'reorganização dos espaços públicos, políticos e místicos', denotando o fim de um ciclo de guerras, intolerâncias e ganância exacerbada exercida pelo poder masculino. Pensando dessa forma, oxalá que essa 'novidade' possa contribuir nas relações comerciais/culturais da América do Sul, situação esta bastante combalida nos últimos anos pela inépcia dos atuais dirigentes políticos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

O futuro das universidades brasileiras

Parece ser uma tendência na América Latina... a compra de universidades privadas falidas por grandes mercados educacionais, principalmente provenientes dos EUA. Com o sucateamento das universidades públicas, talvez num futuro não muito distante, estaremos sob o jugo dos "empresários da educação". Na Argentina e México, apenas para citar dois exemplos, já é possível vislumbrar aquele cenário tão comum nos filmes de Hollywood: um professor para cento e cinqüenta estudantes. Em outras palavras, a idéia de sala de aula vai se ressignificar. Serão seminários, aulas inaugurais, com poucas intervenções pedagógicas dos educadores e o distanciamento cada vez maior entre mestres e educandos. O embrutecimento das relações pedagógicas se instaura como algo naturalizado, típico do ideário burguês.

A reforma universitária no Brasil e a compra da universidade Anhembi Morumbi vem apenas reforçar um perigoso processo de inculcação de valores ideológicos, tendo como leitmotiv a lógica do empreendedorismo a toda prova. Educadores de todo o Brasil, uni-vos!

Como diria Raulzito...


Revista Caros Amigos, Edição 104

O dólar deles paga o nosso mingau


O grupo norte-americano Laureate Education Inc., que administra instituições de ensino superior e a distância nos Estados Unidos e em mais catorze países da Europa, Ásia e América Latina, anunciou no início de dezembro a compra de 51 por cento da universidade brasileira Anhembi Morumbi. A transação, de 69 milhões de dólares, transforma a instituição na primeira universidade do país com capital majoritário estrangeiro. A Anhembi Morumbi tem hoje 27.000 alunos distribuídos em quatro campi na cidade de São Paulo, e faturou 52,8 milhões de reais em 2004. Esse lucrativo aparato educacional agora está sob o comando da Laureate, que é administrada por um grupo de altos executivos, alguns com experiência na Nasa e em companhias energéticas, e também faturou um bocado em 2003: algo em torno de 470 milhões de dólares. Para Roberto Rodríguez Gómez, professor da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), que realizou um estudo sobre a atuação da Laureate no país – a empresa tem 80 por cento da Universidade do Vale do México (UVM) –, "ela está principalmente orientada à execução de lucros. Qualquer outro propósito depende desse primeiro objetivo". A Laureate começou suas atividades em 1979, com outro nome: Sylvan Education Solutions.
De 1999 até 2005, a expansão da Sylvan (cujo nome foi mudado para Laureate em 2004) foi rápida e enorme. 4.500 alunos no primeiro ano, hoje beira os 215.000. Para
Gómez, "os lucros das operações internacionais são direcionados à própria expansão da rede. Isso valoriza o empreendimento e aumenta as ações da empresa na Bolsa de Nova York. É uma valorização de ativos". Ao adquirir a UVM mexicana em 2000, a Laureate construiu seis campi em quatro anos. "A universidade comprada começa a crescer e adquirir pequenas faculdades pelo país. Aí, a lei tem de regular", explica Gómez. A maior motivação da Anhembi Morumbi para assinar a "parceria" com a Laureate foi encontrar uma alternativa à queda nos negócios da universidade. "A oferta de vagas está muito grande", diz Gabriel Mário Rodrigues, reitor da Anhembi Morumbi, mostrando um gráfico com a oscilação de seu negócio. "Já observamos aumento na procura para o vestibular após o anúncio da parceria", comemora. O reitor afirma que a qualidade do ensino não cairá com a massificação, e explica que se pode constatar a manutenção da qualidade pelo aumento no número de matrículas. O raciocínio segue a linha da lei da oferta e procura: se as pessoas se matriculam é porque a universidade é boa; se elas não demonstram interesse, o ensino é ruim. Para Jairo Jorge, secretário executivo do Ministério da Educação (MEC), a explicação é questionável. "Esse pessoal pensa a educação como se fosse padaria: o cara vai lá e compra o pãozinho. Se não gostou, no outro dia não compra mais", alfineta. "Os estudantes e a sociedade só vão perceber que aquela instituição não
tem qualidade muitos anos depois, quando o aluno já está avançado no curso ou quando se forma um péssimo profissional." A venda parcial da Anhembi mexe também em outro vespeiro: a cultura nacional. Segundo o reitor, uma das condições da "aliança" é a "preservação dos valores culturais e da cultura brasileira". Embora seja outra a experiência vivida no México.
"Não há nenhuma preocupação com a cultura do país, mas sim de implantar a cultura da globalização", conta Gómez. O secretário do MEC alerta que o ensino superior "deve estar vinculado a um projeto de nação baseado na identidade nacional e cultural". E prevê que muito em breve haverá uma batalha jurídica entre a Laureate/Anhembi e o MEC. Isso porque, segundo o projeto da Reforma Universitária que está para ser votado, a participação estrangeira na educação nacional ficará restrita ao máximo de 30 por cento. Já no entender da reitoria da Anhembi, o negócio não corre riscos e, desde que as coisas "sejam transparentes e os valores dos países respeitados, tanto faz quem é o dono". Mas, como esse parágrafo da reforma ainda nem foi votado, as cartas podem mudar. É nessa hora que o lobby surge. "Eu creio que com os deputados será feito lobby, aqui não fizeram porque não necessitaram, a lei os favorecia", avisa, do México, o professor Gómez. Na visão do secretário Jairo, o lobby do setor privado deve mesmo acontecer: "O que temos que fazer é evitar que isso ocorra nas catacumbas do Poder Legislativo".

Em homenagem às três poetas, que muito admiro. Do livro "A precariedade do(e) ser" (2005-200?)

é quando
cansado
e sem mais
crítica
recolho-me ao quarto
das tempestades.

lá o sono é
promessa.
e vestido de
quimera
triunfo sobre a morte.

as três poetas
ébrias
as quais me junto
sem descanso
sabem das coisas
que se sente.

e era
assim.
a velocidade
das coisas
num tempo
esquisito
sem flores e
encantos.

Do projeto literário "Com as duas patas no peito" (2004)

XVI

Com as duas patas no
Peito.
Já não há
Fôlego.

Todo dia é um
Arraste de pernas
Que pesam como
Vergalhões de
Trocentas
Toneladas.

Com as duas patas no peito,
Correr já
Não é necessário.

E só se via o vulto
Da mulher
Durante a noite
Embaçada.

Durante anos leste
Mais de quinhentos
Livros fantásticos
E pensaste
Que isto seria
Suficiente.

Agora,
Diante desta barbárie
De dentes e insígnias,
Exércitos comandam
Fronteiras
De frágeis continentes.

Tenho duas patas no peito.
Unhas e pêlos na face.
Arranhões que cortam
Meu corpo
De algumas décadas.

E o vaticínio dos papas
Ou dos profetas dos mass-media
Não garantem
Se vou comer amanhã.


Eu poderia,
Simplesmente
Mendigar nas auroras primaveris
E morrer à míngua
Como qualquer indigente
Desta pólis-ilha.

Combinando versos
Com adjetivações sublimes
E derivações rítmicas,
Não te levarão a nada.

Nesta selva pedregosa,
Tua mortalha
São as vestes da
Infinda batalha que
Travas com inimigos
E travestidos amigos.

E a nosofobia que
Te afeta no declínio
De cada restolho de sol,
Torna-se um jorro de
Clarividência contínua,
Como se tua carne
Fosse atravessada por lanças
Analgésicas.

Eu pediria aquele
Beijo sempre adiado,
A maçã meio mordida,
Mas com marcas
Pontiagudas de tuas presas
E resquícios de tua saliva morna.

Duas patas no peito.
Um adormecer
Em gélida noite de conflitos.
O que fazer?
Esquecer que existo?
Chutar a cara dos hipócritas?
Realizar o atentado do ano?
Puxar o tapete daquela autoridade
Empedernida?
Catarrar na catraca dos
Autocarros?

Amanhã,
Com que roupa eu vou
Para o velório das
Almas sonâmbulas?
Com que roupa eu vou
Para enfrentar as ruas
Da cidade?

O lusco-fusco do
Entardecer,
As pontes como
Metáforas,
Integração alquebrada
Pelas intenções canalhas
Do poder res publico.

Oh, coração inerte!
Por que agora recusa-te a
Bater, se neste
Flagelo já degelas
Minha frieza empertigada?
Por que não respondes
Aos eletrochoques
Da medicina convencional,
Que sempre nos ensinou a morrer
Resignados, tal como o Vaticano
Nos educou nos bancos escolares?

Oh, coração caduco!
Logo agora, que fiz a
Viagem invertida e fiz-me
Menino,
Trazendo à tona para os incautos bovinos
Os questionamentos essenciais
Desta experiência terrestre?

Duas patas no peito.
Unhas e Pêlos em minha face.
Teria dito “fechem as cortinas”,
Antes daquele golpe de misericórdia.

E, se porventura,
Pensares que este embate
Entre Eros e Tânatos
Já está por demais desfigurado, típico
Clichê shakesperiano,
Não esqueça deste tormento:
Vivemos o que é possível, diante
Da insuportável e constante proximidade
Do n(v)osso desaparecimento!

Do projeto literário "Das imperfeições" (1999)

Das Imperfeições


eu
precisava
chorar.

tu
precisavas
chorar.

tu
me consolavas,
menina.

eu
tinha
esse jeito
tosco
de quem
não gosta
de nada.

me
ensinaste
a
simplicidade.

eu
precisava
chorar.

[...]


sorriu
por ter lhe
confiado
meus escritos
do fundo
do poço.


e,
lembrei
de minha
mãe de
novo.

estas
festas de fim-de-ano
trazem à
tona
tanta coisa estranha...

[...]


este tom grave
de minhas palavras
deixaram
boquiabertas
as
meninas ingênuas.
e, retive, eventos
que me pareciam
estranhas
imagens.
desconhecia
minha serenidade
e a bondade.

passei estes anos
descobrindo
coisas perigosas...
perigosas demais
para quem
acredita
ter a chave
do universo.

ontem,
podia ter chovido.
hoje
também.

tenho dormido
tarde.
lido os livros
de caio fernando abreu
e escutado músicas
do sul.

a combinação literária
das raízes
com as músicas
nativas, remetem-me
ao ar
dos campos,
ao cheiro
de bosta
de cavalo,
ao meu avô ermelino.
sinto saudades
desta plenitude
da infância, que
já se desbotou
com o tempo.

perdi
minha pureza
e tenho medo
do que posso
me transformar.

é por
isso que converso
com o mano.
ele me diz que
faz o jogo
do sistema para poder
sobreviver.
e eu
também.

na verdade
queremos
sempre ter um
bom pretexto
para conversarmos
sobre
o
que nos incomoda.

o mano compra
muitos livros.
a estante
suporta
o universo literário
em que me
prendo
e ainda não compreendo.

antes,
imaginava
que a
literatura
era mera erudição,
apenas uma
maneira de
não ser
tapado.
pura
tolice.

e se escrevemos,
é porque
não temos
outra arma
senão a nossa
língua,
a palavra,
o verbo,
o falo...

falamos
de
nossas gurias
com aquele entusiasmo
de homens
que amam.
não é mero exercício
de virilidade.

[...]

sei
que temos e
teremos
a
habilidade
para nos
afastarmos
de pessoas
inconvenientes.

sempre
tem
aquele(a)
que te
aborrece com
memórias
de tempos
idos e (mal) vividos,
com o sorriso
da
maldade
no
canto dos
lábios.

prefiro ler
os livros
da estante.

acompanha-me
o chimarrão
nas horas
em que varo
a madrugada.
são nestes instantes
em que
mais crio.

vejo
fragmentos
de gente
nas ruas.
ninguém tem
prazer.
o corpo da menina
inda adolescente
é muito
jovem para
iscas sacanas.

por todos
os lados
os mais
imbecis
outdoors...
vendem tudo:
amor, sexo, violência,
informação, conhecimento,
políticos, sabonetes,
preservativos,
clínicas médicas,
etc. etc. etc.

“do que tens medo?” –
ela me pergunta.
“sou um bicho
esquisito” –
respondo.
e,
acaricio
as suas coxas,
e a flor
molhada orvalha
os meus dedos
saltitantes.

tenho medo
de muitas coisas.
mano me diz
que escrever
é um ato
de coragem.
só isso
é o bastante.

gosto
de tomar banho
antes de dormir.
é uma
sensação
de pureza
muito particular.

devo encerrar a
desdita
de minhas imperfeições
obscuras.
quero beijar
a
face
de meu único
amigo.
amigo que encontrou
o
caminho mais
nobre,
mas o mais tortuoso.

talvez, as víboras
avancem
para devorar
os últimos trocados.
são assim:
roem
as beiras,
os miolos do
pão, para depois,
se atrancarem
ao filé com
uma voracidade
devastadora (somente
vísceras saltadas
pelo chão).

sou tão
imperfeito
para compreender
o que
é essencial
em
tudo.

[...]

o blá-blá-blá
de
tantos eruditos,
quase me
enlouquece.
pensam
muito.

sentem
pouco.

e ela
me conta
que
a
carência faz coisas.
e eu sei
bem do
que ela
fala.
ano passado, nesta
mesma época,
estava em casa alheia,
sofrendo
em silêncio,
maldizendo
a minha
tão idiota
aventura.

ser imperfeito.
ser plural.
que agonia
carrego no peito?
nada mais te conforta (?)

recolhe esta
mágoa...
inda tenho
esperança (?)
não rias da minha
inocência...sou
como tu,
imperfeito feito aço e flor e espinho e cansaço.

Do projeto literário "Forma Crua e Poema pra quem tem verso" (1987-1997)

Desvelos


E, de repente, fiz-me dezenas de perguntas... os oráculos nesta hora se calaram, pois acreditavam no silêncio farsesco de suas sabedorias...

Que se ame sem perda integral... na mistura... nos moldes sem censura...onde a vida reluta em se fazer vida! Ora, que se ame! Mas, que o amor não seja breve, nem de um mais solene, nem de outro mais ardente, das beldades ou dos seres que só desejam, enfim, desfazer do amor o cume do labor sublime...
Que se ame nas paredes nuas... nos penteados de maciez soturna...nos enlaces práticos de se doar o corpo em troca da palavra certa e, por si só, explícita e sem dor. DOR que guilhotina, onde os falsos sentimentos encontram guarida, mas que desfalecem nos uivos dos ventos, como num balanço de crinas sangüinolentas...
Que se ame além das palavras... onde tudo é gesto...pantomima dos pleniamados...Que se ame além da porta, além do quarto, além do pranto...OH! Tantos questionamentos... E eu que não me vejo neste flagelo secreto, neste manto de crispar a carne, de mãos feridas pelas chagas, segurando minhas penas como pássaro ferido... e ainda não sei o que queres, apesar do olhar...
A coragem dos homens que não perdem um só momento, para responder a todos que estão doentes, que se vigiam e se destroem, descrentes na renovabilidade da paixão, fazem-me crer numa possibilidade remota, ainda que o tempo seja cruel... Não posso admitir a dor que não me pertence... engendrada na fonte de meus Ser...Não mais!
Este pranto que incrementa as ficções tão semelhantes àquela infância famigerada, destroçada de onirismos, recheada de crueldades avassaladoras, revelam-me as verdades que possuo... préstimos que relato na Arte e na busca do Amor...

Quando via o horizonte, pedindo a proteção dos deuses, uma lança atravessava meu peito... e aquela casa de degredos sussurrava breve e lenta, até que se martirizasse o canto. E o mar me inundava... o mar onduloso, contrastando com minha face angulosa e apaixonada...a voz mansa repousara, enfim...Ah! Eu que não tenho pai, nem mãe, vivendo no dorso dos corcéis alados, presenciando a chama de séculos... o coração quente a pulsar, pulsar, PULSAR!
Os enganos favoreciam os ocultamentos... longe da nudez e da inteireza...Os irmãos de sangue te olvidariam, porque serias feliz sem eles...os mesmos irmãos que vivem esta tragédia humana, sabedores da História assim como tu, inda sendo mais moço...

Quando a menina te ofertou os lábios quentes de uma lascívia imponderada, tua boca fremiu desculpas como alguém cativo em seu estertor... A perversão se agitava, embora não sentisse piedade dos outros e levasse teus sonhos em fantásticas alvuras... tua obra madura!
Desvencilho-me dos afagos sem carícia, dos que não me sentem... Que se ame até a última gota e, quando saciado, deixe o corpo flamejar, irromper as nuvens com a leveza postergada pelos anos, onde o sorriso delicioso possa originar um facho de luz rasgante, destruindo o ventre das estrelas... lá no céu.

(1994)

Do projeto literário "Forma Crua e Poema pra quem tem verso" (1987-1997)

VISIVELMENTE O MAR


Contra todos os povos,
contra o mar,
velejeiros novos,
restam-lhes apenas remar


Pobre poeta,
sonha com a liberdade,
o preço de tua moeda,
é apenas covarde.


Fonte de riquezas,
black-tie em festas,
esqueceste das profundezas,
do sábio fechar de arestas.


Visivelmente o mar
encobriu o teu olhar,
gostaria de enxergar
um novo jeito de amar.

(1987)

Do projeto literário "Relíquias da Memória e Flashes do Tempo" (1998)

Destino


Deixei
Meu
Coração
Num
Canto e
Pensei que
Ninguém
Tivesse
Visto...
O que
Atrasou,
Sem dúvida,
Minha dívida
Com o
Destino...!

Do projeto literário "Kiara e o Encontro dos Anjos" (2001)

Kiara


Tinha os olhos turvos de turmalina. O sorriso espontâneo lhe dava um ar juvenil, pleno de sonhos e aurora. O desenho de seu rosto lembrava as meninas azuis de meu tempo de escola. Acontece que Kiara teve de viajar para o (E)xterior. Foi estudar em Londres porque ganhou uma bolsa de estudos. Voltou diferente. Trouxe na bagagem a frieza londrina, um sorriso opaco e os olhos embaçados de neblina.
Kiara era assim mesmo. Resplandecia, mas também se suicidava em devaneios. Nunca soube de minhas doloridas cartas, correspondências que nunca enviei, com receio de suas tresloucadas atitudes. Kiara não podia ser molestada, principalmente por um principiante, um amador. Sua volúpia era, decididamente, um assombro de chama e suavidade. Kiara vivia no limite da ambigüidade. Nunca se entregara...
Naquele dia de contorno plúmbeo, de mil e tantas primaveras, tudo indicava pernoite e algaravia. Numa casa de praia, encolhido no chão da sala, sonhei com Kiara. Passeávamos pela areia com roupas claras e acetinadas. Colhíamos conchas e saudávamos o mar. Nesta dimensão, podia escolher as cores da minha aquarela... e, os olhos de Kiara eram muito verdes...olhos de turmalina. Chovia. Acordei ensopado de suor aziago. Tremi ao vê-la. Espionara-me a noite inteira. Os olhos claros faiscavam e os cabelos de girassóis ondulavam. Cerrei meus olhos por um tempo que não defino, vilipendiei minhas criaturas interiores e até zombei das auroras. Desprotegido e ancorado numa beatitude mística. Ela sorria do meu desespero. Mexia os cabelos numa coqueteria impagável. E não dizia nada. Lia meus pensamentos mais sórdidos e impublicáveis. E, assim, Kiara me possuiu, sem ao menos me tocar...

Kiara despediu-se numa tarde verde. Na bagagem de mão poucos objetos pessoais. Embarcaria, definitivamente, para o velho continente. O vento marítimo brincava com o caracol de seus cabelos. Kiara era assim mesmo. Resplandecia, mas se suicidava todos os dias. Enviei minhas correspondências do degredo durante cinco anos. Nunca obtive resposta. Teria lido as cartas do infortúnio? Teria se lamentado quando cortei meus pulsos com os cacos de vidro da janela? Acontece que Kiara voltou da Europa. Os olhos de turmalina se acinzentaram. Os cabelos de mil girassóis deram lugar a mechas azuladas. O sorriso era o mesmo. Mas, Kiara tinha vivência agora. Falava polilínguas, trajava roupas italianas. Kiara não era mais menina.

Além do bosque, havia a rua da infância. Brincávamos sempre de ‘jogo da verdade’. Eu amava uma menina de onze anos. Meus tolos amigos se mijavam de rir. Kiara nunca sorria. Abaixava os olhos e parecia brincar com os meus sentimentos. Cerrava os punhos, minha face ruborizava e me engalfinhava na calçada com os meus companheiros de bola. Mas, não sou mais criança. Kiara não pode mais rir de mim. As alegorias se foram. Embebedo-me todos os dias. Provei o gosto de todas as torturas agridoces.

Falava do sertão e dos seus esfomeados platinados. Kiara adentrou no ambiente iluminado por archotes. Sorriu como daquela vez. Estendeu-me as mãos vaporosas, tocou-me a fronte com seus lábios de veludo e convidou-me pra dançar.

domingo, 15 de janeiro de 2006

Do projeto literário inacabado "A derrota da Poesia"

ausência
de criação.
tenho apenas alguns
segundos
até a minha segunda morte.

as armaduras
não são mais necessárias.
que tipo de homem sou eu?

aquela mulher foi
o engano,
assim como todas as
outras.

não foi o mito
adâmico
que sacramentou toda
a humanidade!

o ensandecido sabe
muito bem
que o seu
estado de cura
é irreversível.

restou nada de si.
nem pólvora.
a loucura santa
foi a prova inconteste
de seu primeiro
e único martírio.
Nota: Este livro jamais será publicado. Foi abortado! Dificilmente será reaproveitado em outras publicações.

Do projeto literário "Suspenso e Alheio ou as minhas reticências sinceras".

"Penso nos loucos que morreram cedo. Narcotizados e solitários. Em dramas imprevisíveis. Penso nas coisas mais simples. Na arquitetura da urb caótica. Nos meus sonhos. Na minha alegria apagada. No fim dos dias. Na beleza de um sorriso. Na solução de todos os problemas sociais de meu país cada vez mais miserável. Penso, penso, penso... não chego a qualquer resposta razoável. Penso nos dramas de alcova. Na mulher que insiste em me amar, que me deseja e me diz querer proteger. Sei agora que os sinais são cada vez mais visíveis. E é de minha destruição prematura que ela me protege. E nego sua ajuda. E nego tudo e todos. Minha voz não se lança mais na atmosfera. O espaço de meu casulo doméstico me assusta. As lágrimas sulcam minhas órbitas vazias de sonho e amor. E penso nos loucos que se suicidaram. Que se narcotizaram e deram adeus a esta precária existência. E penso, penso, penso. O corpo pesado. A precária condição humana. As palavras insuficientes. Nada me salva! E uma mente vazia não poderá me sustentar por muito mais tempo".

Mais uma aurora

Os raios de sol que atravessam a janela do meu quarto prenunciam mais um dia quente de verão... os gritos das crianças do bairro me despertam. Os automóveis velozes e os roncos impertinentes dos motores. A face das mil auroras se confunde com o que se reflete na opacidade do espelho. E a mulher me dizia coisas boas... de que viver era imperativo... e de que nem todas as auroras eram iguais... algumas tinham gosto de sereno...

sábado, 14 de janeiro de 2006

Saramago e as eleições: mero exercício de futurologia

Na obra Ensaio sobre a lucidez, o escritor português José Saramago relata ao longo de três centenas de páginas uma tragédia nacional, ou seja, o fato de que o país não conseguiu eleger a sua representação executiva porque o número de votos em branco foi superior ao número de votos válidos. Vale lembrar que no dia das eleições chovia aos cântaros e a maioria da população parecia não estar muito preocupada com o teatro da democracia representativa.

**********

Brasil, outubro de 2006. Agremiações partidárias, majoritariamente conservadoras, disputam o pleito do Executivo nacional. Lembrei-me da obra de Saramago ao me dirigir para a zona eleitoral, um tanto apreensivo e até com certa expectativa de que ficção e realidade pudessem se materializar diante de meus olhos. No final da apuração, o número de votos em branco somado aos votos nulos ultrapassou 70% dos chamados votos válidos. A mídia incomodada noticiava a apuração num misto de vergonha e assombro. Seriam convocadas novas eleições... e a chuva forte daquela manhã de domingo nada mais era do que as lágrimas copiosas daqueles que, pelo menos hoje, poderiam celebrar o seu ato de desobediência civil.

Liturgia dos dias

Na liturgia dos dias, jornais anunciam pandemias e incompetências governamentais. O 'senhor da guerra' é velado até que se defina o próximo carrasco das 'mil mortes'. Jovens estrangeiros são perseguidos/discriminados no velho continente; e um brasileiro, covardemente, espancado no réveillon, na terra dos cangurus...A aura nazi-fascista toma conta de várias regiões da Europa e também do continente americano. A criminalização dos movimentos sociais se torna o dispositivo essencial de todas as práticas políticas atuais. A situação é de vigília...

Do projeto literário "A precariedade do(e) ser" (2005-200?)




precários somos
e precários
morreremos

porque ainda
não aprendemos
o que é singular

construímos
todas as
guerras

elegemos os infortúnios
como nossos
guias

mas,
no serpentear
dos dias
pouco restou ao marujo...

e aprendo
com o poeta
como a pesca pode
ser previdente

somente os
que se comprazem
com desejos
tolos
não entendem
que a vida
é fronteira do que
não se sabe.

Palavras ao vento...


Hoje (14/01/06), inauguro esse espaço de discussão poética, política, visual...do sujeito alheio e suspenso que muitas vezes sou...até à raiz de minhas reticências sinceras. Em breve, fragmentos de minha nova obra "A precariedade do(de) Ser". Ébrios, músicos e poetas...fiquem à vontade para postarem o que é significativo para vcs. Abraços, Clio Insone.