quarta-feira, 1 de julho de 2009

HOMENAGEM A UM GRANDE INTELECTUAL



Por Jéferson Dantas

O sociólogo Paulo Meksenas, de maneira precoce, deixou-nos no dia 22 de junho. Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1984), Mestre em Didática pela Universidade de São Paulo (1993) e Doutor em Educação pela Universidade
de São Paulo (2001), Meksenas era professor adjunto IV da Universidade Federal de Santa Catarina e atuava no Programa de Pós-Graduação em Educação onde, entre outras atividades, ministrava a disciplina de Educação e Epistemologia. Na
Licenciatura em Pedagogia ministrava as disciplinas de Pesquisa e Prática Pedagógica I, II III e IV. Autor de inúmeras obras e coordenador de atividades de extensão, Meksenas descobriu tardiamente que estava com câncer. A convivência pessoal e intelectual com este grande educador marcou, profundamente, a vida de muitos estudantes, futuros educadores e colegas de ofício, que puderam desfrutar de sua sabedoria e de sua generosidade ao tratar de temas tão espinhosos e caros ao processo educacional.

Como todo intelectual engajado e erudito, Meksenas nunca fugiu dos litígios concernentes ao processo de formação de educadores, enfatizando a importância politizadora no território escolar e, fundamentalmente, a necessidade permanente da pesquisa e leitura na Educação Básica. Nesta direção, condenava o ‘senso comum pedagógico’ e políticas públicas educacionais voltadas a uma produtividade acadêmica muitas vezes estéril e pouco propositiva. Apesar de toda a sua erudição, nunca se esquivava das indagações aparentemente ingênuas provenientes de seus discípulos, além de apresentar uma postura democrática e não arrogante no convívio acadêmico. Numa de suas últimas aulas na disciplina de Epistemologia e Educação recebeu o carinho e o respeito de todos os seus alunos, que foram, praticamente, unânimes em afirmar que a sua conduta como educador era irreparável, mesmo quando os autores estudados (Marx, Weber, Comte, Merleau-Ponty, Foucault, Thompson, Agnes Heller, Bourdieu, Nietzsche, dentre outros) apresentavam diferentes níveis de apreensão teórica e metodológica. Em outras palavras, Meksenas ‘tornava fácil’ o que era, aparentemente, penoso, quando se trata de autores fundadores do pensamento humano.

O legado de Meksenas é inegável. Quando um intelectual de sua envergadura nos abandona de forma tão abrupta, sabemos o quanto a nossa responsabilidade como educadores-formadores e/ou intelectuais orgânicos se eleva. Contudo, há de se avaliar também o autocuidado que muitas vezes nós, educadores, deixamos em segundo plano, tendo em vista que o mergulho nos embates com os nossos pares e com as ações políticas enviesadas no campo educacional podem nos fragilizar organicamente e psiquicamente. Em tempos escassos de referências humanas íntegras, Meksenas nos ensinou, sobretudo, que lutar por uma condição humana melhor e por uma educação pública de qualidade é o princípio-mor de uma sociedade justa, solidária e igualitária.

CORAGEM PARA MUDANÇA!




Por Jéferson Dantas

A maneira cuidadosa ou mesmo eufemística de tratar o presidente do Senado, José Sarney, como ‘patriarca’ (melhor seria dizer ‘oligarca’) representa, em grande medida, a dificuldade que a mídia de massa tem em enfrentar lideranças políticas que se empoderaram à custa da ignorância pública e da corrupção estrutural que grassa este país. Amigo pessoal de Antônio Carlos Magalhães e abrigado em legendas partidárias conservadoras, Sarney tem tentado reeditar no Senado a velha prática clientelista e/ou patrimonialista herdada de nosso passado colonial. Eleito senador pelo Amapá, - numa evidente manobra política para continuar se perpetuando no poder - Sarney começa a vislumbrar o término de uma carreira política construída nos porões da ditadura e, ironicamente, prosseguida com o período de redemocratização do país (1985), quando legou de forma indireta a presidência da República com a morte de Tancredo Neves (membro da mesma chapa no Colégio Eleitoral).

Creio que, se pudéssemos medir os efeitos perversos e nocivos do custo social das oligarquias no Brasil ao longo de séculos, teríamos um quadro, efetivamente, devastador (e desanimador). Tais práticas calcadas no clientelismo, favoritismo e nepotismo, apresentam uma intimidade bastante tênue com o atraso social, representadas na deficiente prestação de serviços públicos essenciais. Não cabe, pois, defender quem sempre soube que cometia erros premeditados, crente na impunidade. A sensação é de que se tais ‘ranços’ forem extirpados das práticas políticas democráticas de cunho representativo e se houver possibilidades concretas de barganha originárias da sociedade civil, teremos outros níveis de entendimento democrático, que condenarão ‘atos secretos’, ‘compras de votos’, ‘alianças espúrias’ e ‘guerra declarada por cargos públicos’.

O inferno astral do presidente do Senado está apenas começando. Muitos outros parlamentares envolvidos e mancomunados com tais práticas terão de responder publicamente pelos seus atos. Aos poucos, o Brasil inicia o processo de prestação de contas com o seu passado, o que significa repensar o domínio permanente de determinados clãs políticos; a acessibilidade social dos historicamente excluídos; e, fundamentalmente, compreender as novas reconfigurações dos movimentos sociais, que poderão ser determinantes na reavaliação contra-hegemônica pautada numa agenda de ação coletiva plural e antissectária.