segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os limites de Copenhague

 

A 15ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em Copenhague, Dinamarca, foi literalmente uma ‘vergonha’, como bem apontaram os manifestantes presentes no lado de fora do encontro. Evidente que havia outros interesses por parte de alguns chefes de Estado em participar de um evento como esse, pois isso capitaliza visibilidade internacional, uma possibilidade de assento no Conselho de Segurança da ONU, tratativas comerciais diferenciadas, fortalecimento de nações não hegemônicas, etc. Mas, os limites de um acordo sobre a emissão de gases poluentes e de qualquer ameaça ao planeta Terra não podem estar descolados dos limites do Capitalismo. E isto significa perceber, analisar e avaliar outros prejuízos sociais em tal contexto.

A destruição da Terra já vem acontecendo há muito tempo. O número de favelas por todo o planeta é algo assombroso e preocupante. O urbanista estadunidense Mike Davis revela, por exemplo, que a situação da África é a mais extremada. A esperança de atenuar a pobreza urbana desapareceu de qualquer estimativa oficial, quando o FMI e o Banco Mundial observaram que as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU para a África não se cumpririam até 2015, i.e, não seria atingida por várias gerações. A África subsaariana, por exemplo, só obteria educação primária universal em 2130, uma redução razoável da pobreza em 2150 e a eliminação da mortalidade infantil evitável apenas em 2165. Até 2015 a África negra terá mais de 330 milhões de favelados, número que continuará dobrando a cada quinze anos. Tal realidade não é diferente para a América Latina, Ásia, Oriente Médio e Leste da Europa. Todavia, a maior concentração de miséria ou de indigência social está concentrada nas nações que se livraram do jugo colonial apenas há algumas décadas.

Nesta direção, pensar o impacto ambiental do planeta é repensar a sociedade em que vivemos. Uma sociedade carcomida pela exploração intensiva da força de trabalho dos seres humanos; pela desqualificação do trabalho feminino e utilização da mão de obra escrava em muitos países; da exploração do trabalho infantil e da ausência de escolaridade básica para milhões de crianças em todo o mundo. Os chefes de Estado em Copenhague, cada qual olhando para o seu próprio umbigo, não deram respostas satisfatórias e suficientes para a humanidade. Reduziram as esperanças de um mundo mais justo, acreditando por certo que haverá planeta ‘sustentável’ daqui a algumas décadas (como se isto fosse possível sem a interferência humana). A Conferência de Copenhague foi a demonstração autêntica de como o corporativismo industrial internacional não mede qualquer esforço em fazer valer suas metas lucrativas e a expansão de seus mercados, ainda que à custa de vidas e do planeta que nos subsiste.





sábado, 19 de dezembro de 2009

Furacão

todo dia
todo dia


eu me lembro


do que fui.


todo dia
todo dia


voz de furacão!

Escuta

é uma
forma de percurso
isso
que aqui está.

não posso
duvidar
da quimera
e nem da
rosa.

a vida
desta maneira

e o segredo
roto
a nos humilhar...

suas
sapatilhas
de desenhos
gélidos.

e a
palavra
doce
deste 
dia-inverno.

eu saberia te escutar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Livro de Jéferson Dantas na vitrine virtual AGbooks

DO QUE É DO HUMANO


Por: Jéferson Dantas
"Para entender devo me calar de maneira monástica. Retrucar seria inglório. Observar o gesto, as palavras cortantes que brotam daquela boca como ameaça sistemática. E às vezes nem era isso que ardia profundamente. Apenas o prazer de machucar, lanhar e depois cuspir. [...]. E sei que gostava de umas sujeiras; de umas ofensas cabalísticas, que findava no deleite do quartinho, onde se debulhava inteira na excitante orgia".

Autor: Jéferson Dantas
Tema: Literatura Nacional, Ficção, Poesia
Palavras-chave: existencialismo, ficção, modernidade, poética, prosa
Número de páginas: 40
Peso: 80 gramas
Edição: 1 ( 2009 )




sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ASSIM

nesta
dança
um pouco de tua

luz


vi
tua pele
alva
e incandescente


e esta
chama
que ainda
arde

era
de manhã
no tempo
que
escolhemos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ÉGAB


o que eu sabia
era
o segredo
da casa.

casa-gelo
e ventania.

por certo
outra vida.

nem sequer
palavra
ou
distância.

égab,
a herança
tatuada
n'alma!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Alheio


sentado aqui
vejo estas pessoas
que
se arrastam
corpos pesados
e lamentos.

e devagar
te sopro
versos
e te ensino
coisas
que julgara
ter esquecido.

ah! a manhã
que me traz
a loba-luz
que me trai
reclusão!

já não procuro
tua boca.
e aqui
de perto
olho estas pessoas
e
não desperto...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Três


tu só
assim
em noites

a querer
voar
e a
querer
partir.

e não te
moves.

e assim
te
plantas
na cama
a morder
fronhas
e sonhos

como se
um
anjo
pudesse
lhe salvar...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

DOIS


estas horas
que não passam.

e a principal
novidade
na cidade
é uma tevê
digital
num boteco
onde
os ratos
são fregueses.

e estas horas
que não passam.

e esta tinta
tão borrada
a
pintura
d'alma
que se escapa...

UM


a janela
deixa entrar
isso
que não é meu.

és
a bota
na garganta
a me
sufocar.

e eu me desfaço
desta tua
pouca alegria

e ímpeto
de amar!



CRÉDITOS DA FOTO:
DANIEL PEDROGAM

quarta-feira, 1 de julho de 2009

HOMENAGEM A UM GRANDE INTELECTUAL



Por Jéferson Dantas

O sociólogo Paulo Meksenas, de maneira precoce, deixou-nos no dia 22 de junho. Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1984), Mestre em Didática pela Universidade de São Paulo (1993) e Doutor em Educação pela Universidade
de São Paulo (2001), Meksenas era professor adjunto IV da Universidade Federal de Santa Catarina e atuava no Programa de Pós-Graduação em Educação onde, entre outras atividades, ministrava a disciplina de Educação e Epistemologia. Na
Licenciatura em Pedagogia ministrava as disciplinas de Pesquisa e Prática Pedagógica I, II III e IV. Autor de inúmeras obras e coordenador de atividades de extensão, Meksenas descobriu tardiamente que estava com câncer. A convivência pessoal e intelectual com este grande educador marcou, profundamente, a vida de muitos estudantes, futuros educadores e colegas de ofício, que puderam desfrutar de sua sabedoria e de sua generosidade ao tratar de temas tão espinhosos e caros ao processo educacional.

Como todo intelectual engajado e erudito, Meksenas nunca fugiu dos litígios concernentes ao processo de formação de educadores, enfatizando a importância politizadora no território escolar e, fundamentalmente, a necessidade permanente da pesquisa e leitura na Educação Básica. Nesta direção, condenava o ‘senso comum pedagógico’ e políticas públicas educacionais voltadas a uma produtividade acadêmica muitas vezes estéril e pouco propositiva. Apesar de toda a sua erudição, nunca se esquivava das indagações aparentemente ingênuas provenientes de seus discípulos, além de apresentar uma postura democrática e não arrogante no convívio acadêmico. Numa de suas últimas aulas na disciplina de Epistemologia e Educação recebeu o carinho e o respeito de todos os seus alunos, que foram, praticamente, unânimes em afirmar que a sua conduta como educador era irreparável, mesmo quando os autores estudados (Marx, Weber, Comte, Merleau-Ponty, Foucault, Thompson, Agnes Heller, Bourdieu, Nietzsche, dentre outros) apresentavam diferentes níveis de apreensão teórica e metodológica. Em outras palavras, Meksenas ‘tornava fácil’ o que era, aparentemente, penoso, quando se trata de autores fundadores do pensamento humano.

O legado de Meksenas é inegável. Quando um intelectual de sua envergadura nos abandona de forma tão abrupta, sabemos o quanto a nossa responsabilidade como educadores-formadores e/ou intelectuais orgânicos se eleva. Contudo, há de se avaliar também o autocuidado que muitas vezes nós, educadores, deixamos em segundo plano, tendo em vista que o mergulho nos embates com os nossos pares e com as ações políticas enviesadas no campo educacional podem nos fragilizar organicamente e psiquicamente. Em tempos escassos de referências humanas íntegras, Meksenas nos ensinou, sobretudo, que lutar por uma condição humana melhor e por uma educação pública de qualidade é o princípio-mor de uma sociedade justa, solidária e igualitária.

CORAGEM PARA MUDANÇA!




Por Jéferson Dantas

A maneira cuidadosa ou mesmo eufemística de tratar o presidente do Senado, José Sarney, como ‘patriarca’ (melhor seria dizer ‘oligarca’) representa, em grande medida, a dificuldade que a mídia de massa tem em enfrentar lideranças políticas que se empoderaram à custa da ignorância pública e da corrupção estrutural que grassa este país. Amigo pessoal de Antônio Carlos Magalhães e abrigado em legendas partidárias conservadoras, Sarney tem tentado reeditar no Senado a velha prática clientelista e/ou patrimonialista herdada de nosso passado colonial. Eleito senador pelo Amapá, - numa evidente manobra política para continuar se perpetuando no poder - Sarney começa a vislumbrar o término de uma carreira política construída nos porões da ditadura e, ironicamente, prosseguida com o período de redemocratização do país (1985), quando legou de forma indireta a presidência da República com a morte de Tancredo Neves (membro da mesma chapa no Colégio Eleitoral).

Creio que, se pudéssemos medir os efeitos perversos e nocivos do custo social das oligarquias no Brasil ao longo de séculos, teríamos um quadro, efetivamente, devastador (e desanimador). Tais práticas calcadas no clientelismo, favoritismo e nepotismo, apresentam uma intimidade bastante tênue com o atraso social, representadas na deficiente prestação de serviços públicos essenciais. Não cabe, pois, defender quem sempre soube que cometia erros premeditados, crente na impunidade. A sensação é de que se tais ‘ranços’ forem extirpados das práticas políticas democráticas de cunho representativo e se houver possibilidades concretas de barganha originárias da sociedade civil, teremos outros níveis de entendimento democrático, que condenarão ‘atos secretos’, ‘compras de votos’, ‘alianças espúrias’ e ‘guerra declarada por cargos públicos’.

O inferno astral do presidente do Senado está apenas começando. Muitos outros parlamentares envolvidos e mancomunados com tais práticas terão de responder publicamente pelos seus atos. Aos poucos, o Brasil inicia o processo de prestação de contas com o seu passado, o que significa repensar o domínio permanente de determinados clãs políticos; a acessibilidade social dos historicamente excluídos; e, fundamentalmente, compreender as novas reconfigurações dos movimentos sociais, que poderão ser determinantes na reavaliação contra-hegemônica pautada numa agenda de ação coletiva plural e antissectária.

terça-feira, 9 de junho de 2009

JÉFERSON DANTAS ENCERRA TRILOGIA COM PUBLICAÇÃO NO CLUBE DE AUTORES

Do que é do humano
Non omnia possumus omnes

Cover_front_medium

Autor: Jéferson Silveira Dantas
Descrição:
Prosa poética de caráter ficcional, profundamente associada aos dilemas existenciais da espécie humana (estertores, erotismo, falibilidade e suspensão).

Link do site: http://clubedeautores.com.br/book/2133--Do_que_e_do_humano
Preço de venda: R$ 26,75

Edição: 1ª (2009)
Número de páginas: 40

Tópicos: Literatura Nacional.
Palavras-chave: ficção, humanidade, prosa.


terça-feira, 2 de junho de 2009

JÉFERSON DANTAS LANÇA LIVRO NA FAED/UDESC



O QUÊ: Coquetel de lançamento do livro 'COMPETÊNCIAS E HABILIDADES E A FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DAS LEIS 5.692/1971 E 9.394/1996 EM SANTA CATARINA, editado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) do Rio de Janeiro/RJ.

► QUANDO E ONDE: Dia 9 de junho (3a. feira) às 19h no Auditório da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (FAED/UDESC), Campus do Itacorubi, Florianópolis/SC.

ENDEREÇO: Avenida Madre Benvenuta, 2007, Bairro Itacorubi.
► DADOS DA OBRA: A obra é uma síntese da Dissertação de Mestrado defendida pelo autor no ano de 2002 no Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (CED/UFSC) e orientada pelo Historiador e Professor Doutor Carlos Eduardo dos Reis (CED/UFSC). Fundamentalmente, esta pesquisa procurou investigar o processo de formação de educadores nos cursos de Magistério de Nível Médio em Santa Catarina e os documentos produzidos nas décadas de 1960,1970, 1980 e 1990 concernentes à estruturação curricular destes cursos.

domingo, 31 de maio de 2009

O “x”, o “y” e o “z” da Educação



Por Jéferson Dantas


Em recente pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada no dia 17 de março pelo Ibope (apresentada no Editorial do Jornal A Notícia do dia 18 de Março), o principal problema da educação básica pública para 19% dos brasileiros é a desmotivação docente. Em segundo lugar a falta de segurança e a presença de drogas nas unidades de ensino; e em terceiro lugar o número insuficiente de escolas. A baixa qualidade de aprendizagem é apontada por 9% dos entrevistados como principal problema na educação brasileira. Estes números se diferenciam dependendo do estado federativo onde foram realizadas as pesquisas.

As questões apontadas acima revelam apenas a ponta do iceberg. Para os/as educadores de uma forma geral, a questão desmotivacional está em primeiro plano, assim como revelou a pesquisa encomendada para o Ibope. Logo, entendo ser fundamental que os/as docentes consigam sair do plano da cotidianidade e se elevar ao plano da reflexão, que nada mais é do que uma ação investigativa e filosófica em relação às suas condições de trabalho. Em nenhum instante, contudo, devemos minimizar o processo desmotivacional, assim como o adoecimento docente como algo dissociado da violência estrutural impingida pela lógica do capital. A despersonalização do trabalho docente tem efeitos ruinosos principalmente no que tange ao processo ensino-aprendizagem, fazendo com que muitas vezes os educadores atribuam aos próprios estudantes a culpa pelo insucesso escolar.

Ainda que entendamos a dimensão exaustiva e conflitiva do trabalho docente, os elementos aparentes deste ofício necessitam ser descortinados para que se construa uma formação continuada que ultrapasse a mera incisão imediata ou reativa diante de tais demandas estruturais. Pois como já nos ensinava o filósofo espanhol Adolfo Sánchez Vásquez: “a essência não se manifesta de maneira direta e imediata em sua aparência, e que a prática cotidiana – longe de mostrá-la de um modo transparente - não faz senão ocultá-la”.

Assim, as experiências docentes estão vinculadas à universalidade destas relações de trabalho, pois a violência escolar, o adoecimento docente, a indisciplina, elevada carga laboral, baixos salários, pouco tempo para planejamento, gestões escolares verticalizadas, ausência das famílias na composição do projeto político pedagógico, são questões litigiosas e reconhecidas pela classe docente como primordiais. Porém, as experiências particulares da classe docente são irrepetíveis e podem se constituir em projetos pedagógicos diferenciados que leve em conta a superação do que está determinado pelas políticas públicas oficiais ou por construções curriculares etnocêntricas e esvaziadas de conteúdo político.

EDUCAÇÃO À DERIVA



Por Jéferson Dantas

Agressões em sala de aula, crianças e jovens vítimas do bullying eletrônico; ameaças sistemáticas envolvendo diferentes grupos de jovens, identificados pelas suas opções musicais, roupas, adereços, cabelos e espaços sociais compartilhados. Há muito as escolas públicas, notadamente (mas não só), têm se tornado o local privilegiado do ‘acerto de contas’, que ocorrem à revelia dos/as que estão à frente do processo educacional. E isso tem acontecido, frequentemente, com adolescentes do sexo feminino, numa demonstração de força e sustentação de liderança até então mais visivelmente associado aos rapazes. Os motivos das agressões, muitas vezes, são fúteis e torpes, como o que ocorreu recentemente numa escola estadual de Joinville. No filme-documentário do diretor João Jardim (Pro dia nascer feliz, 2007), esta realidade está bastante patente nas escolas públicas de periferia, tendo em vista que estes/as jovens estão mergulhados em contextos estruturais de violência e impossíveis de serem atendidos pelos mecanismos (pífios) de inclusão social da escola.

Contudo, a relação quase esquizofrênica envolvendo escolas e o aparato tecnoburocrático educacional, demonstra a sua total ineficácia e o jogo do ‘empurra-empurra’ no que concerne à responsabilização das demandas trazidas por esta juventude cada vez mais indiferente à escola. As gerências educacionais maximizam dinâmicas de controle em relação à obediência do calendário escolar, interpretando unilateralmente leis educacionais e retirando a autonomia das unidades de ensino quando a questão é centralmente pedagógica; mas, quando as evidências são de cunho estrutural, o Estado culpabiliza as escolas, enfatizando que as mesmas têm ‘autonomia’ para solucionar os problemas associados à violência.

Ora, se fizermos um mapeamento minucioso nas escolas estaduais catarinenses, provavelmente encontraremos centenas de relatos de violência envolvendo estudantes contra estudantes, educadores contra estudantes e vice-versa; além disso, as mínimas condições de trabalho não são respeitadas (banheiros estragados e fechados, preparo da merenda escolar sem condições de higiene, falta de água potável, tetos prestes a desabar na cabeça de estudantes e educadores, inexistência de áreas de recreação, etc.). Enfim, uma arquitetura escolar que oprime mais do que educa.

A relação ‘autista’ que as escolas têm com o aparato tecnoburocrático educacional produz, em última instância, o não diálogo e culpabilizações recíprocas que não equacionam questões emergentes, fazendo com que a Educação fique cada vez mais à deriva.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

DOCUMENTÁRIO MACIÇO

O grande problema do cinema nacional ainda é o velho gargalo da exibição e distribuição. Depois de produzido, quase sempre com recursos públicos, o filme precisa ser visto. Foi analisando essa característica da indústria cultural que a Cizânia Filmes criou o Circuito de Exibição Olhar.Doc, uma iniciativa que já começa com o apoio da Cinemateca Catarinense, do Funcine e de 16 pontos de exibição em Santa Catarina.A ideia é perpendicular à estrutura de um festival ou de um cineclube, pois ao invés de vários filmes serem exibidos num mesmo local, apenas um audiovisual será projetado em diversos pontos, acompanhado de um convidado que irá debater as questões estéticas com o público.“A gente nota que o público que frequenta uma determinada sala de exibição é cativo daquela rede de relacionamentos”, comenta Pedro MC, diretor do documentário “Maciço”, primeiro convidado do circuito. “A ideia é ótima, multidisciplinar e de grande alcance, ativando a rede dos pontos de exibição do estado”, afirma.O registro do olhar é a motivação de quem faz cinema, e nada melhor que um documentário para pensar, refletir e debater o mundo em que vivemos. Vencedor do Edital Cinemateca Catarinense / Fundação Catarinense de Cultura, “Maciço” tem 79 minutos de registro sobre as comunidades que compõem o maciço do morro da cruz, o mais denso enclave urbano da ilha.“A diversidade de temas e culturas é o foco do ‘Maciço’, que pode ser uma alegoria não só de Florianópolis mas do Brasil contemporâneo” afirma Karen Christine Rechia, produtora do filme. Após cada projeção do Olhar.Doc um ou mais convidados farão um debate a respeito dos temas suscitados no filme. Sobre o longa-metragem “Maciço”, que teve pré estreia no Cinema do CIC no dia 10 de março de 2009, as discussões não passam apenas sobre a produção, a narrativa e o mercado de audiovisual, mas também sobre a própria visibilidade das comunidades retratadas no filme.Para futuras projeções, que acontecerão livremente sem periodicidade definida, filmes catarinenses e nacionais já estão em negociação. Além de outros pontos de exibição com melhor infra-estrutura, como os cinemas dos shoppings, os espaços culturais das principais cidades do estado também vão entrar no circuito, sempre com exibições gratuitas.
Serviço: I Circuito de Exibição Olhar.Doc
Filme: Maciço
Direção: Pedro MC
Duração: 79 minutos
Ingresso: Gratuito
07 de Maio, 19h, Auditório Antonieta de Barros (ALESC)
Rua Doutor Jorge Luz Fontes, 310 Centro.
Informações: 48 3221.2500
Convidados: Vilson Groh, Jéferson Dantas, Karen Christine Rechia e Ed Soul
Mais Informações: www.olharpontodoc.blogspot.com
(48) 3025.5375 8405.5375 3304.2877

quinta-feira, 12 de março de 2009

Excomunhão e contradição



Por Jéferson Dantas


No estado de Pernambuco, uma menina de 9 anos foi violentada sexualmente pelo padrasto e engravidou de gêmeos. Em tal situação (estupro), levando-se em conta a idade da menina e para não colocar em risco a vida da mãe, o aborto é uma ação legalmente aceita no Brasil. Todavia, o reacionarismo clerical condenou/abominou tal atitude e excomungou a família e a equipe médica responsável pelo aborto. O porta-voz da condenação medieval foi o bispo de Olinda e Pernambuco, tendo suas declarações acolhidas imediatamente pelo Vaticano.

Durante mais de oito séculos a Igreja Católica comandou uma verdadeira caçada aos intelectuais e às mulheres ditas ‘diferentes’, ou seja, que não se enquadravam em seus preceitos eivados de ignorância e revanchismo. Em pleno século 21 o ranço medieval volta à carga com a infeliz declaração do bispo. Curioso e contraditoriamente, o papa Bento 16 afirmou ontem (dia internacional da mulher) que todas as mulheres do mundo sejam respeitadas em sua dignidade e potencialidade. No caso da menina pernambucana, pobre e vítima de violência sexual, o respeito à sua dignidade, pelo visto, passa ao largo.

Nenhum meio de comunicação razoavelmente digno de receber esta alcunha, eximiu-se de divulgar o caso e reprovar o tresloucado gesto do bispo, possivelmente alheio aos dramas humanos e o que significa para a saúde de uma criança de 9 anos estar grávida. É a mesma Igreja que condena as pesquisas em células-troco para salvar vidas e o uso de contraceptivos nos países miseráveis da África. Sem dúvidas, um episódio que expõe o anacronismo de uma instituição nefelibata.


[

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O olhar do civilizador



Por Jéferson Dantas

A maneira como determinados setores políticos e prestadores de serviço da Europa enxergam o Brasil, necessita ser problematizado para além de suas aparências. Recentemente, o compositor e violonista Guinga, um dos grandes talentos da MPB, foi agredido no aeroporto de Barajas, Madri, algo que tem ocorrido com frequência quando se trata de brasileiros na Espanha. Depois de passar pela revista de raio-X, Guinga percebeu que o seu casaco havia sido furtado com documentos, dinheiro e o passaporte. Ao solicitar ajuda a um policial espanhol, este lhe respondeu de maneira ríspida que não era de sua alçada o furto. Ao insistir com o policial foi agredido fisicamente e teve dois dentes quebrados. Além disso, ficou retido no aeroporto durante dois dias por ‘desacato’. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil soube do acontecido apenas pela imprensa, denotando uma grande fragilidade deste setor no que concerne à proteção do cidadão brasileiro fora de seu país.

No que tange ao caso do refugiado italiano Cesare Battisti, acusado de quatro assassinatos na década de 1970, o deputado italiano Etttore Pirovano alegou que o Brasil não tem condições de mantê-lo sob a sua guarda, tendo em vista que o nosso país é mais conhecido pelas nossas ‘dançarinas’ do que pelos nossos ‘juristas’. Percebe-se aí um profundo desrespeito às mulheres brasileiras e à autonomia do Judiciário brasileiro, visto aqui como inepto e incompetente. Estes dois exemplos são suficientemente esclarecedores no que se refere à visão que os países europeus têm em relação ao Brasil e aos demais países latino-americanos. Ainda persiste a trágica e perversa relação do colonizador contra o colonizado.

Ao remetermos esta discussão para os campos da História, Sociologia e Antropologia, possivelmente encontraremos farto material de abuso de poder das autoridades européias aos trabalhadores e estudantes brasileiros, compelidos a retornarem para o Brasil devido a um elevado senso discriminatório. Em Portugal, por exemplo, as mulheres brasileiras são vistas, genericamente, como prostitutas. Neste sentido, ainda que se encontrem legalizadas no país, enfrentam imensas dificuldades para alugar um imóvel, sofrendo insultos gratuitos e diferenciação salarial no trabalho; os brasileiros recebem, em grande medida, informações errôneas dos serviços públicos prestados em Portugal e muitos lusitanos interrompem um simples diálogo ao perceberem que o sotaque de seu/sua interlocutor/a é brasileiro.

Em linhas gerais, toda essa discriminação abusiva contribui para uma relação pouco amistosa entre brasileiros e europeus. O Brasil, nesta direção, não é considerado um ‘país sério’. Carrega consigo a pecha de exportar carnaval, samba e turismo sexual. E nesta discussão de cunho histórico, deveríamos fazer algumas indagações: este tipo de discriminação não contribui para um ideário fascista? Os mesmos detratores europeus, não são os mesmos que exploram a força de trabalho dos imigrantes? A imigração surgiu do nada? A longa e sangrenta colonização européia na América não carrega consigo os seus efeitos históricos até hoje? Com a palavra os civilizados europeus...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

50 anos de uma revolução centenária





Por Jéferson Dantas

A revolução cubana completou 50 anos em janeiro, mas é necessário resgatar, historicamente, o espírito desse movimento. Com a sua independência política ocorrida em 1898, Cuba permaneceu sob a tutela estadunidense, alternando governos subornáveis e submissos à Casa Branca. A ilha caribenha não passava de um protetorado dos EUA, algo que permaneceu até 1934, quando, finalmente, foi revogada a ‘Emenda Platt’, uma espécie de adendo à Constituição cubana, que permitia a intervenção política de Washington em qualquer tempo.

Grande parte da população cubana até a época da revolução era de origem rural, entretanto, não tinham acesso à terra e viviam em precárias condições de existência. Durante as décadas de 1930 e 1940, Cuba vivia imersa na corrupção, violência, desmandos e turbulência política. Não por acaso, tal quadro social foi exaustivamente explorado pela indústria cinematográfica estadunidense, objetivando desqualificar os feitos da revolução cubana. O então presidente cubano, Fulgêncio Batista, que chegou ao poder através de um golpe, construiu ao seu redor uma estrutura de governo autoritária e totalmente avesso às principais reivindicações populares. E foi durante o seu governo que se organizou um movimento guerrilheiro de cunho nacionalista, liderado pelos irmãos Castro, Cienfuegos e Guevara. A guerrilha nacionalista aliada ao partido comunista chegaria à vitória definitiva em janeiro de 1959.

Com a consolidação da revolução, o governo de Fidel Castro se aproximaria da ex-URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), num contraponto à política hegemônica dos EUA no continente americano durante a Guerra Fria (1945-1989). O bloqueio ou embargo econômico realizado pelos EUA à Cuba vem deste período, além de inúmeros atentados e golpes frustrados da CIA ao governo de Castro. Cuba também foi excluída da OEA (Organização dos Estados Americanos), tornando-se a única área de influência soviética na América.

Ainda que pese sobre o governo dos irmãos Castro todas as divergências possíveis, principalmente no que tange ao culto à personalidade política e extinção dos partidos, as conquistas sociais em Cuba são inegáveis, notadamente nas áreas de saude e educação. O fim do embargo econômico à ilha não depende de uma suposta ‘boa vontade’ do recém-eleito presidente dos EUA Barack Obama. Nesta direção, os Estados latino-americanos precisam mais do que nunca fortalecer seus fóruns decisórios e encontrar alternativas conjuntas a um modelo de supremacia eivada de ranço imperialista. A revolução cubana precisa ser lembrada como uma ação coletiva corajosa num contexto de omissão, submissão e dependência econômica dos demais paises da América.