O cenário de disputa
eleitoral que se descortina no ano que vem além de não trazer novidades que
tensionem os grandes temas nacionais, expressa um panorama em que as alianças
partidárias (indiferenciadas em suas bases programáticas) continuam a perpetuar
o velho e conhecido fisiologismo político. As contrarreformas trabalhista e
previdenciária foram o mantra deste governo, que só não definhou inteiramente
porque o toma lá da cá de cargos e mata-bichos lhe deram a sustentação
necessária para que os ataques sistemáticos à classe trabalhadora ganhassem
terreno. O apoio do setor industrial tem sido exemplar também neste quesito.
Não são os políticos
profissionais que se locupletam com vantagens pecuniárias e os deleites da
promíscua relação entre o público e o privado que têm determinado as diretrizes
governamentais. Se tivermos a compreensão de que a definição de Estado ampliado
se traduz no âmbito da sociedade política e civil, identificaremos que é
justamente na sociedade civil que temos os estratos de classe posicionados,
estrategicamente, operacionalizando as políticas públicas em vigor. A disputa
hegemônica e, por conseguinte, as forças sociais em luta, travam-se em
diferentes arenas. Como bem assinala a historiadora Virgínia Fontes, na
sociedade civil temos os clubes, as associações, os grupos midiáticos, as
igrejas, os partidos políticos oficiais, sindicatos, escolas e entidades dos
mais diversos fins. Ainda que sejam partidos não eleitorais, são capazes de
aglutinarem amplos setores sociais, atuando efetivamente como forças políticas. Assim, todas as
mudanças que ocorrem estruturalmente no país, relacionadas ao mundo do trabalho
e ao processo formativo na escolarização básica, são decisões políticas e
econômicas, mas não necessariamente populares. Por este motivo, podemos afirmar
– e concordando com Virgínia Fontes – de que a base programática da educação
pública no Brasil é atualmente uma “base programática empresarial, borrando as
diferenças entre programas partidários frente às práticas de adoção ou
parcerias empresariais com escolas públicas, acatadas por elites de quase todos
os partidos”.
A irrelevância e/ou a
indiferenciação crescente dos partidos políticos no Brasil torna o ritual das
eleições uma mera formalidade. Assim, a ‘crise da democracia’ é a crise do
modelo (neo)liberal, que ao fazer os seus ajustes macroestruturais não perde de
vista a elevação das taxas de lucro, submetendo imensa parcela da população
brasileira à indigência e ao endividamento.
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