quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Queda de braço entre Andes e Mec ainda não terminou...



> Folha Dirigida, 17/01/2006 - Rio de Janeiro RJ

Técnicos e professores podem voltar a parar

Natália Strucchi

Ainda sem um acordo com o Ministério da Educação (MEC), o conjunto de técnico-administrativos das universidades federais pode retomar a greve iniciada no ano passado e que acabou após o governo se comprometer a atender parte das reivindicações da categoria. Após 48 dias de retorno às atividades normais nas instituições, com o novo calendário acadêmico em vigor, o coordenador-geral da Fasubra, sindicato nacional dos técnicos, João Paulo Ribeiro, garante que diante da falta de acordo com o MEC, outra greve pode ser a saída. "Diante de tanta intransigência, o jeito vai ser botar o bloco na rua. Ou seja, pode haver greve novamente", avisa.
Ribeiro conta que, no último dia 10, houve uma reunião com o ministério porém nada ficou acertado. "Tivemos ma reunião no dia 10 e o MEC se contradizia o tempo todo. Uma hora afirmava que era uma reunião de negociação, outra hora dizia que não", afirma. O dirigente explica que a verba prometida pelo MEC, durante as negociações da greve que durou mais de
100 dias, não vai mais ser repassada agora. "Durante a greve, o governo prometeu R$255 milhões em incentivo para capacitação e carreira. Agora não vai mais dar esse valor, alegando que não tínhamos fechado um acordo", reclama Ribeiro. Com a situação atual, o coordenador garante que a Fasubra continuará a lutar pelos seus direitos. "Estamos em uma situação crítica, ficamos mais uma vez na pior, com grande indignação. Vamos continuar forçando a barra, afinal ficou muito difícil. O governo jogou tudo para o segundo semestre".
Andes se revolta com paralisação do PL - O Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) também não está nada satisfeito com a atitude do MEC após a greve. Segundo a presidente do Andes, Marina Barbosa, o ministério paralisou o Projeto de Lei (PL) que estava em andamento na Comissão de Educação e Cultura da Câmara e que previa um reajuste salarial de 8,45% para a categoria. "O MEC simplesmente paralisou o PL para fazer algumas correções. Eles nem sequer avisaram isso para o sindicato. Ficamos
sabendo através da internet", reclama Marina. De acordo com a dirigente, o ministério não cumpriu o prometido. "A greve terminou e nós continuamos na mesma. O ministério não fez nada e ainda pretende diminuir nosso salário. Vamos denunciar à sociedade e ao Congresso qual o verdadeiro caráter do MEC", avisa a presidente do Andes. O sindicato vai tentar conseguir uma audiência no ministério, construir um calendário de lutas para reivindicar direitos e debater a campanha salarial de 2006. "Em janeiro já deveríamos receber o que tinha sido combinado com o ministério e não deve acontecer. Está marcada para 12 de fevereiro nossa próxima reunião nacional, para decidirmos que decisão tomar", declara. Sobre outra possível greve, Marina afirma que os professores não pensaram na questão, mas vão acompanhar tudo o que está acontecendo para decidirem o que fazer. "Vamos realizar muitos debates para resolver esta questão. Queremos primeiro trabalhar no acompanhamento das coisas", conclui a presidente do Andes.
Secretário desmente acusações dos sindicatos
O secretário-executivo adjunto do MEC, Ronaldo Teixeira, declarou que ambas as situações citadas são inverídicas. "No que diz respeito aos professores, o projeto está no Congresso e estamos fazendo grande esforço para sua aprovação, que não terá contrariedade, aumento nunca tem contrariedade. Em relação aos técnicos, a implementação da segunda etapa está em curso através da formação de um grupo de trabalho e de comissões", afirma Teixeira. O secretário conta que, na reunião do último dia 10 com a Fasubra, os representantes discutiram o assunto. "Fizemos a reunião para tratar da instituição de grupos de trabalho para que possam realizar a implementação da segunda etapa do plano de carreira, que é uma conquista histórica dos técnicos-administrativos. Essas declarações da Fasubra me surpreendem parcialmente", garante.
Em relação às declarações da presidente do Andes, Teixeira diz que o encerramento da greve foi unilateral, diante da proposta feita pelo ministério. "Não foi, lamentavelmente, assinado um acordo. Na verdade, estamos implementando nossa proposta com a compreensão da maioria dos professores. O sindicato em si não assinou nada. Já o ProIfes, que é a outra Associação Nacional dos Professores, concordou conosco, mas também não assinou um acordo", explica.
Teixeira falou da proposta feita pelo MEC. "A nossa proposta contempla reivindicações históricas. Serão R$650 milhões este ano e R$770 milhões de impacto para o ano de 2007. Estamos convencidos que é uma proposta qualificada. Tanto é que os professores saíram da greve, mesmo que não houvesse acordo formal, e decidiram ser favoráveis à proposta". Quanto à retirada do PL do Congresso Nacional, o secretário novamente desmente a
versão apresentada. "O MEC não retirou o PL do Congresso Nacional, de forma alguma. Não só foi enviada a proposta ainda em dezembro, como a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, já se comprometeu junto ao ministro da Educação, Fernando Haddad, de solicitar urgência na votação", esclarece.
Segundo ele, o ministério está trabalhando na expectativa da volta dos trabalhos do Congresso para intimar a solução. "Se for votado agora ou em março, ainda sim o impacto é a partir de janeiro. Portanto é retroativo, não haverá nenhuma perda para os professores", explica. O dirigente reforça que a palavra dada pelo governo continua de pé. "A palavra empenhada pelo MEC, pelo ministro e pelo presidente continua de pé. Talvez todas as acusações tenham um viés político, de parte daqueles que tentaram manter a greve e não obtiveram sucesso", finaliza.

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