terça-feira, 24 de janeiro de 2006

A permanência do preconceito


Portal Aprendiz, 23/01/2006

Professores negros não chegam a 1%

Na tentativa de corrigir as desigualdades raciais, cada vez mais universidades separam vagas para negros no vestibular. Enquanto isso, na outra ponta da sala de aula, um problema da mesma natureza continua sem atenção: o número insignificante de professores negros no ensino superior. Quem chama a atenção é o antropólogo José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB). No ano 2000, ele fez uma espécie de censo racial em 12 importantes instituições de ensino superior. A conclusão: num país em que 45% da população se declara negra (preta ou parda), o número de professores dessa raça não chega, em média, a 0,7%.
O índice mais baixo foi na instituição de ensino e pesquisa mais conceituada do País. Dos 4.705 professores da Universidade de São Paulo (USP) em 2000, só cinco eram negros (0,1%). "Os números são escandalosos. É difícil encontrar outra explicação que não seja o racismo", diz Carvalho, que fez o levantamento para o livro Inclusão Étnica e Racial no Brasil (Ed. Attar). Na raiz desse problema, segundo o antropólogo, está a dificuldade que os negros têm para chegar à universidade pública. Dos estudantes que se inscreveram no vestibular deste ano da USP, 23,1% eram negros. Na segunda fase do concurso, o grupo de negros caiu para 12,9%.
Para Carvalho, as universidades só têm a perder com a exclusão racial na docência. "Com mais negros, o leque de temas tratados na academia se torna mais variado, chegam mais conhecimentos novos. A experiência pessoal do professor faz diferença." O hoje professor Renato Emerson dos Santos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), sentiu a ausência de negros quando procurou orientador para seu projeto de mestrado. Formado em Geografia, ele queria tratar da segregação racial. "Fui desencorajado por quatro professores. Disseram que o tema não tinha nada a ver. Consegui fazer o mestrado porque aceitei abordar outro tema", ele afirma. Santos estava entre os 30 professores negros identificados na Uerj em 2000. Ele, porém, diz conhecer não mais que 12.
Para o autor do levantamento, o tema precisa ser debatido porque "o poder no país passa pelo professor universitário". Ele cita exemplos, como Cristovam Buarque, reitor da UnB e depois ministro da Educação, e Carlos Lessa, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) antes de presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Ministério da Educação prometeu abrir 4 mil vagas para professores nas universidades federais até 2007. Para Carvalho, que é branco e ajudou a criar o sistema de cotas para vestibulandos negros em Brasília, essa é a chance de levar as ações afirmativas para a docência. Ele sugere que o professor negro tenha "acesso preferencial". "É diferente da cota. Se cinco são aprovados para três vagas, os negros teriam preferência." A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) pode ser a primeira a adotar o critério. A idéia foi aprovada pelo conselho universitário e agora aguarda a decisão do governo estadual.

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