sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Indignar-se é preciso...

O gérmen da indignação

Jéferson Dantasâ

A indignação é uma das sensações humanas mais dilacerantes, porém, também é a que mais nos impulsiona à transformação e às reivindicações legítimas. Numa conversa informal com colegas de trabalho tive um exemplo nítido de como a indignação pode ter uma jornada tortuosa, culminando no arrefecimento profundo. Acontece que ouvir de educadores tão jovens a afirmação categórica, imperativa, inquestionável de que o Brasil não tem jeito e não é um país sério, concorre para um sinal de alerta há muito estudado e pesquisado: educadores ingressantes não querem mais trabalhar em escolas! Isto resultará em políticas públicas de valorização do magistério?

Há, contudo, um outro aspecto embutido na indignação arrefecida de meus colegas de trabalho: o desejo de ir embora do Brasil. Ir para um país onde as leis funcionem, onde a impunidade não impere e que a violência social seja tratada como política de Estado, preferencialmente com ações preventivas e que não determinem a chacina de vidas humanas por grupos de extermínio. Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Suécia, Dinamarca, Suíça... Estes são alguns dos lugares sonhados pelos jovens trabalhadores brasileiros. Potencialidades que o nosso país exporta a custo zero. Se tiverem sucesso, não voltam mais! Cuidarão de seus filhos longe do Brasil e lembrarão deste território em épocas de copa do mundo, num misto de exílio, exotismo e resignação.

Deste modo, indignar-se atualmente não tem mais a mesma compreensão semântica dos tempos de enfrentamento à ditadura militar ou a qualquer forma de autoritarismo (estatal ou privado). A indignação do tempo presente se limita às bravezas, explosões momentâneas e um profundo mal-estar, principalmente pela ausência da coletividade. Tenho cultivado a minha indignação entremeada ao lirismo. Mas, acima de tudo, há a recusa explícita do conformismo. A resignação é a desistência da Vida. Seria a vitória triunfal de Tânatos. Que o nosso Eros criador possa ser maior que a incompetência dos homens públicos e que nos orgulhemos deste país repleto de contradições, armadilhas, alegrias e muitas vezes sem nenhum caráter, tal qual o mito macunaímico.

â Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor efetivo da rede municipal de ensino em São José/SC. Pesquisador do GTEC - Grupo de Trabalho de Estudos do Currículo da Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz e do GIEL – Grupo Interdisciplinar de Estudos da Linguagem. E-mail: clioinsone@gmail.com