quarta-feira, 11 de junho de 2008

Diretores no parque de diversões





Por Jéferson Dantas


Seria trágico, se não fosse obsceno. Mil e quinhentos diretores das escolas públicas estaduais de Santa Catarina foram convocados para um encontro nos dias 5 e 6 de junho no município de Penha, onde está instalado o parque de diversões do Beto Carrero World. Deve-se levar em conta que na ‘convocação’ dos diretores não havia qualquer pauta. Muito estranho, já que se tratava de formação continuada dos ‘gestores’ educacionais.

Além disso, alguns elementos obscuros se imiscuem nesta pretensa formação: o ano eleitoral municipal. Não é segredo para ninguém que os diretores indicados pelo governador (cargos de confiança) são instrumentos fundamentais em épocas de eleição, já que são cabos eleitorais fervorosos. Tendo este triste panorama como tela, podemos inferir o quanto o processo de politização e democratização nas escolas públicas estaduais catarinenses está tangido pela prática das ameaças; a discussão permanente do currículo escolar em vigor e, sobretudo, a aposta qualificada na formação contínua dos educadores/as tem ido para as calendas gregas. Aliás, pelo calendário oficial da Secretaria de Estado da Educação, os dias de formação continuada foram arbitrariamente determinados em toda a rede pública estadual; todavia, não houve qualquer investimento ou ajuda de custo para que as escolas e centros de educação infantil pudessem articular a vinda de palestrantes ou oficineiros em tais dias determinados (alguns dias de formação acontecerão no recesso escolar). Soma-se a isto o fato da formação continuada não ser contabilizada como ‘dia letivo’ numa leitura enviesada da LDBEN 9.394/1996 pelos técnicos educacionais.

Enquanto os diretores das unidades de ensino estaduais se divertiam na montanha-russa (encarada como atividade cultural), outros diretores se dividiam em palestras (esvaziadas) que, provavelmente, pouco acrescentarão na mudança das práticas pedagógicas e na forma de se gerir a ‘coisa pública’. Não há como escamotear a intencionalidade de propaganda política neste evento. Diretores ganharam agasalhos e kits de apoio pedagógico. Seria uma estratégia de ‘massagear’ o ego destes profissionais? Tal panorama nos convida para uma reflexão aguda sobre o que a sociedade catarinense precisa reivindicar por uma educação, efetivamente, de qualidade, compromisso social e eticidade.



2 comentários:

A Homilia disse...

A lucidez sempre fez questão de te acompanhar. Os casos mais obscuros seriam apenas fortuitos se não fosse a percepção de pessoas como o Jef. Mudando de assunto, tomei a liberdade de "linká-lo" ao meu blog, espero que não se importe. Abraços

anna disse...

Nossa, mais é muito oportunismo! O que me deixa mais "triste" é saber que é muito difícil deslocar 1500 pessoas, e em uma oportunidade como essa poderia-se debater 'n' fatores sobre as escolas estaduais... Sem bem que a maioria dos "confiados" teria pouco a atacar com o chefinho na frente dos olhos!