sábado, 14 de janeiro de 2006

Saramago e as eleições: mero exercício de futurologia

Na obra Ensaio sobre a lucidez, o escritor português José Saramago relata ao longo de três centenas de páginas uma tragédia nacional, ou seja, o fato de que o país não conseguiu eleger a sua representação executiva porque o número de votos em branco foi superior ao número de votos válidos. Vale lembrar que no dia das eleições chovia aos cântaros e a maioria da população parecia não estar muito preocupada com o teatro da democracia representativa.

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Brasil, outubro de 2006. Agremiações partidárias, majoritariamente conservadoras, disputam o pleito do Executivo nacional. Lembrei-me da obra de Saramago ao me dirigir para a zona eleitoral, um tanto apreensivo e até com certa expectativa de que ficção e realidade pudessem se materializar diante de meus olhos. No final da apuração, o número de votos em branco somado aos votos nulos ultrapassou 70% dos chamados votos válidos. A mídia incomodada noticiava a apuração num misto de vergonha e assombro. Seriam convocadas novas eleições... e a chuva forte daquela manhã de domingo nada mais era do que as lágrimas copiosas daqueles que, pelo menos hoje, poderiam celebrar o seu ato de desobediência civil.

Liturgia dos dias

Na liturgia dos dias, jornais anunciam pandemias e incompetências governamentais. O 'senhor da guerra' é velado até que se defina o próximo carrasco das 'mil mortes'. Jovens estrangeiros são perseguidos/discriminados no velho continente; e um brasileiro, covardemente, espancado no réveillon, na terra dos cangurus...A aura nazi-fascista toma conta de várias regiões da Europa e também do continente americano. A criminalização dos movimentos sociais se torna o dispositivo essencial de todas as práticas políticas atuais. A situação é de vigília...

Do projeto literário "A precariedade do(e) ser" (2005-200?)




precários somos
e precários
morreremos

porque ainda
não aprendemos
o que é singular

construímos
todas as
guerras

elegemos os infortúnios
como nossos
guias

mas,
no serpentear
dos dias
pouco restou ao marujo...

e aprendo
com o poeta
como a pesca pode
ser previdente

somente os
que se comprazem
com desejos
tolos
não entendem
que a vida
é fronteira do que
não se sabe.

Palavras ao vento...


Hoje (14/01/06), inauguro esse espaço de discussão poética, política, visual...do sujeito alheio e suspenso que muitas vezes sou...até à raiz de minhas reticências sinceras. Em breve, fragmentos de minha nova obra "A precariedade do(de) Ser". Ébrios, músicos e poetas...fiquem à vontade para postarem o que é significativo para vcs. Abraços, Clio Insone.