O educador Paulo Freire
certa vez expressou que as professoras e os professores no Brasil estariam
feridos como seres de compromisso, tendo em vista que suas identidades
profissionais reiteradamente são desqualificadas pelas políticas públicas
educacionais vigentes. O desmonte dos serviços públicos de maneira geral, onde
o campo educacional se insere, por meio de políticas privatizantes e assentadas
numa racionalidade empresarial, também compõem este triste cenário aonde a
ideia de ‘público’ vai se tornando mera miragem.
Quando apresentadores
de tevê muito bem remunerados são contratados por universidades privadas para
serem garotos-propaganda na oferta de cursos em nível de licenciatura, as
chamadas publicitárias nos outdoors
destacam que tais cursos podem representar um ‘bom complemento de renda’, como
se o fato de ser professora ou professor no Brasil fosse apenas um bico. De fato, trata-se da uberização do magistério, onde o
indivíduo e os seus esforços contínuos são mais importantes do que a sociedade
e o bem comum. Direitos garantidos colocados em xeque, reforma da previdência
em curso e o avanço de movimentos ultraconservadores que querem ‘enquadrar’
professores por supostos crimes de assédio ideológico, também são aspectos
importantes se quisermos analisar os efeitos da desistência sistemática de
jovens professores na Educação Básica. Além disso, há a permanência nefasta da
dualidade estrutural educacional em nosso país, que possibilita conhecimentos
sistematizados para os filhos (ou herdeiros) das classes proprietárias e o
acolhimento social (com rudimentos de leitura e escrita) para crianças e jovens
da classe trabalhadora.
Professoras e
professores deveriam ser bem valorizados e respeitados como princípio ético de
uma nação, pois seus ensinamentos reverberam nas futuras gerações. Todavia, com
a profunda desqualificação, desprofissionalização e desintelectualização dos profissionais
do magistério pelo Estado neoliberal, toda sorte de violência física e
simbólica acabam ganhando os territórios escolarizados, desmotivando os jovens
professores ingressantes e embrutecendo os professores em carreira que
necessitam se desdobrar em cargas horárias elevadas de trabalho para receberem
um salário aquém do digno. As reformas verticalizadas na Educação Básica, especialmente
no Ensino Médio, e todas as decisões que implicam diretamente em práticas
políticas e pedagógicas, já não são mais amplamente discutidas/debatidas com os
professores por este modelo de Estado. Cuidar dos professores é cuidar de
processos formativos consistentes. Cuidar dos professores é reconhecer, acima
de tudo, que estes trabalhadores têm uma importância estratégica para que a
formação humana se constitua, efetivamente, de maneira integral, sob os
aspectos éticos, estéticos, políticos e culturais. Os professores deste país
(tão árido e desesperançoso, ultimamente) clamam por valorização profissional e
respeito da sociedade, que não raramente também destrata estes trabalhadores.