segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os limites de Copenhague

 

A 15ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em Copenhague, Dinamarca, foi literalmente uma ‘vergonha’, como bem apontaram os manifestantes presentes no lado de fora do encontro. Evidente que havia outros interesses por parte de alguns chefes de Estado em participar de um evento como esse, pois isso capitaliza visibilidade internacional, uma possibilidade de assento no Conselho de Segurança da ONU, tratativas comerciais diferenciadas, fortalecimento de nações não hegemônicas, etc. Mas, os limites de um acordo sobre a emissão de gases poluentes e de qualquer ameaça ao planeta Terra não podem estar descolados dos limites do Capitalismo. E isto significa perceber, analisar e avaliar outros prejuízos sociais em tal contexto.

A destruição da Terra já vem acontecendo há muito tempo. O número de favelas por todo o planeta é algo assombroso e preocupante. O urbanista estadunidense Mike Davis revela, por exemplo, que a situação da África é a mais extremada. A esperança de atenuar a pobreza urbana desapareceu de qualquer estimativa oficial, quando o FMI e o Banco Mundial observaram que as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU para a África não se cumpririam até 2015, i.e, não seria atingida por várias gerações. A África subsaariana, por exemplo, só obteria educação primária universal em 2130, uma redução razoável da pobreza em 2150 e a eliminação da mortalidade infantil evitável apenas em 2165. Até 2015 a África negra terá mais de 330 milhões de favelados, número que continuará dobrando a cada quinze anos. Tal realidade não é diferente para a América Latina, Ásia, Oriente Médio e Leste da Europa. Todavia, a maior concentração de miséria ou de indigência social está concentrada nas nações que se livraram do jugo colonial apenas há algumas décadas.

Nesta direção, pensar o impacto ambiental do planeta é repensar a sociedade em que vivemos. Uma sociedade carcomida pela exploração intensiva da força de trabalho dos seres humanos; pela desqualificação do trabalho feminino e utilização da mão de obra escrava em muitos países; da exploração do trabalho infantil e da ausência de escolaridade básica para milhões de crianças em todo o mundo. Os chefes de Estado em Copenhague, cada qual olhando para o seu próprio umbigo, não deram respostas satisfatórias e suficientes para a humanidade. Reduziram as esperanças de um mundo mais justo, acreditando por certo que haverá planeta ‘sustentável’ daqui a algumas décadas (como se isto fosse possível sem a interferência humana). A Conferência de Copenhague foi a demonstração autêntica de como o corporativismo industrial internacional não mede qualquer esforço em fazer valer suas metas lucrativas e a expansão de seus mercados, ainda que à custa de vidas e do planeta que nos subsiste.





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