sábado, 25 de agosto de 2018

E, SE BOLSONARO VENCER AS ELEIÇÕES?


Os movimentos fascistizantes que grassam pelo país não são meros acasos, assim como não é causalidade as repetidas situações de violência empreendidas contra as mulheres, professores (da Educação Básica ao Ensino Superior públicos), jovens pobres e negros, historicamente vulneráveis pela ausência de políticas públicas consistentes. A defesa empedernida de um ideal autoritário por determinados setores da sociedade civil em tal conjuntura, num país que até os dias de hoje carrega a nódoa nefasta de um passado escravocrata e da crescente e espúria desigualdade social, além da concentração elevada de renda nas mãos de uma minoria, expressa um triste cenário que pode levar ao Palácio do Planalto um candidato que não terá receio em utilizar a repressão para coibir toda e qualquer forma de manifestação social. Mais do que isso, Bolsonaro atenta contra o conhecimento histórico e a memória social ao defender torturadores, além de achincalhar jornalistas e comentaristas despreparados, sendo alçado à condição de ‘mito’. Seria cômico se não fosse trágico!

O candidato do PSL/RJ à presidência da República age sem peias. Escancara a sua misoginia, despreza os movimentos LGBT e quilombola, além de ter desqualificado uma colega parlamentar, dizendo-lhe que nem mesmo mereceria ser estuprada. Enfim, uma lista interminável de ódio, destempero, desequilíbrio e mitomania. Apesar de todos os exemplos aqui citados, Bolsonaro está com mais de 20% de intenção de votos nas primeiras pesquisas de opinião pela corrida ao Planalto.

Assim, ignorar que o acirramento da violência sob todos os seus ângulos – reforçada por grupos, partidos e movimentos ultraconservadores –, anuvia a realidade concreta de um país à beira de um colapso civilizatório, com taxas crescentes de feminicídio, desemprego estrutural e desesperança coletiva. Apesar disso, há muita leniência dos grupos empresariais jornalísticos, que veem em Bolsonaro apenas um bufão como é o caso de Donald Trump. Acontece que Trump venceu as eleições nos EUA.

terça-feira, 17 de abril de 2018

NÃO ÀS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS (OSs)


A defesa e a contratação das organizações sociais (OSs) – vistas como única solução para o atendimento público em creches e unidades de pronto atendimento (UPAs) em Florianópolis –, revelam como a racionalidade neoliberal ganhou contornos dramáticos em nosso país. Não por acaso, o embate entre o Executivo/Legislativo municipal e a classe trabalhadora, representada pelo seu sindicato (SINTRASEM), estão longe de serem questões meramente locais, ainda que sistematicamente minimizadas pela imprensa catarinense e até mesmo ignoradas pela sociedade.
Apenas como dado comparativo, segundo estudos de Ana Carolina Navarrete, mestra em Direitos Humanos pela USP, e do advogado e pesquisador, Gustavo Franco da Rosa, “em novembro de 2014 a prefeitura de São Paulo iniciou a reformulação de todas as suas contratações com entidades privadas que gerenciassem equipamentos e prestassem serviços públicos de saúde no SUS municipal. O processo acarretou dispensas maciças, recontratações com salários até 70% mais baixos e seleção de entidades de reputação duvidosa, com base em critérios exclusivamente econômicos – em desobediência à legislação municipal sobre o tema”. Praticamente, 30% dos serviços de saúde eram geridos pelas OSs, que firmam contratos com a administração pública supostamente sem finalidade lucrativa. As OSs, criadas ainda durante o governo FHC (1995-2002), constituem um modelo de gestão calcado numa pretensa eficiência, tendo em vista que são dispensadas de realizarem processos licitatórios para compras de insumos e desobrigadas de realizarem concursos públicos para a contratação de pessoal especializado. Em síntese, é a terceirização dos serviços públicos!
As consequências são nefastas, caso as OSs sejam aprovadas em Florianópolis. Destacamos algumas: 1) precarização das condições de trabalho; 2) ausência de controle social das atividades praticadas pelas OSs; 3) critérios pouco transparentes para a contratação das OSs, acalcanhados geralmente em aspectos quantitativos, impactando diretamente na deterioração das relações de trabalho e atendimento ao público. O debate precisa ser ampliado. O que está em jogo é a qualidade social do atendimento de serviços públicos essenciais para grande parcela da população florianopolitana.


quinta-feira, 5 de abril de 2018

FAKE NEWS E CREDIBILIDADE JORNALÍSTICA


   Não basta que os grupos empresariais jornalísticos no Brasil, responsáveis pela grande quantidade de notícias que se irradiam em diferentes veículos e plataformas, insurjam-se e pleiteiem que suas mercadorias informacionais ganhem maior visibilidade em detrimento das redes sociais (leia-se facebook). Ainda que possamos concordar que as redes sociais se apropriam de dados de seus usuários para todo tipo de manipulação, incluindo tendências políticas em tempos de eleições, faz-se importante considerar e problematizar que as redações dos grupos empresariais jornalísticos estão cada vez mais distantes do interesse público, muitas vezes atuando como meros assessores de imprensa de determinadas colorações político-partidárias. E isso também é grave.

   A demissão crescente dos/as jornalistas das redações ou a degradação do seu trabalho vincula-se a uma esquizofrênica necessidade de que suas atividades-fim, a partir de agora, priorizem ‘agradar’ os leitores seja de que maneira for, tendo como parâmetros (quantitativos) o número de ‘visualizações’ ou de ‘curtidas’ de uma notícia. Ora, o conteúdo informacional de um jornal que se paute pela investigação minimamente isenta, atrairá leitores, justamente, pelo adensamento das particularidades de um fenômeno social que esteja em evidência num certo contexto histórico. Caso contrário, qual é a diferença entre esse tipo de jornalismo e as famigeradas redes sociais?

   Além disso, o bom jornalismo exige equilíbrio. Isso significa que a informação deve ser equalizada entre as mídias públicas, comunitárias e privadas. Não é o que acontece no Brasil. A grande massa informacional que chega aos lares brasileiros pela mídia eletrônica, por exemplo, encontra-se previamente filtrada, editada e palatável para um consumidor que, muitas vezes, não busca outras fontes de notícia para ampliar o seu cabedal analítico. Essa etapa é mais complexa e exigirá uma discussão sobre a regularização das mídias.




sexta-feira, 16 de março de 2018

CRISE CIVILIZATÓRIA


   O assassinato brutal ou a execução sumária de uma mulher negra, militante dos Direitos Humanos, moradora da periferia e a quinta vereadora mais votada do estado do Rio de Janeiro, é a divisa mais acabada de um país racista, misógino, e que a cada dia se depara com todo tipo de atrocidade à vida humana. Não é possível se calar diante de uma conjuntura social que procura acomodar e direcionar normativas que degradam as condições de trabalho de milhões de brasileiros – especialmente a partir de abril de 2016 – em benefício do capital e do Poder Judiciário, que deveria zelar pela justiça social. Aliás, a concupiscência entre os Três Poderes é notória!

   Num passado não muito distante, as ditaduras civil-militares na América Latina promoveram toda sorte de brutalidades, opressões, silenciamento dos movimentos sociais e da liberdade de expressão. As comissões nacionais da verdade, criadas para investigar os crimes desse período recente da História latino-americana, em nosso país, foram iniciadas em 2011 e finalizadas em 2014, porém, em grande medida, seus resultados foram frustrantes. Para o historiador Carlos Fico a transição democrática brasileira ainda não terminou. Diferentemente da Argentina, o traço marcante sobre a ditadura civil-militar brasileira não é o “trauma pela violência”, mas a “frustração das esperanças”.

   Esperanças que são golpeadas. Esperanças que são eliminadas com projéteis na calada da noite. Esperanças que se frustram porque grande parcela da população brasileira está sem perspectivas diante de um modelo econômico excludente e totalmente desigual. A naturalização da violência sem peias sinaliza uma crise civilizatória num país que até hoje não universalizou a Educação Básica; que não garante saúde pública de qualidade para todos; que, hodiernamente, é bombardeado por noticiosos seletivos dos grupos empresariais jornalísticos. Se a analogia da esperança pode ser representada por uma flor, fiquemos com a máxima do poeta: “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.



sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O ZEITGEIST NA CONTRAMÃO CIVILIZATÓRIA

A expressão alemã Zeitgeist sintetiza todas as manifestações políticas, culturais e sociais de uma dada época histórica ou, em outras palavras, representa o espírito de um tempo, sintonizada com expressões artísticas originárias da literatura, música, dança e artes plásticas, apenas para citar alguns exemplos. Mas, tal fenômeno, ainda pode ser compreendido como uma síntese aguda de um tempo histórico marcado por um conjunto de ações performáticas individualizantes apartadas de mobilizações coletivas e de teor socializante.
O decandentismo europeu do final do século 19, do qual o escritor inglês Oscar Wilde (1854-1900) é um dos seus principais representantes, teve bastante influência em nosso país, especialmente na obra de João do Rio (1881-1921). Grosso modo, o decandentismo tinha traços da escola romântica, sobressaindo-se o ‘dandismo’ como modus vivendi. O gosto pelas coisas fúteis, o interesse pelo efêmero, a associação da vaidade narcísica ao tédio, também são marcas deste estilo artístico.  Numa aproximação precária com os dias coevos, estaríamos vivendo um período da História em que as intenções são mais importantes do que as ações, ou ainda, de que uma boa performance por meio das redes sociais garantiria, por si só,  efetiva participação ativa, ocultando os efeitos nefastos de uma democracia consentida e, portanto, descaracterizada de seus matizes mobilizadores em nível estrutural.
Não por acaso, o mercado editorial brasileiro tem realizado novas reedições de obras distópicas, que traduzem em suas narrativas ficcionais, as dificuldades humanas de diálogo, o isolacionismo narcísico, a obsessão por produtos tecnológicos que impedem ou reduzem encontros presenciais e a necessidade compulsiva em expressar opinião sobre qualquer assunto, ainda que não existam elementos conceituais ou teóricos consistentes que sustentem determinadas abordagens. A necessidade comunicacional a qualquer custo, portanto, mitiga todos os esforços epistemológicos de compreensão sistemática da sociedade pautada na lógica do capital, que a todo instante cria necessidades artificiais e supérfluas.
Esta verdadeira ‘empresa de si’, nos termos dos sociólogos franceses Dardot e Laval, estabelecem novas formas de convívio, muito mais áridas e concorrenciais, promovendo além da competitividade desenfreada em todos os setores da vida produtiva, um aceno preocupante às ideias autoritárias, que reduzem as manifestações artísticas a meras expressões de mentes recalcadas. Contraditoriamente e, na contramão do que alcunhamos de ‘civilização’, é justamente o ideário ultraconservador que não consegue resolver os seus recalques. Nesta direção, tudo o que for ‘diferente’ de sua visão de mundo, permitirá ao espírito totalitário repudiar sem peias. Logo, o dandismo virtual e a ausência de vínculo com a realidade concreta, que não podem ser confundidas com a expressão artística de um tempo, são insuficientes para combater os exageros autoritários, já que legítimas disputas só podem ocorrer na arena pública, portanto, terrena!