quinta-feira, 12 de março de 2009

Excomunhão e contradição



Por Jéferson Dantas


No estado de Pernambuco, uma menina de 9 anos foi violentada sexualmente pelo padrasto e engravidou de gêmeos. Em tal situação (estupro), levando-se em conta a idade da menina e para não colocar em risco a vida da mãe, o aborto é uma ação legalmente aceita no Brasil. Todavia, o reacionarismo clerical condenou/abominou tal atitude e excomungou a família e a equipe médica responsável pelo aborto. O porta-voz da condenação medieval foi o bispo de Olinda e Pernambuco, tendo suas declarações acolhidas imediatamente pelo Vaticano.

Durante mais de oito séculos a Igreja Católica comandou uma verdadeira caçada aos intelectuais e às mulheres ditas ‘diferentes’, ou seja, que não se enquadravam em seus preceitos eivados de ignorância e revanchismo. Em pleno século 21 o ranço medieval volta à carga com a infeliz declaração do bispo. Curioso e contraditoriamente, o papa Bento 16 afirmou ontem (dia internacional da mulher) que todas as mulheres do mundo sejam respeitadas em sua dignidade e potencialidade. No caso da menina pernambucana, pobre e vítima de violência sexual, o respeito à sua dignidade, pelo visto, passa ao largo.

Nenhum meio de comunicação razoavelmente digno de receber esta alcunha, eximiu-se de divulgar o caso e reprovar o tresloucado gesto do bispo, possivelmente alheio aos dramas humanos e o que significa para a saúde de uma criança de 9 anos estar grávida. É a mesma Igreja que condena as pesquisas em células-troco para salvar vidas e o uso de contraceptivos nos países miseráveis da África. Sem dúvidas, um episódio que expõe o anacronismo de uma instituição nefelibata.


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