sábado, 30 de dezembro de 2017

UM MUNDO ALÉM DA APARÊNCIA

O direito social à informação deveria conjeturar, necessariamente, direito ao contraditório. Em outras palavras, acesso a variadas fontes de informação possibilitam aos leitores compreenderem determinados fenômenos históricos além da aparência e das simplificações condizentes com estes tempos em que a opinião descontextualizada vale mais do que a investigação e o estudo sistemático. Por princípio ético, sujeitos e setores da sociedade civil em suas mais diversas atuações, deveriam ter as mesmas condições de construções discursivas sobre determinado aspecto da vida pública. Tal seletividade informativa e nas mãos de grandes agências internacionais, modelam e orientam consensos ativos, reproduzidos ad nauseam pelas mídias dos países periféricos do capital.

Além disso, cabe destacar, que os desengajamentos empíricos coletivos são construções históricas, daí a evidenciação de um consenso formulado pela lógica do capital de que a ‘cultura da individuação’ e do ‘empreender-se a si mesmo’ são valores a serem perseguidos, ainda que nem todos possam empreender e agregar capitais simbólicos/culturais à sua formação profissional. A falácia reiterativa de que não há empregabilidade para todos, reforçam a positividade da argumentação de que toda e qualquer crise cíclica do capital pressupõe projetar e condicionar novas e perversas formas de expropriação da força de trabalho. Os diários noticiosos ao expressarem que a economia brasileira tem se recuperado, paulatinamente, ocultam, ao mesmo tempo, que tal aquecimento econômico se deve a elevadas taxas estruturais de desemprego e contratos de trabalho mais flexíveis, elevando as taxas de lucro. As contradições entre capital e trabalho são invisibilizadas, propositadamente.


Como bem afirma o jornalista Francisco Karam, “falar em direito, em moral e em ética não é, portanto, somente nos rendermos às evidências do que já existe, às evidências dos limites da prática social e da prática jornalística. Implica, ao contrário, a potencialidade de intervir no futuro social da humanidade”. E isso só será possível, do ponto de vista do direito social à informação, quando revertermos práticas discursivas que submetem imensa parcela da população mundial à alienação, ao consenso ativo e à negação ao direito primordial da informação sem o carimbo tácito dos monopólios midiáticos. 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Você ainda acredita em eleições?

O cenário de disputa eleitoral que se descortina no ano que vem além de não trazer novidades que tensionem os grandes temas nacionais, expressa um panorama em que as alianças partidárias (indiferenciadas em suas bases programáticas) continuam a perpetuar o velho e conhecido fisiologismo político. As contrarreformas trabalhista e previdenciária foram o mantra deste governo, que só não definhou inteiramente porque o toma lá da cá de cargos e mata-bichos lhe deram a sustentação necessária para que os ataques sistemáticos à classe trabalhadora ganhassem terreno. O apoio do setor industrial tem sido exemplar também neste quesito.
Não são os políticos profissionais que se locupletam com vantagens pecuniárias e os deleites da promíscua relação entre o público e o privado que têm determinado as diretrizes governamentais. Se tivermos a compreensão de que a definição de Estado ampliado se traduz no âmbito da sociedade política e civil, identificaremos que é justamente na sociedade civil que temos os estratos de classe posicionados, estrategicamente, operacionalizando as políticas públicas em vigor. A disputa hegemônica e, por conseguinte, as forças sociais em luta, travam-se em diferentes arenas. Como bem assinala a historiadora Virgínia Fontes, na sociedade civil temos os clubes, as associações, os grupos midiáticos, as igrejas, os partidos políticos oficiais, sindicatos, escolas e entidades dos mais diversos fins. Ainda que sejam partidos não eleitorais, são capazes de aglutinarem amplos setores sociais, atuando efetivamente como forças políticas. Assim, todas as mudanças que ocorrem estruturalmente no país, relacionadas ao mundo do trabalho e ao processo formativo na escolarização básica, são decisões políticas e econômicas, mas não necessariamente populares. Por este motivo, podemos afirmar – e concordando com Virgínia Fontes – de que a base programática da educação pública no Brasil é atualmente uma “base programática empresarial, borrando as diferenças entre programas partidários frente às práticas de adoção ou parcerias empresariais com escolas públicas, acatadas por elites de quase todos os partidos”.

A irrelevância e/ou a indiferenciação crescente dos partidos políticos no Brasil torna o ritual das eleições uma mera formalidade. Assim, a ‘crise da democracia’ é a crise do modelo (neo)liberal, que ao fazer os seus ajustes macroestruturais não perde de vista a elevação das taxas de lucro, submetendo imensa parcela da população brasileira à indigência e ao endividamento.