terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O olhar do civilizador



Por Jéferson Dantas

A maneira como determinados setores políticos e prestadores de serviço da Europa enxergam o Brasil, necessita ser problematizado para além de suas aparências. Recentemente, o compositor e violonista Guinga, um dos grandes talentos da MPB, foi agredido no aeroporto de Barajas, Madri, algo que tem ocorrido com frequência quando se trata de brasileiros na Espanha. Depois de passar pela revista de raio-X, Guinga percebeu que o seu casaco havia sido furtado com documentos, dinheiro e o passaporte. Ao solicitar ajuda a um policial espanhol, este lhe respondeu de maneira ríspida que não era de sua alçada o furto. Ao insistir com o policial foi agredido fisicamente e teve dois dentes quebrados. Além disso, ficou retido no aeroporto durante dois dias por ‘desacato’. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil soube do acontecido apenas pela imprensa, denotando uma grande fragilidade deste setor no que concerne à proteção do cidadão brasileiro fora de seu país.

No que tange ao caso do refugiado italiano Cesare Battisti, acusado de quatro assassinatos na década de 1970, o deputado italiano Etttore Pirovano alegou que o Brasil não tem condições de mantê-lo sob a sua guarda, tendo em vista que o nosso país é mais conhecido pelas nossas ‘dançarinas’ do que pelos nossos ‘juristas’. Percebe-se aí um profundo desrespeito às mulheres brasileiras e à autonomia do Judiciário brasileiro, visto aqui como inepto e incompetente. Estes dois exemplos são suficientemente esclarecedores no que se refere à visão que os países europeus têm em relação ao Brasil e aos demais países latino-americanos. Ainda persiste a trágica e perversa relação do colonizador contra o colonizado.

Ao remetermos esta discussão para os campos da História, Sociologia e Antropologia, possivelmente encontraremos farto material de abuso de poder das autoridades européias aos trabalhadores e estudantes brasileiros, compelidos a retornarem para o Brasil devido a um elevado senso discriminatório. Em Portugal, por exemplo, as mulheres brasileiras são vistas, genericamente, como prostitutas. Neste sentido, ainda que se encontrem legalizadas no país, enfrentam imensas dificuldades para alugar um imóvel, sofrendo insultos gratuitos e diferenciação salarial no trabalho; os brasileiros recebem, em grande medida, informações errôneas dos serviços públicos prestados em Portugal e muitos lusitanos interrompem um simples diálogo ao perceberem que o sotaque de seu/sua interlocutor/a é brasileiro.

Em linhas gerais, toda essa discriminação abusiva contribui para uma relação pouco amistosa entre brasileiros e europeus. O Brasil, nesta direção, não é considerado um ‘país sério’. Carrega consigo a pecha de exportar carnaval, samba e turismo sexual. E nesta discussão de cunho histórico, deveríamos fazer algumas indagações: este tipo de discriminação não contribui para um ideário fascista? Os mesmos detratores europeus, não são os mesmos que exploram a força de trabalho dos imigrantes? A imigração surgiu do nada? A longa e sangrenta colonização européia na América não carrega consigo os seus efeitos históricos até hoje? Com a palavra os civilizados europeus...

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