Tripudiar sobre a dor alheia
e publicizar a privacidade de outrem de forma naturalizada; espancar e
humilhar, publicamente, os/as que não se encaixam numa determinada
racionalidade, especialmente aqueles e aquelas que, historicamente, foram
massacrados/as por suas ideias, opções políticas, orientações sexuais, e por
terem enfrentado com imensa dignidade e coragem o regime do patriarcado; eis o
Brasil politicamente apequenado dos tempos atuais, que vivencia séria, conflituosa
e tortuosa crise civilizatória.
O horizonte histórico não é
nada ameno, tendo em vista que cresce, exponencialmente, os movimentos
ultradireitistas e ultraconservadores em diversas partes do mundo. Não seria
exagero afirmarmos que ingressamos num cenário distópico, para além das
previsões aparentemente catastróficas da literatura de ficção científica.
Diante de crises sistêmicas e irreformáveis do capitalismo, nota-se de forma
incisiva o crescimento de lideranças vinculadas ao populismo autoritário, com
promessas de fechamento de fronteiras aos imigrantes; de pretenso pleno emprego
aos nativos; de reprise de medidas econômicas protecionistas e de isolacionismo
territorial. Tais medidas só acirram as já tão difíceis possibilidades de
diminuição da desigualdade social, que não são pautadas de forma prioritária
pelos países centrais do capitalismo.
Logo, o recrudescimento de
ações xenofóbicas, homofóbicas, de preconceitos de classe, de ódio explícito
contra os pobres e oprimidos, desbragadamente socializados nas mídias sociais
pela classe média, demonstram o quão miseráveis estamos nos tornando enquanto
humanidade. De fato, responder a este momento histórico não tem sido fácil.
Incautamente, tínhamos a sensação de que estávamos avançando socialmente,
apesar de todas as implicações geradas pelo modelo econômico em vigor. Emburrecemos?
Fracassamos?