quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

O embrutecimento na relação pedagógica


Estou convencido de que o principal diferencial na formação de um graduando são as relações pedagógicas estabelecidas durante a sua vivência acadêmica. Ao integrar o quadro do magistério do Departamento de Estudos Especializados em Educação, em caráter temporário, tive contato com turmas da licenciatura (Letras Alemão/ História), e todo o trabalho desenvolvido deu-se no intuito de valorizar as experiências sociais e, principalmente, problematizar o inventário dos tempos de escola – ensinos fundamental e médio – dos graduandos. De acordo com a fala de um estudante de História, a disciplina que ministrei – Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1o. e 2o. graus – possibilitou a todos os seus colegas “expor em primeira pessoa” as angústias/dilemas da profissão. Na realidade, os encontros se transformaram em verdadeiros depoimentos dos tempos de escola, mediados pela legislação educacional vigente e referencial bibliográfico que tratava diretamente da função da escola pública e a valorização social do magistério.
Além dos debates acalorados, análises de casos e júris simulados, realizamos algumas dinâmicas de grupo, enfatizando a importância do carinho e do afeto. Foram momentos bastante marcantes, a ponto de alguns estudantes confessarem em grande grupo que depois dessa Disciplina, cresceu o desejo de serem professores da rede pública.
Mas, qual é a novidade deste relato aparentemente tão banal? Na verdade, algo bem simples. Há um elevado contingente de educadores espalhados pelos diversos centros da UFSC que têm desprezado as experiências de vida dos seus educandos, agindo de maneira fria e distante, menosprezando a própria razão de ser do processo ensino-aprendizagem: a(s) troca(s) pedagógica(s).
Compreender este fenômeno no âmbito do universo acadêmico parece-me essencial, já que a coisificação nos relacionamentos humanos tem ganhado uma dimensão perigosa, levando muitos graduandos à desistência de seus respectivos cursos. Aponto, pois, a necessidade de que nós, educadores, formemos homens e mulheres melhores, sempre preocupados com o restauro emocional efetivo desta nova geração de profissionais. Do contrário, estaremos reproduzindo a competitividade desenfreada, a meritocracia e a estratégia da desqualificação do outro, tão típicas da sociedade capitalista. Temos acima de tudo um compromisso ético com os nossos educandos e isto significa evitar o embate cada vez mais dilacerante entre Eros e Tânatos.

Nenhum comentário: