sexta-feira, 8 de julho de 2016

ESPAÇOS DE ESPERANÇA EM TEMPOS DE ÓDIO!

Créditos da foto: Flavio Tim/ND
No dia 19 de abril de 2016 lancei o livro "Construir espaços coletivos de esperança em tempos de discurso de ódio" (Editora Insular) no Bar e Restaurante Mesinha, bairro Córrego Grande. A obra discorre sobre os últimos acontecimentos políticos ocorridos no Brasil, a partir de textos opinativos e breves resenhas, publicadas especialmente no jornal Notícias do Dia. O prefácio ficou ao encargo da jornalista Dariene Pasternak.

A obra pode ser adquirida com o autor ou pelo sítio da Editora Insular (http://www.insular.com.br/loja3/product_info.php/products_id/995). Também está disponível na Livraria Livros & Livros, localizada no Centro de Eventos da UFSC.

CRÍTICA AOS INTÉRPRETES DO BRASIL

   O sociólogo Jessé Souza (1960-) na obra A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite, tem como tese central a crítica contundente aos defensores do economicismo e do culturalismo conservador. Para tal empreendimento analítico, Souza afiança de que a gênese de determinadas ideias dominantes que circulam pelos meios acadêmicos e pelo imaginário popular, vão se institucionalizando e tornando-se ciências da ordem. Nesta direção, o sociólogo não poupa de severas críticas autores como Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Raymundo Faoro, conhecidos como intérpretes do Brasil. Souza é taxativo ao afirmar que Buarque de Holanda em sua obra Raízes do Brasil na década de 1930, ao construir uma visão liberal conservadora da sociedade brasileira – a partir de aporte teórico weberiano transplantado de forma descontextualizada – acabou por reforçar o entendimento da manutenção/permanência da desigualdade e da injustiça social em território nacional.
   A tese do patrimonialismo, defendida tanto por Buarque de Holanda quanto por Raymundo Faoro, segundo Souza, é insuficiente para entender as relações concupiscentes que ocorrem entre Estado e mercado. Afinal, quando existe corrupção no Estado há também corruptores no mercado.  Além disso, a ênfase de Faoro, por exemplo, de que Portugal exercia uma dominação à distância no Brasil, então a sua colônia, é compreendida por Souza como uma quimera ou uma ficção histórica. Portugal no século 16, um pequeno país e pouco populoso, delegou deliberadamente a terceiros a colonização das novas terras como imperativo de continuidade de seu domínio territorial, genealogia, portanto, dos grandes latifúndios e concentração de renda e poder. O sociólogo também destila críticas ao antropólogo Roberto DaMatta, que estaria vinculado a um espontaneísmo teórico ou, grosso modo, a uma reprodução do senso comum,  produzindo mais estereótipos do que, propriamente, uma gramática social profunda da realidade concreta brasileira.
   Por outro lado, Souza denota respeito intelectual ao sociólogo Florestan Fernandes, que teria compreendido com notável acuidade as dificuldades de adaptação e de marginalização dos negros após a abolição da escravidão na segunda metade do século 19, a partir de uma nova ordem social e econômica competitiva. Traz à baila ainda as contribuições teóricas do sociólogo francês, Pierre Bourdieu, especialmente no que se refere ao conceito de ideologia meritocrática que, num país periférico do capital como o Brasil, oculta sistematicamente a produção social dos desempenhos diferenciais entre os indivíduos, tornando possível que o desempenho diferencial apareça como diferença de talentos inatos.
Jessé Souza, por fim, considera que o inimigo comum a ser enfrentado é a tendência racionalista e intelectualista muito dominante até os dias de hoje na Filosofia e nas Ciências Sociais, ou especialmente no senso comum, cartesianamente anacrônica em relação à vida prática e cotidiana. Há, assim, outras análises subjacentes na obra de Souza que não foram aqui mencionadas e que cabe ao/à leitor/a interessado/a desvendá-las, como as que dizem repeito à hierarquização e institucionalização de práticas morais, assim como a eficácia do poder disciplinar, acalcanhada numa concepção foucaultiana.
   Acima de tudo, Souza procura acender um debate para a reconstrução da teoria social crítica, tanto no centro quanto na periferia dos países capitalistas. Na parte final de sua obra, retoma assuntos da pauta cotidiana no Brasil, ponderando que a corrupção no país é seletiva e arbitrária e de que o moralismo da classe média sempre unificou, historicamente, o desprezo pela política em geral e a busca por uma virtude ideal. Viveríamos, assim, numa pseudo-democracia tutelada, vulnerável a golpes brancos e argumentos pseudo-jurídicos, além da instrumentalização da mídia. De fato, provocações e questões que estão na ordem do dia!

PARA SABER MAIS:

SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São Paulo: Leya, 2015. 272 p.