sexta-feira, 27 de junho de 2008

O Mercado da Educação





Por Jéferson Dantas

Em pelo menos duas oportunidades no periódico A Notícia de Joiniville/SC, o presidente das escolas privadas, seção Santa Catarina, defendeu energicamente a contrariedade às cotas nas universidades públicas. Não é de se surpreender, afinal, as escolas privadas e, principalmente, o mercado dos cursos pré-vestibulares, lidam com a lógica da seletividade e da meritocracia. Nesta direção, crianças e jovens provenientes das escolas públicas e, fundamentalmente, a juventude afrodescendente tem menos chances de ingressar numa universidade gratuita.

O espírito republicano nacional só passou a se preocupar com a ‘educação para todos’ muito recentemente. Mesmo os ‘escolanovistas’ na década de 1930, que exigiam a ‘igualdade das oportunidades’ sabiam dos limites e as contradições de um país essencialmente agrário e mais preocupado com a educação das elites rurais. Como bem assinala o sociólogo francês François Dübet, as mesmas oportunidades na ‘entrada’ (ingresso na educação básica) não correspondem a uma trajetória escolar sem percalços na ‘saída’. Em outras palavras, os arbitrários culturais presentes na sociedade e no território escolar, além de selecionarem, reforçam exclusões ou sanções sumárias que podem levar à evasão. A expressão utilizada por Dubet para aqueles que conseguem chegar ao ensino superior não poderia ser mais enfática: os/as ‘sobreviventes’ da Educação Básica.


O mercado da educação precisa justificar sua racionalidade numa sociedade pautada na competição e seletividade cada vez mais intensa. O darwinismo social se perpetua na trajetória escolar; nas escolhas profissionais; num modus vivendi associado ao arrivismo e à capacidade elevada de consumo. Se tais aspectos não são suficientemente elementares para se compreender as opções e lutas de classes e os mecanismos de controle estatal que promovem a mediocridade na Educação Básica pública, então dificilmente poderemos defender ‘igualdade de condições’ num país que oferece escolaridade desigual.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Diretores no parque de diversões





Por Jéferson Dantas


Seria trágico, se não fosse obsceno. Mil e quinhentos diretores das escolas públicas estaduais de Santa Catarina foram convocados para um encontro nos dias 5 e 6 de junho no município de Penha, onde está instalado o parque de diversões do Beto Carrero World. Deve-se levar em conta que na ‘convocação’ dos diretores não havia qualquer pauta. Muito estranho, já que se tratava de formação continuada dos ‘gestores’ educacionais.

Além disso, alguns elementos obscuros se imiscuem nesta pretensa formação: o ano eleitoral municipal. Não é segredo para ninguém que os diretores indicados pelo governador (cargos de confiança) são instrumentos fundamentais em épocas de eleição, já que são cabos eleitorais fervorosos. Tendo este triste panorama como tela, podemos inferir o quanto o processo de politização e democratização nas escolas públicas estaduais catarinenses está tangido pela prática das ameaças; a discussão permanente do currículo escolar em vigor e, sobretudo, a aposta qualificada na formação contínua dos educadores/as tem ido para as calendas gregas. Aliás, pelo calendário oficial da Secretaria de Estado da Educação, os dias de formação continuada foram arbitrariamente determinados em toda a rede pública estadual; todavia, não houve qualquer investimento ou ajuda de custo para que as escolas e centros de educação infantil pudessem articular a vinda de palestrantes ou oficineiros em tais dias determinados (alguns dias de formação acontecerão no recesso escolar). Soma-se a isto o fato da formação continuada não ser contabilizada como ‘dia letivo’ numa leitura enviesada da LDBEN 9.394/1996 pelos técnicos educacionais.

Enquanto os diretores das unidades de ensino estaduais se divertiam na montanha-russa (encarada como atividade cultural), outros diretores se dividiam em palestras (esvaziadas) que, provavelmente, pouco acrescentarão na mudança das práticas pedagógicas e na forma de se gerir a ‘coisa pública’. Não há como escamotear a intencionalidade de propaganda política neste evento. Diretores ganharam agasalhos e kits de apoio pedagógico. Seria uma estratégia de ‘massagear’ o ego destes profissionais? Tal panorama nos convida para uma reflexão aguda sobre o que a sociedade catarinense precisa reivindicar por uma educação, efetivamente, de qualidade, compromisso social e eticidade.