quinta-feira, 16 de abril de 2015

GALEANO ETERNO!



   As palavras de Eduardo Hughes Galeano (1940-2015) continuarão ecoando em todos os cantos da América Latina. O escritor e jornalista uruguaio, falecido no dia 13 de abril, foi um dos mais notáveis cronistas de nosso tempo. Sem abrir mão da contundência, deixou-nos um dos maiores clássicos sobre a violência colonial no continente americano: As veias abertas da América Latina. Esta obra foi lançada em 1971, período em que ditaduras militares grassavam pela América do Sul, deixando suas deletérias marcas de sangue, torturas, prisões arbitrárias e a infeliz certeza de que determinadas permanências históricas, por meio do imperialismo estadunidense, impunham-nos formas diversas e perversas de colonização.

    Na década de 1980, a trilogia Memórias do fogo, arrebatava-nos pelo poder de síntese e pela maneira como os diálogos históricos se entrecruzavam em diferentes épocas, sem perder o caráter de totalidade. Afinal, Galeano, como notório esgrimista das palavras, sabia como ninguém expressar a crueza das atrocidades humanas, mas igualmente a generosidade do gênero humano, com exemplar e preciosa habilidade poética. Aficionado por futebol, não se cansava de vangloriar a celeste uruguaia, que lhe deu imensa alegria na copa do mundo de 2010.

   Galeano foi inspirador para as minhas escolhas profissionais. Queria ser jornalista, mas me tornei historiador. Intencionava traçar novos horizontes no ensino da História para os estudantes da Educação Básica, acalcanhado em narrativas que posicionassem os povos latino-americanos como protagonistas de suas trajetórias e donos de suas memórias. Eduardo Galeano nos ensinou isso durante mais de cinco décadas: o respeito às nossas culturas ancestrais e a todos os trabalhadores que esmigalharam suas vidas em troca da exploração incessante e sistemática de suas forças de trabalho.

   A impressão que fica é de que Galeano não partiu. Nunca partirá. Está em algum lugar de Montevidéu observando a turba da ciudad vieja, imaginando novas histórias e influenciando novas gerações. Escritores da linhagem de Galeano são cada vez mais raros, porque sempre atuaram na contracorrente. A coerência da militância jornalística e o compromisso com os excluídos eram suas principais ferramentas analíticas. O Uruguai perde um grande escritor, reconhecido internacionalmente. Mas, sobretudo, a América Latina perde um ser humano que diante da aridez da existência era capaz de adocicá-la com as palavras ingênuas de um infante que pela primeira vez enxergou o mar. Galeano, és imortal!