Um determinado conglomerado midiático em Santa Catarina lançou,
recentemente, uma campanha publicitária em que emerge como ponto fundamental os
desafios da educação pública. Para tanto, utiliza-se de artifícios muito comuns
às ONGs (organizações não governamentais), ou seja, atividades de recreação nas
escolas com o apoio de voluntários; envolvimento de pais e estudantes em temas
considerados relevantes (bullying, uso de entorpecentes, sexualidade, etc.); reconhecimento da
valorização do magistério, etc.. Com a lei do voluntariado (Lei 9.608/1998)
decretada durante o governo FHC (1995-2002), muitas empresas se dedicaram à
problemática educacional no melhor espírito da responsabilidade social,
convertendo as principais demandas do campo educativo como uma questão de
'prioridade nacional'.
Olhando por tal prisma, poderíamos supor que tais empresas estão
seriamente comprometidas com as demandas da escola pública e de seus sujeitos
envolvidos. Afinal, tudo parece indicar que é por meio da educação que se
resolve questões determinadas pelo capital. Em outras palavras, lembrando a
sábia recomendação do educador Dermeval Saviani, “tornou-se frequente a
afirmação de que a solução para os problemas que afligem a humanidade, desde a
violência, passando pelo desemprego, a miséria e a exclusão social e até as
agressões ao meio ambiente, passam pela educação. A educação – de elemento
socialmente determinado - passa a ser determinante das relações sociais”.
Fica-nos a pergunta: a educação tem todo este poder de transformação? Numa
sociedade dividida em classes, com projetos diferenciados de escolarização (uma
escola para os filhos da classe trabalhadora e uma escola para as elites
dirigentes), é possível se pensar num modelo pedagógico realmente emancipador?
Tais perguntas não fazem parte, evidentemente, do roteiro deste grupo
midiático, pois isto significaria, aí sim, encontrarmos algumas respostas para
a educação pública.
Em 2011 o magistério catarinense fez uma de suas maiores e mais
contundentes paralisações em defesa da implementação do piso salarial nacional,
apontando também o descaso do poder público com a manutenção das escolas e
denunciando o fechamento de tantas outras. Para onde vão as crianças da classe
trabalhadora quando uma escola pública cerra as suas portas? O que dizer de
jovens licenciados que não querem saber do magistério por conta dos salários
aviltantes e de um plano de carreira desmotivador? E o que dizer dos diretores
indicados pelo governador? E do recorrente assédio moral aos poucos diretores
eleitos por determinados políticos que se sentem 'donos' das escolas públicas?
Ora, as respostas estão na própria sociedade que engendra diferenças de classe
e, consequentemente, diferentes projetos educativos. Todavia, a escola pública
também tem a sua cota de responsabilidade, ou seja, poderia ser um ambiente
muito mais politizado, potencializando os grêmios estudantis e os conselhos
deliberativos, valorizando o conhecimento docente e discente e dedicando-se a
um sistemático estudo de sua condição de classe.
Santa Catarina apresenta um perfil pedagógico bastante conservador em
suas escolas. Democratizá-las significaria romper com o clientelismo barato e
ter trabalhadores em educação altamente qualificados e bem remunerados,
preferencialmente com dedicação exclusiva a uma única unidade de ensino. Estas,
sim, são respostas tangíveis, emancipadoras, libertadoras, factíveis. As
escolas não precisam de circos itinerantes, mas de proposição pedagógica!