sexta-feira, 16 de março de 2018

CRISE CIVILIZATÓRIA


   O assassinato brutal ou a execução sumária de uma mulher negra, militante dos Direitos Humanos, moradora da periferia e a quinta vereadora mais votada do estado do Rio de Janeiro, é a divisa mais acabada de um país racista, misógino, e que a cada dia se depara com todo tipo de atrocidade à vida humana. Não é possível se calar diante de uma conjuntura social que procura acomodar e direcionar normativas que degradam as condições de trabalho de milhões de brasileiros – especialmente a partir de abril de 2016 – em benefício do capital e do Poder Judiciário, que deveria zelar pela justiça social. Aliás, a concupiscência entre os Três Poderes é notória!

   Num passado não muito distante, as ditaduras civil-militares na América Latina promoveram toda sorte de brutalidades, opressões, silenciamento dos movimentos sociais e da liberdade de expressão. As comissões nacionais da verdade, criadas para investigar os crimes desse período recente da História latino-americana, em nosso país, foram iniciadas em 2011 e finalizadas em 2014, porém, em grande medida, seus resultados foram frustrantes. Para o historiador Carlos Fico a transição democrática brasileira ainda não terminou. Diferentemente da Argentina, o traço marcante sobre a ditadura civil-militar brasileira não é o “trauma pela violência”, mas a “frustração das esperanças”.

   Esperanças que são golpeadas. Esperanças que são eliminadas com projéteis na calada da noite. Esperanças que se frustram porque grande parcela da população brasileira está sem perspectivas diante de um modelo econômico excludente e totalmente desigual. A naturalização da violência sem peias sinaliza uma crise civilizatória num país que até hoje não universalizou a Educação Básica; que não garante saúde pública de qualidade para todos; que, hodiernamente, é bombardeado por noticiosos seletivos dos grupos empresariais jornalísticos. Se a analogia da esperança pode ser representada por uma flor, fiquemos com a máxima do poeta: “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.



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