terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

RISCOS NO LABIRINTO

Toda dor é um tormento breve ou um interlúdio-signo. A carcaça que não atende ao impulso de Eros, encarcerado na masmorra do trabalho inglório.

E tinha motivos de sobra para crer no apaixonamento repentino, como se fosse a dose mais certa para destruir pedrarias e rochedos do coração sem alegrias.

Descendente da tragédia, neste curso rotineiro não saberia onde se enterrar. Ir por aí entre casos e ocasos, contornando ruas e esquinas. Não entender mais nada... às vezes uma entrega por coisas sem valor... é o frenético moribundo a se queixar da sua pequenez e autoflagelo. 

Quantas vezes tiveste medo destas esquinas por medo! Avistando Rilke às gargalhadas, desprezando tuas idiossincrasias vazias! Quantas vezes golpeado em tua intimidade por pura inércia e falta de vontade! Nas horas malditas te consomes sem nenhum perdão. Há de ser assim, como quem não vislumbra mais nada. 

Terás fogo e energia para te consumir nas labaredas do estranhamento e do risco inédito?

MEMÓRIAS ENGAVETADAS


Revirando gavetas encontro cartas e fotografias antigas. Peregrinação de memórias. E num estado de interessante embriaguez, sou capaz de encontrar minhas outras vidas num instante. São sonhos de navalha! São as quedas sublimes! É o entressono permanente, como se vivesse dopado... Algures uma caixa imensa de papelão: mais cartas e recortes de jornal. Fitinhas do Senhor do Bonfim intactas depois de anos e anos. Até mesmo um chaveirinho ordinário e oxidado no fundo da caixa.

Retornei à rotina de escritas e leituras. Demorava-me diante de um e-mail e sequer conseguia responder qualquer coisa com o mínimo de coerência. Tudo exigia um esforço descomunal. O vento sacudia as janelas. Parecia que tudo viraria uma explosão de vidros cortantes.

Terminei de ler um poema e pensei logo em música. Depois, abandonei o projeto da hora. E quando finalmente decidi responder os demais e-mails, eis que o dia se findara sem graça. E o bilhete deixado na mesa dizia da ausência e do desconforto. O bilhete de um mês a decorar a mesa e migalhas de pão. Eu nunca respondi. Deixei que os dias se passassem para que a dor cicatrizasse. E, quem sabe anestesiado, pudesse, enfim, recobrar-me de todo o estrago.

ARQUÉTIPOS


Tudo se reduzira a uma aparência absurda! Imediatas morfinas que nos escondem muito! O arquétipo ibérico circulando entre nós como ogivas nucleares. Desejamos uma coisa e fazemos outra; impregnados de uma ética que nos esmaga. A arte já não sacia. Só há saberes de cicatrizes na pele dos cordeiros-ordeiros...

Haverá limites para este descaso? Haverá limites ao exagero da imundície? Quem elaborará a ode ao criador infinito?