domingo, 12 de julho de 2015

SOBRE O ASSÉDIO IDEOLÓGICO




Como enquadrar no âmbito das escolas públicas, especialmente, os professores que defendem determinadas posturas políticas e ideológicas e, assim, condená-los como criminosos? Afinal, as escolas ou todos os territórios educativos de maneira geral não são espaços de embates entre diferentes concepções de mundo e de sociedade? Cercear a liberdade de pensamento não é uma forma grotesca e retrógrada de limitar os processos formativos na Educação Básica, desvirtuando a franca expressão num mundo diverso e pontuado por disputas hegemônicas?

Pois bem, o deputado federal Rogério Marinho (PSDB/RN), por meio do Projeto de Lei 1411/2015, acredita que é possível combater toda forma de doutrinação ideológica nas escolas (leia-se educadores comprometidos com um ideário de mundo diferente dos neoliberais). Causa espécie o aumento de grupos vinculados ao meio empresarial, incluindo as escolas privadas, que querem retirar dos currículos escolares os pensadores marxistas. Não por acaso, o educador José Paulo Netto afirma com propriedade que a teoria social de Marx, por vincular-se a um projeto revolucionário, fez com que milhares de homens e mulheres no século 20, cientistas sociais ou não, fossem perseguidos, presos, torturados, desterrados e até mesmo assassinados por serem marxistas. Nenhum adepto de Weber ou Durkheim, contemporâneos de Marx, teve, em contrapartida, seus direitos políticos violados.

Tais referências ideopolíticas anteriormente citadas dão bem a medida do que representa este PL num contexto histórico marcado pelo discurso do ódio, pela intolerância e por todas as formas de ataques sistemáticos aos que não se ‘enquadram’ numa lógica sexista, homofóbica, racista e fanática. É necessário ler nas entrelinhas o que representa este PL, pois sua formulação sim é ideológica e doutrinária, pois procura repulsar as falas discordantes, estabelecendo critérios formativos isentos de uma formulação societária, como se isso fosse possível numa instituição de ensino pública.

Logo, as principais pautas no Congresso Nacional estão sendo discutidas por frações de classe vinculadas a um triste e permanente passado histórico, assentado no clientelismo, patrimonialismo e troca de favores. Há um recuo nefasto da teoria e da política, que respinga, sobretudo, nas comissões de educação do Senado e da Câmara dos Deputados, tendo à testa uma linha de frente conservadora sem precedentes!