terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

MEMÓRIAS ENGAVETADAS


Revirando gavetas encontro cartas e fotografias antigas. Peregrinação de memórias. E num estado de interessante embriaguez, sou capaz de encontrar minhas outras vidas num instante. São sonhos de navalha! São as quedas sublimes! É o entressono permanente, como se vivesse dopado... Algures uma caixa imensa de papelão: mais cartas e recortes de jornal. Fitinhas do Senhor do Bonfim intactas depois de anos e anos. Até mesmo um chaveirinho ordinário e oxidado no fundo da caixa.

Retornei à rotina de escritas e leituras. Demorava-me diante de um e-mail e sequer conseguia responder qualquer coisa com o mínimo de coerência. Tudo exigia um esforço descomunal. O vento sacudia as janelas. Parecia que tudo viraria uma explosão de vidros cortantes.

Terminei de ler um poema e pensei logo em música. Depois, abandonei o projeto da hora. E quando finalmente decidi responder os demais e-mails, eis que o dia se findara sem graça. E o bilhete deixado na mesa dizia da ausência e do desconforto. O bilhete de um mês a decorar a mesa e migalhas de pão. Eu nunca respondi. Deixei que os dias se passassem para que a dor cicatrizasse. E, quem sabe anestesiado, pudesse, enfim, recobrar-me de todo o estrago.

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