segunda-feira, 2 de outubro de 2017

MAGISTÉRIO: IDENTIDADE FERIDA

O educador Paulo Freire certa vez expressou que as professoras e os professores no Brasil estariam feridos como seres de compromisso, tendo em vista que suas identidades profissionais reiteradamente são desqualificadas pelas políticas públicas educacionais vigentes. O desmonte dos serviços públicos de maneira geral, onde o campo educacional se insere, por meio de políticas privatizantes e assentadas numa racionalidade empresarial, também compõem este triste cenário aonde a ideia de ‘público’ vai se tornando mera miragem.
Quando apresentadores de tevê muito bem remunerados são contratados por universidades privadas para serem garotos-propaganda na oferta de cursos em nível de licenciatura, as chamadas publicitárias nos outdoors destacam que tais cursos podem representar um ‘bom complemento de renda’, como se o fato de ser professora ou professor no Brasil fosse apenas um bico. De fato, trata-se da uberização do magistério, onde o indivíduo e os seus esforços contínuos são mais importantes do que a sociedade e o bem comum. Direitos garantidos colocados em xeque, reforma da previdência em curso e o avanço de movimentos ultraconservadores que querem ‘enquadrar’ professores por supostos crimes de assédio ideológico, também são aspectos importantes se quisermos analisar os efeitos da desistência sistemática de jovens professores na Educação Básica. Além disso, há a permanência nefasta da dualidade estrutural educacional em nosso país, que possibilita conhecimentos sistematizados para os filhos (ou herdeiros) das classes proprietárias e o acolhimento social (com rudimentos de leitura e escrita) para crianças e jovens da classe trabalhadora.
Professoras e professores deveriam ser bem valorizados e respeitados como princípio ético de uma nação, pois seus ensinamentos reverberam nas futuras gerações. Todavia, com a profunda desqualificação, desprofissionalização e desintelectualização dos profissionais do magistério pelo Estado neoliberal, toda sorte de violência física e simbólica acabam ganhando os territórios escolarizados, desmotivando os jovens professores ingressantes e embrutecendo os professores em carreira que necessitam se desdobrar em cargas horárias elevadas de trabalho para receberem um salário aquém do digno. As reformas verticalizadas na Educação Básica, especialmente no Ensino Médio, e todas as decisões que implicam diretamente em práticas políticas e pedagógicas, já não são mais amplamente discutidas/debatidas com os professores por este modelo de Estado. Cuidar dos professores é cuidar de processos formativos consistentes. Cuidar dos professores é reconhecer, acima de tudo, que estes trabalhadores têm uma importância estratégica para que a formação humana se constitua, efetivamente, de maneira integral, sob os aspectos éticos, estéticos, políticos e culturais. Os professores deste país (tão árido e desesperançoso, ultimamente) clamam por valorização profissional e respeito da sociedade, que não raramente também destrata estes trabalhadores.




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