sexta-feira, 22 de abril de 2011

O LÍDER


Quais serão os sonhos do líder? Tem a pretensão do messias?
 
O líder pode ser econômico com as palavras ou dizer palavras ininteligíveis para os padrões semânticos do povo; ou ainda exagerar no palavrório populacho, ganhando aplausos de boteco e afetos verdadeiramente intuitivos.

Quem é o líder em sua intimidade conjugal? Um desesperado? Alguém sem interlocução ou um desfraldado otimista? 

O líder se depara com o rosto refletido no espelho e ali já não vê um homem: é um espectro enfeitiçado pela indolente sabedoria dos vencidos. Até amanhã não se sabe o quanto de poder terá para conduzir destinos e confessa ter medo de ser brutalmente esquecido...

METRÓPOLE III


Reconheço este lugar. A viagem ao centro da turba. O que me alimenta nesta megalópole são os seus sins e nãos desencontrados; a chuva no fim do dia e o caos urbano de máquinas automotoras. É este sangue plangente na esquina e os mornos assoalhos das catedrais obscuras; é este nunca adormecer e este nunca acordar. Faz estripulias agora, logo quando o relógio sineteia o meio do dia... o meio da tarde.

Você que não me deixa gritar, pois absurdo seria num lamaçal de urbanidade polifônica. Só atino a labareda quando por fim adentro o café costumeiro, com suas mesas elevadas e a gentil atendente do sotaque indescritível. E a maior ameaça é não encontrar mais o estrondo dos passos vários desta gente sem raiz e sem propósito. E a última palavra é a que mais dói no sopro do fim do dia.