domingo, 31 de maio de 2009

O “x”, o “y” e o “z” da Educação



Por Jéferson Dantas


Em recente pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada no dia 17 de março pelo Ibope (apresentada no Editorial do Jornal A Notícia do dia 18 de Março), o principal problema da educação básica pública para 19% dos brasileiros é a desmotivação docente. Em segundo lugar a falta de segurança e a presença de drogas nas unidades de ensino; e em terceiro lugar o número insuficiente de escolas. A baixa qualidade de aprendizagem é apontada por 9% dos entrevistados como principal problema na educação brasileira. Estes números se diferenciam dependendo do estado federativo onde foram realizadas as pesquisas.

As questões apontadas acima revelam apenas a ponta do iceberg. Para os/as educadores de uma forma geral, a questão desmotivacional está em primeiro plano, assim como revelou a pesquisa encomendada para o Ibope. Logo, entendo ser fundamental que os/as docentes consigam sair do plano da cotidianidade e se elevar ao plano da reflexão, que nada mais é do que uma ação investigativa e filosófica em relação às suas condições de trabalho. Em nenhum instante, contudo, devemos minimizar o processo desmotivacional, assim como o adoecimento docente como algo dissociado da violência estrutural impingida pela lógica do capital. A despersonalização do trabalho docente tem efeitos ruinosos principalmente no que tange ao processo ensino-aprendizagem, fazendo com que muitas vezes os educadores atribuam aos próprios estudantes a culpa pelo insucesso escolar.

Ainda que entendamos a dimensão exaustiva e conflitiva do trabalho docente, os elementos aparentes deste ofício necessitam ser descortinados para que se construa uma formação continuada que ultrapasse a mera incisão imediata ou reativa diante de tais demandas estruturais. Pois como já nos ensinava o filósofo espanhol Adolfo Sánchez Vásquez: “a essência não se manifesta de maneira direta e imediata em sua aparência, e que a prática cotidiana – longe de mostrá-la de um modo transparente - não faz senão ocultá-la”.

Assim, as experiências docentes estão vinculadas à universalidade destas relações de trabalho, pois a violência escolar, o adoecimento docente, a indisciplina, elevada carga laboral, baixos salários, pouco tempo para planejamento, gestões escolares verticalizadas, ausência das famílias na composição do projeto político pedagógico, são questões litigiosas e reconhecidas pela classe docente como primordiais. Porém, as experiências particulares da classe docente são irrepetíveis e podem se constituir em projetos pedagógicos diferenciados que leve em conta a superação do que está determinado pelas políticas públicas oficiais ou por construções curriculares etnocêntricas e esvaziadas de conteúdo político.

EDUCAÇÃO À DERIVA



Por Jéferson Dantas

Agressões em sala de aula, crianças e jovens vítimas do bullying eletrônico; ameaças sistemáticas envolvendo diferentes grupos de jovens, identificados pelas suas opções musicais, roupas, adereços, cabelos e espaços sociais compartilhados. Há muito as escolas públicas, notadamente (mas não só), têm se tornado o local privilegiado do ‘acerto de contas’, que ocorrem à revelia dos/as que estão à frente do processo educacional. E isso tem acontecido, frequentemente, com adolescentes do sexo feminino, numa demonstração de força e sustentação de liderança até então mais visivelmente associado aos rapazes. Os motivos das agressões, muitas vezes, são fúteis e torpes, como o que ocorreu recentemente numa escola estadual de Joinville. No filme-documentário do diretor João Jardim (Pro dia nascer feliz, 2007), esta realidade está bastante patente nas escolas públicas de periferia, tendo em vista que estes/as jovens estão mergulhados em contextos estruturais de violência e impossíveis de serem atendidos pelos mecanismos (pífios) de inclusão social da escola.

Contudo, a relação quase esquizofrênica envolvendo escolas e o aparato tecnoburocrático educacional, demonstra a sua total ineficácia e o jogo do ‘empurra-empurra’ no que concerne à responsabilização das demandas trazidas por esta juventude cada vez mais indiferente à escola. As gerências educacionais maximizam dinâmicas de controle em relação à obediência do calendário escolar, interpretando unilateralmente leis educacionais e retirando a autonomia das unidades de ensino quando a questão é centralmente pedagógica; mas, quando as evidências são de cunho estrutural, o Estado culpabiliza as escolas, enfatizando que as mesmas têm ‘autonomia’ para solucionar os problemas associados à violência.

Ora, se fizermos um mapeamento minucioso nas escolas estaduais catarinenses, provavelmente encontraremos centenas de relatos de violência envolvendo estudantes contra estudantes, educadores contra estudantes e vice-versa; além disso, as mínimas condições de trabalho não são respeitadas (banheiros estragados e fechados, preparo da merenda escolar sem condições de higiene, falta de água potável, tetos prestes a desabar na cabeça de estudantes e educadores, inexistência de áreas de recreação, etc.). Enfim, uma arquitetura escolar que oprime mais do que educa.

A relação ‘autista’ que as escolas têm com o aparato tecnoburocrático educacional produz, em última instância, o não diálogo e culpabilizações recíprocas que não equacionam questões emergentes, fazendo com que a Educação fique cada vez mais à deriva.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

DOCUMENTÁRIO MACIÇO

O grande problema do cinema nacional ainda é o velho gargalo da exibição e distribuição. Depois de produzido, quase sempre com recursos públicos, o filme precisa ser visto. Foi analisando essa característica da indústria cultural que a Cizânia Filmes criou o Circuito de Exibição Olhar.Doc, uma iniciativa que já começa com o apoio da Cinemateca Catarinense, do Funcine e de 16 pontos de exibição em Santa Catarina.A ideia é perpendicular à estrutura de um festival ou de um cineclube, pois ao invés de vários filmes serem exibidos num mesmo local, apenas um audiovisual será projetado em diversos pontos, acompanhado de um convidado que irá debater as questões estéticas com o público.“A gente nota que o público que frequenta uma determinada sala de exibição é cativo daquela rede de relacionamentos”, comenta Pedro MC, diretor do documentário “Maciço”, primeiro convidado do circuito. “A ideia é ótima, multidisciplinar e de grande alcance, ativando a rede dos pontos de exibição do estado”, afirma.O registro do olhar é a motivação de quem faz cinema, e nada melhor que um documentário para pensar, refletir e debater o mundo em que vivemos. Vencedor do Edital Cinemateca Catarinense / Fundação Catarinense de Cultura, “Maciço” tem 79 minutos de registro sobre as comunidades que compõem o maciço do morro da cruz, o mais denso enclave urbano da ilha.“A diversidade de temas e culturas é o foco do ‘Maciço’, que pode ser uma alegoria não só de Florianópolis mas do Brasil contemporâneo” afirma Karen Christine Rechia, produtora do filme. Após cada projeção do Olhar.Doc um ou mais convidados farão um debate a respeito dos temas suscitados no filme. Sobre o longa-metragem “Maciço”, que teve pré estreia no Cinema do CIC no dia 10 de março de 2009, as discussões não passam apenas sobre a produção, a narrativa e o mercado de audiovisual, mas também sobre a própria visibilidade das comunidades retratadas no filme.Para futuras projeções, que acontecerão livremente sem periodicidade definida, filmes catarinenses e nacionais já estão em negociação. Além de outros pontos de exibição com melhor infra-estrutura, como os cinemas dos shoppings, os espaços culturais das principais cidades do estado também vão entrar no circuito, sempre com exibições gratuitas.
Serviço: I Circuito de Exibição Olhar.Doc
Filme: Maciço
Direção: Pedro MC
Duração: 79 minutos
Ingresso: Gratuito
07 de Maio, 19h, Auditório Antonieta de Barros (ALESC)
Rua Doutor Jorge Luz Fontes, 310 Centro.
Informações: 48 3221.2500
Convidados: Vilson Groh, Jéferson Dantas, Karen Christine Rechia e Ed Soul
Mais Informações: www.olharpontodoc.blogspot.com
(48) 3025.5375 8405.5375 3304.2877