quarta-feira, 21 de junho de 2006

Enquantos milhões de brasileiros passam fome...


Número de milionários no Brasil chega a 109 mil

CASSIANO GOBBET, da BBC Brasil

Um estudo da Merrill Lynch publicado nesta terça-feira mostra que número de pessoas no Brasil com mais de US$ 1 milhão (R$ 2,12 milhões) chegou a 109 mil em 2005. O número de milionários no Brasil em 2005 aumentou em 11,3%, comparado a 2004. Segundo o 10º Relatório sobre a Riqueza Global, o número de investidores que têm mais de US$ 1 milhão passou de 98 mil para 109 mil no período.O Brasil está entre os países onde o grupo de pessoas com mais de US$ 1 milhão além de suas residências mais cresceu. Coréia do Sul (21,3%), Índia (19,3%) e Rússia (17,4%) foram os países que tiveram os maiores índices.
No mundo todo, a quantia de dinheiro em poder das pessoas dessa faixa atingiu os US$ 33,3 trilhões (R$ 70,7 trilhões de reais), num acréscimo de 8,5% em relação ao ano anterior. Os Estados Unidos seguem como o país com a maior quantidade de milionários e também com o maior volume de dinheiro acumulado por essas pessoas. Contudo, pela primeira vez os EUA não conseguiram superar o crescimento do ano anterior, crescendo 6,8% em comparação aos 9,9% de 2003. O estudo também mostra que os patrimônios de ricos de continentes diferentes têm origens diversas.
Na Europa e na América Latina, o maior volume de recursos está alocado na propriedade de negócios ou no dinheiro vindo da venda de companhias, enquanto nos Estados Unidos, a maior parte do montante vem de renda.

terça-feira, 20 de junho de 2006

Tempos de Circo...

A mistura de Copa do Mundo e eleições, além da conhecida falta de prioridade à educação, está colocando em risco a aprovação de uma medida (Fundeb) que vai transferir, em quatro anos, R$ 4 bilhões de verbas federais para o ensino básico. Pode não ser muito, mas é o que se conseguiu depois de demoradas negociações. O pior nem é isso.O pior é que está para expirar a validade do sistema de financiamento do ensino fundamental (Fundef), e, se o novo mecanismo não for aprovado, entraremos num buraco jurídico, no qual quem será dragado é o ensino. Há meses está se alertando para esse risco (inclusive neste espaço) e pouco, ou quase nada, tem se avançado, apesar da gravidade do assunto. Dizem até que o tema não anda por questões eleitoreiras: não gostariam de dar essa conquista para Lula.O fato, porém, é o seguinte: o Congresso está montando uma armadilha para o país numa questão tão estratégica como educação. É necessário, portanto, que os políticos pensem um pouco menos em futebol e em eleições para evitar essa armadilha.


Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Sobre o Poder, por Jéferson Dantas

Na sanha pelo poder muitos homens tombarão, tomados de vaidade e arroubos juvenis, como se tivessem a solução para tudo e para todos! No entanto, no terceiro milênio que se descortina, assistimos apenas um tipo de liderança: o arrivista! O arrivista não tem sentimentos e nem se importa em ser dúbio ou ambíguo. Age por uma determinação calculada, cercada de 'marketing', maquiagem pesada e apoio de sanguessugas de plantão.
O poder público se transformou no espaço eterno do privado. Pelas paredes do Congresso Nacional, com seus corredores que mais parecem labirintos, só restou o teatro de homens e mulheres absurdamente despudorados. Não há ética! Só a sanha do poder! Só o desejo de esmagar/desqualificar o divergente. Numa democracia jovem como a nossa, não é de se espantar que os arrivistas arreganhem os dentes para os ingênuos do mundo apodrecido da res-publica.
Após leitura de "O dia em que Getúlio matou Allende", do jornalista Flávio Tavares.

terça-feira, 6 de junho de 2006

Do projeto literário "Verdes idades para serem ditas"

2

na manhã de
chuva
as leituras que faço
são tensas
confidenciais.


o café quente
preparado no acordo
das horas
reluz na
fina têmpera do
quarto de estudos.

preparo-me
para o exercício do tempo
e penso na mulher
que amo.

fico feliz
com as gotas
da chuva...
com
as minhas escolhas.


e quando
o domingo se finda
acenando para
mais uma semana
nem o coração
entende
o porquê de tanta
leveza
em tempos de
neve nos
semblantes alheios.

PEDAGOGIA WALDORF



Diário da Tarde, 06/06/2006 - Belo Horizonte MG

à esquerda, Rudolf Steiner






Felizes na escola

por Helena Trevisan


Nossa filha mais velha já morava em Barcelona há um ano quando fomos visitá-la com seus dois irmãos. Na ocasião, o caçula tinha seis anos de idade e ainda não estava alfabetizado. Esse detalhe é muito importante para o que eu vou contar em seguida, pois se tornou o motivo pelo qual acabei escrevendo um livro tempos depois. Aconteceu que em Barcelona fomos visitar a Casa Juan Miró, um acervo das obras do grande pintor catalão. Uma das salas do museu intitulava-se Constelación. Ali, nos sentamos diante de uma tela por alguns instantes. E então, meio provocativa, perguntei ao pequeno: Victor, o que você está vendo? Uma constelação , respondeu ele, candidamente, para o meu mais total espanto.

Se tivessem feito essa pergunta a mim, com toda a minha capacidade intelectual devidamente amadurecida, essa resposta seria mais do que esperada. Além do fato, é claro, de eu ter lido a palavra constelación escrita no pórtico de entrada da sala. Mas, em se tratando de uma criança não alfabetizada, o que isso revelaria? Anos depois, a lembrança desse fato me trouxe uma súbita clareza no entendimento do que preconiza a pedagogia Waldorf,metodologia empregada na escola em que o Victor estuda até hoje. Criada em plena desolação do pós-guerra, em 1919, em Stuttgard, Alemanha, por um visionário chamado Rudof Steiner, a pedagogia foi aplicada pela primeira vez numa escola fundada para os filhos dos empregados da fábrica de cigarros Waldorf-Astória, daí o seu nome. A pedagogia leva em conta temas tão atuais, como preservação do meio ambiente, justiça social, formação ética, inteligência emocional, que é fácil esquecer que ela já tem quase um século de existência.

Na prática, ela prega que a transmissão do conhecimento deve acompanhar numa obediência rigorosa e solene, o desenvolvimento do aluno. Isso quer dizer que se deve respeitar o momento certo para se ensinar determinado conteúdo, e esse momento é quando o aluno experimenta no seu íntimo uma experiência semelhante. A prova do vestibular que assombra nossos jovens cada vez mais precocemente, cai como uma bomba em plena flor da idade, aquela etapa da vida em que tudo é só promessa, e quase nada realização, pois estamos tratando de futuro. São raros os casos em que, aos 17 ou 18 anos, umacriatura possa garantir que a carreira escolhida será de fato aquela para todo o sempre, pelo simples motivo de que não houve ainda existência suficiente para tamanha certeza. Podemos dizer que uma escola Waldorf não prepara os jovens para o vestibular. Prepara para a vida, da qual o vestibular é apenas uma parte e um treino, basta se dedicar a esse fim específico e tudo se resolverá, com maior ou menor brilho.

Quando nosso filho foi capaz de captar o que Miró expressou em pinceladas, compreendi que, mesmo sem conhecer letras, sem saber fazer contas, ele entendeu. E seu entendimento foi muito mais espontâneo e verdadeiro do que o meu, sua mãe letrada e com diploma universitário. A pedagogia Waldorf se propõe a formar homens livres. Isso dá sem subterfúgios ao se expressar pela arte, através das emoções. O que se aprende com a alma, jamais sai da cabeça e se manifesta nos gestos naturalmente. Se todas as metodologias de ensino se propusessem a ouvir o que os alunos dizem sem palavras, haveria mais estudantes felizes nas escolas.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Do projeto literário "verdes idades para serem ditas"

5


que a música
venha
como melodia
andadeira
derradeira
ou primeira
nunca fim
milonga
polca
valsa
ou samba!




que a música
venha e
derrame-se
como bálsamo
em tardes
e noites
de chegadas
e partidas
vínculos
do tempo
sonhos
de primavera
ou
hinos
de levante!

Para entender a greve do Magistério em Santa Catarina




Por Jéferson Dantas

A greve do magistério estadual ultrapassou trinta dias, numa demonstração de incapacidade das políticas públicas em negociar com a categoria docente, além de a educação continuar não sendo a ‘prioridade das prioridades’, como bem ressalta o educador Dermeval Saviani. Historicamente, nos últimos 25 anos em Santa Catarina, entre o fim da Ditadura Militar (1964-1985) e os ares da “Nova República”, temos no Estado, essencialmente, duas legendas partidárias que se digladiam na esfera do privado, nas contendas miúdas, típicas das oligarquias coloniais. O partido que representa o atual governo do Estado tem em seu histórico a sanha da perseguição, da desqualificação e da intriga. Como esquecermos a violência física contra os educadores em 1987 e a demissão sumária de 17 mil educadores em plena democracia?

Entender a greve do magistério pela lógica estatal implica, justamente, nas opções claras que o Estado faz. Afinal, como admitir que Santa Catarina pague o terceiro pior piso salarial em nível nacional? Como admitir a política dos “penduricalhos” através de abonos não incorporados ao salário? Toda vez que o discurso estatal revela que o processo educacional onera os cofres públicos devido ao impacto orçamentário, mais certeza temos de que a educação não se qualifica como prioridade em Santa Catarina e muito menos como investimento. Gerações de catarinenses que não podem pagar a educação privada estão cada vez mais se apropriando menos do conhecimento científico produzido pela humanidade, num empobrecimento formacional que grassa toda a Educação Básica. E isso pais e estudantes sabem muito bem.

E, para finalizar, não fica bem para o aparato estatal desqualificar o magistério através das mídias impressa e eletrônica, com adjetivos impróprios, como se os representantes da res-publica não tivessem nada a ver com isso. Se os legisladores catarinenses fossem avaliados com a agudeza que merecem pela sociedade civil, dificilmente, seriam aprovados para uma nova legislatura. Algo a se pensar em tempos de renovação nos Congressos Estadual e Nacional.