O ano de 2016 inaugurou o
final de um ciclo histórico, iniciado após o término da Ditadura Civil-Militar
(1964-1985), onde as demandas democratizadoras demarcaram, sobremaneira, a vida
social, cultural e política do país, tendo como baliza institucional a
promulgação da Carta Constitucional de 1988. De lá para cá tivemos mudanças
profundas na forma de o Estado gerir a economia, ou seja, uma reforma de Estado
identificada com o modelo neoliberal e ajustes estruturais que minaram – e vem
minando a classe trabalhadora.
Segundo o sociólogo Jessé
Souza, vivemos atualmente numa pseudodemocracia tutelada, suscetível a golpes brancos e num clima de
insegurança jurídica que põe em risco garantias constitucionais consagradas. De fato, o governo federal que aí
está e em consonância como Congresso Nacional (um dos mais conservadores desde
a Ditadura Civil-Militar), têm promovido toda sorte de ações e medidas
legislativas em benefício próprio e que põem em xeque o futuro do país,
contribuindo para um clima de animosidade política em que, não raramente,
refletem-se na sociedade por meio do discurso do ódio, onde a desesperança e a
descrença se tornam quase que generalizadas diante da democracia liberal
representativa.
O ciclo histórico que ora se
encerra denota, claramente, que as forças políticas partidárias
ultraconservadoras combinadas com o capital nacional/internacional, já estavam
insatisfeitas com a aliança de classes do PT, que ao realizar o apaziguamento
dos movimentos sociais e de sua militância, subestimou a sanha das elites
econômicas e as velhas oligarquias regionais.
Despedimo-nos de 2016 com um
gosto amargo na boca. Resta-nos compreender, conjunturalmente, que um novo ciclo
se inicia no Brasil, onde o chamado Estado
de Direito vem se desconfigurando cada vez mais, exigindo dos trabalhadores
e trabalhadoras estratégias de luta que não firam os seus já tão fragilizados
direitos. Para muitos, 2016 continuará ecoando como um tormentoso ano sem fim.
Será necessário reaprender o que levou este país a lutar contra um Estado de
exceção e de como o respeito e o cuidado mútuos podem transcender sexismos,
intolerâncias religiosas, homofobias, feminicídios, racismos e toda forma de violência
contra a espécie humana.