quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Brasil: terreno das contradições e das desigualdades



Estado de Minas, 19/01/2006 - Belo Horizonte MG

Réquiem para o trabalho: Universidades, quase sempre inacessíveis, deveriam ser o berço dos jovens que querem se preparar para o trabalho

Maurício Pessoa

Terá morrido o direito ao trabalho, levado pelos ventos furiosos e inclementes das novas tecnologias, incapazes de serem pacientes com os despreparados? Ou terá sido condenada ao sepultamento a esperança dos mais jovens, inaptos para a produção e vocacionados à marginalidade do ócio imposto pelo preconceito e pela má vontade? Seja o que for, para um universo estimado em mais de 17 milhões de desempregados – sem levar em conta as multidões de jovens que todos os anos batem às portas das fábricas, lojas e escritórios e as encontram fechadas –, este é um país que maltrata sua gente e despreza direitos naturais. Os jovens não trabalham porque, mesmo tendo a vitalidade da juventude, não dispõem da experiência gerada pela maturidade. Aos mais velhos, no entanto, é negada a oportunidade de trabalhar, porque, apesar da experiência, não têm a força da juventude. Não é ironia de mercado, é crueldade. Um casulo é o túmulo de uma lagarta e o berço de uma borboleta; as universidades, quase sempre inacessíveis, deveriam ser o berço dos jovens que querem se preparar para o trabalho, mas são, simplesmente, a desesperança de jovens e velhos, condenados a se tornarem meros espectadores dos acontecimentos. Assim, num país que convive com mais de 400 mil engenheiros desempregados, não se deve admirar as longas filas às portas dos quartéis como o retorno do serviço à pátria, mas, sem dúvida, a busca de um soldo, roupas e comida, além da garantia do emprego. O desenvolvimento econômico está atrelado a uma palavra sempre descuidada no Brasil, a educação.
Governos e empresários sempre se sentiram distantes do fenômeno durante o período em que manejar máquinas e equipamentos era quase trivial. Apertar parafusos, produzir uma peça, a exemplo do que sempre fizeram os torneiros, são assuntos do passado. Hoje, exige-se amplo conhecimento de informática, domínio da língua inglesa, num país onde a maioria das crianças, tangidas pela fome e pela miséria, mal consegue terminar o primeiro grau. Não há trabalho, morreu o emprego e a ressurreição da remuneração depende do desenvolvimento econômico, utopia de políticos e promessa de governo nunca realizada. Não se descobriu ainda ser a educação a mais criadora de todas as forças econômicas e a mais fecunda de todas as medidas financeiras. O que se sabe é que o Brasil é feito por nós. É urgente desatá-los.