domingo, 15 de janeiro de 2006

Do projeto literário inacabado "A derrota da Poesia"

ausência
de criação.
tenho apenas alguns
segundos
até a minha segunda morte.

as armaduras
não são mais necessárias.
que tipo de homem sou eu?

aquela mulher foi
o engano,
assim como todas as
outras.

não foi o mito
adâmico
que sacramentou toda
a humanidade!

o ensandecido sabe
muito bem
que o seu
estado de cura
é irreversível.

restou nada de si.
nem pólvora.
a loucura santa
foi a prova inconteste
de seu primeiro
e único martírio.
Nota: Este livro jamais será publicado. Foi abortado! Dificilmente será reaproveitado em outras publicações.

Do projeto literário "Suspenso e Alheio ou as minhas reticências sinceras".

"Penso nos loucos que morreram cedo. Narcotizados e solitários. Em dramas imprevisíveis. Penso nas coisas mais simples. Na arquitetura da urb caótica. Nos meus sonhos. Na minha alegria apagada. No fim dos dias. Na beleza de um sorriso. Na solução de todos os problemas sociais de meu país cada vez mais miserável. Penso, penso, penso... não chego a qualquer resposta razoável. Penso nos dramas de alcova. Na mulher que insiste em me amar, que me deseja e me diz querer proteger. Sei agora que os sinais são cada vez mais visíveis. E é de minha destruição prematura que ela me protege. E nego sua ajuda. E nego tudo e todos. Minha voz não se lança mais na atmosfera. O espaço de meu casulo doméstico me assusta. As lágrimas sulcam minhas órbitas vazias de sonho e amor. E penso nos loucos que se suicidaram. Que se narcotizaram e deram adeus a esta precária existência. E penso, penso, penso. O corpo pesado. A precária condição humana. As palavras insuficientes. Nada me salva! E uma mente vazia não poderá me sustentar por muito mais tempo".

Mais uma aurora

Os raios de sol que atravessam a janela do meu quarto prenunciam mais um dia quente de verão... os gritos das crianças do bairro me despertam. Os automóveis velozes e os roncos impertinentes dos motores. A face das mil auroras se confunde com o que se reflete na opacidade do espelho. E a mulher me dizia coisas boas... de que viver era imperativo... e de que nem todas as auroras eram iguais... algumas tinham gosto de sereno...