segunda-feira, 5 de julho de 2010

Raulzito faria 65 anos de idade

Passados 21 anos desde o desaparecimento do cantor e compositor baiano Raul Santos Seixas (1945-1989), finalmente o roqueiro mais irreverente do país ganhará (provavelmente) seu primeiro longa-metragem. Trata-se de um filme-documentário que será dirigido por Walter Carvalho, mesclando imagens de arquivos de emissoras de tevê e outras encenadas indicando o início da carreira do músico. Apesar da inegável importância de Seixas no cenário musical brasileiro, até hoje não se realizou uma cinebiografia à altura de seu talento e muito menos uma biografia que contemplasse aspectos de sua existência que fossem além de chavões ou de cultos mitomaníacos.

Raul Seixas nasceu no dia 28 de junho de 1945 e se estivesse vivo estaria completando 65 anos. Iniciou sua carreira artística em Salvador sob a influência do rock e do baião de Luiz Gonzaga no final da década de 1950. Pertencente à classe média baiana, Seixas desde cedo tomou gosto pela literatura e queria ser tão importante quanto Jorge Amado. Porém, encontrou o seu caminho na linguagem musical.

Desiludido com o rock nacional da década de 1980 começou a compor de maneira mais espaçada e suas aparições públicas tornaram-se mais raras. Para Seixas, o rock nacional teria perdido a sua irreverência. As canções passavam a atender cada vez mais o mercado, transformando-se em meros produtos pasteurizados. O estético teria vencido o protesto.

O último trabalho musical de Raul Seixas foi realizado com o parceiro Marcelo Nova em 1989. Bastante debilitado e aplicando-se insulina regularmente, a emissão vocal titubeante de Seixas em nada lembrava o músico debochado e inventivo da década de 1970. Dentre os temas desta última obra estão os xiitas ecologicamente corretos, uma crítica bem humorada ao cantor inglês Sting, que esteve no Brasil posando de defensor da causa verde, reflexo do fenômeno arrivista que se agudizaria na década de 1990. Ainda sobram ironias para os livros mais vendidos do momento – os denominados best-sellers. As demais canções revelam momentos singulares da vida do músico, enfim, um inventário de sua produção artística. No dia 21 de agosto de 1989 o poeta anarquista embarcou num disco-voador e nos deixou um legado que tem acompanhado diversas gerações.

PELÉ E MARADONA


Pelé e Maradona: dois mitos da bola inquestionáveis. Pelé teve como a sua copa do mundo inesquecível o palco do México em 1970; Maradona, por seu turno, teve o mesmo palco do México para o brilho e o talento do seu futebol em 1986. As comparações e/ou semelhanças vão ficando por aí. Maradona volta e meia provoca Pelé e a imprensa argentina não se cansa de dizer que Maradona foi o melhor jogador do mundo de todos os tempos. São dois temperamentos distintos. O Maradona bufônico e intenso contrasta com o Pelé pragmático (quase fleumático) e empresário.

Suas histórias de vida também são distintas, mas vamos nos deter em suas personalidades. Maradona gosta de ver a sua imagem vinculada a outro mito argentino: Ernesto Che Guevara (1928-1967). Foi se tratar em Cuba devido a um processo de dependência química que quase abreviou a sua existência. Faz questão de chamar a atenção para si, e o seu personalismo ou a sua personagem desponta para ações que vão do excessivo afeto ou para a fúria destemperada. Já Pelé procura vincular a sua imagem ao filantropo, preocupado com as crianças pobres e sem escolaridade do Brasil. Sem qualquer vínculo político-ideológico consistente, Pelé é a personagem bondosa e caridosa, que no arquétipo de mito parece estar acima do bem e do mal. E nisso os dois se assemelham.

No brilhante livro do jornalista uruguaio Eduardo Galeano, Memórias do Fogo, o articulista relata a trajetória de Pelé e Garrincha, dois gênios da bola, mas também suas trajetórias distintas (Garrincha morreu na miséria). Pelé, literalmente, soube capitalizar seu nome a uma ‘marca’ conhecida nos quatro cantos do planeta. Ao se preocupar excessivamente com a sua personagem, não se deu conta de que um de seus filhos estava envolvido com consumo de drogas. A ficção e a realidade agora se confundiam.

A pretensa desavença destes dois ídolos do futebol alimenta a imprensa carnívora e temperou um pouco o mundial na África do Sul. No que se refere aos limites da coordenação técnica de Brasil e Argentina, Maradona representou a comédia e o drama, talvez calculadamente arquitetada; já Dunga, parecia ter saído dos porões da ditadura no melhor estilo ‘ame-me ou deixe-me’, liderando um escrete disciplinado, religioso e pouco dado à criação.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

A repressão em Santa Catarina


Por mais precário que seja o Estado de Direito em nosso país e todos os legalismos que o cercam, é certo que ações repressivas e autoritárias não condizem e não devem mais condizer com um país que aos poucos vai aprendendo a lidar com os limites da democracia. Nos vinte e um anos de ditadura militar (1964-1985), o Brasil experenciou o silenciamento dos movimentos sociais, da imprensa livre e de todos e todas que não concordavam com a política da mordaça e de seus vínculos nefastos com agências internacionais coniventes com a tortura e o desprezo às garantias individuais de cada ser humano. Nesta direção, Santa Catarina tem dado péssimos exemplos para todo o país.

A Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) foi invadida por rigoroso aparato repressor no último dia 31 de maio, num inequívoco desrespeito aos direitos constitucionais, à livre expressão e organização da sociedade civil representada, neste caso, por estudantes (desarmados e pacíficos). Houve quebra da inviolabilidade do espaço acadêmico; utilização de armas que emitem eletrochoques e que causam paralisia momentânea, estratégia também utilizada para reprimir professores recentemente no estado de São Paulo. Tais armas já estão sendo alcunhadas de ‘paus-de-arara portáteis’. A repressão se dá contra estudantes que lutam por um transporte coletivo de qualidade e que apresenta as maiores tarifas do Brasil, denotando as escolhas políticas do poder público municipal por práticas privatistas e desrespeitosas à população de uma maneira geral. Estudantes e professores da UDESC foram, literalmente, encurralados no campus do Itacorubi.

Neste sentido, está ocorrendo intensa mobilização por parte de educadores e professores da UDESC e da UFSC na denúncia e apuração dos fatos ocorridos no final de maio. Fatalmente, isto será levado ao ministério público como abuso de poder estatal (seria melhor dizer governamental). Fica-nos aqui uma referência vergonhosa de tudo aquilo que aos poucos vamos expurgando de nosso imaginário coletivo, mas que ainda está muito manifesta nas ações do Estado quando sem qualquer habilidade dialógica reprime, viola, tortura, agride e quer silenciar! Porém, a história nunca silencia.

OS CRÉDITOS DA IMAGEM SÃO DO JORNALISTA CELSO MARTINS.







quarta-feira, 26 de maio de 2010

EXCESSOS

Excesso de
não entender.

Muita coisa
não é
inteligência.

Mais vazio
do que
pretendias.

Quanto mais
enxuto
mais inteireza.


Eis
a faca no pescoço!

Quando
será o
mergulho?

domingo, 25 de abril de 2010

A PRESSA QUE MATA

frágil existência.

a raridade
da
entrega.

notícias
tristes
que
reorientam
a vida célere
e absurda!

nebuloso dia
dum cinza
metálico
enfático.

a vida
se perde entre os
dedos
como a
areia da
ampulheta.


quinta-feira, 15 de abril de 2010

DO QUE É DO HUMANO - LIVRO DE JÉFERSON DANTAS

O livro 'Do que é do humano' é formado por pequenos contos, numa linguagem simples e direta. Confira! Clique no título acima e boa leitura!

Saudações literárias!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O amarelo do tempo

à mesa
com papéis amarelos
a me contar coisas
que vivi
e isto
era estranhamento.

palavras que
teriam brotado
de minha boca 
em algum
momento.

eu que
teria paralisado
em alguma
'outra vida'
agora retomava isso
misturado
e suspenso.

pois que agora
o que via
era um novo-antigo
que 
aperfeiçoava
o que havia
esquecido.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA

Por Jéferson Dantas

Em relação à matéria dominical do jornal AN (28/02/2010) sobre os vinte anos de desaparecimento do ex-governador de Santa Catarina, Pedro Ivo Campos, penso ser importante ressaltar controvérsias para que não tenhamos uma visão unilateral deste personagem político, notadamente proveniente de seus antigos aliados e correligionários. 

O governo Pedro Ivo Campos representou a vitória de um PMDB moderado, para não dizer conservador. Depois dos anos de chumbo e de um processo de redemocratização ainda capengo, Pedro Ivo assumiu o governo sem demonstrar qualquer compromisso com o Plano Estadual de Educação (PEE) construído a duras penas pelos/as educadores/as de todo o estado de Santa Catarina durante o governo Amin (1983-1986). Além disso, na primeira greve do magistério durante o seu governo (1987-1990), agiu de forma truculenta e autoritária lembrando os momentos mais torpes do período ditatorial no Brasil. Foram mais de dezessete mil professores demitidos. Perguntado sobre as lacunas pedagógicas que estes educadores deixariam, Pedro Ivo Campos teria respondido com o seu ‘jeito peculiar’: “Quem leciona Geografia pode lecionar História”. Alheio às complicações pedagógicas que tal ação poderia proporcionar, seu governo conseguiu desmobilizar as eleições diretas nas escolas, além de destruir todos os propósitos contidos no PEE.

Como bem nos ensina o historiador inglês Eric Hobsbawm em sua obra 'Era dos extremos', cabe aos historiadores lembrar o que a humanidade já esqueceu. Nesta direção, nenhuma herança política ou cultural deve ser analisada de forma pragmática, sem mediação e tensionamentos. Ao traçar o perfil deste político, entendo que o próprio discurso jornalístico desconsidera os antagonismos e a opinião de milhares de pessoas que não compartilham de tal pensamento único e homogeneizante.

O reacionarismo do governo Pedro Ivo Campos não era o mote de tal homenagem, pois via de regra, parece-nos que os mortos se deificam e nada mais pode macular a sua imagem. Ao identificar tais mediações e conduzir a análise para além de uma homenagem a - histórica, poderíamos ter um quadro mais honesto de sua herança política e isto exigiria ouvir diversos sujeitos históricos. Uma análise epidérmica e cronológica não possibilita aos leitores compreenderem a construção da personalidade política de Pedro Ivo Campos, tampouco as reestruturações internas de sua legenda partidária, bastante afastada nos dias atuais dos propósitos concernentes ao chamado ‘MDB histórico’.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Neoconservadorismo e consenso educacional



Por Jéferson Dantas

As recentes reformas educacionais oficiais em nosso país nas duas últimas décadas, notadamente no campo curricular e no processo de formação docente, têm demonstrado a permanência de um modelo escolarizado público profundamente enraizado no etnocentrismo, ‘branquidade’ e sexismo, conforme estudos do teórico crítico estadunidense Michael Apple. Além disso, os sistemas públicos de ensino estão nas mãos de sujeitos pouco afeitos ao diálogo e, sobretudo, comprometidos com suas alianças partidárias. Em outras palavras – e Santa Catarina não foge à regra –, impera o fisiologismo político num setor que necessita de mudanças efetivamente estruturais.

Não é segredo para ninguém os lamentáveis índices de reprovação e de evasão em unidades de ensino em que boa parte de seu público escolar é proveniente das camadas sociais mais pobres. O desequilíbrio de capital escolar e de transmissão de bens culturais ou simbólicos para crianças e jovens em tal contexto é resultado de uma prática recorrente, i.e., em tais ambientes de aprendizagem estão concentrados/as os/as educadores/as mais despreparados/as para enfrentar tal realidade, não sendo raro o absenteísmo docente; produtividade escolar pífia; ausência de critérios de avaliação coadunados com uma prática educativa emancipatória e, fundamentalmente, pouquíssima valorização salarial da classe docente. Para os neoconservadores, é mais importante que as escolas assumam currículos desprovidos de dissenso e que a reprodução dos valores hegemônicos continue fazendo parte do desalentador cenário escolar que temos em nosso país.

O recente resultado do ENEM (Exame nacional do Ensino Médio) demonstrou mais uma vez que em tal ‘lógica de ranqueamento’ as escolas públicas quase sempre levam a pior. Isto não significa que os/as educadores/as não se esforçam, muito menos os/as estudantes. Todavia, não se pode ter uma educação de qualidade sem que outras questões sociais fiquem em segundo plano. Uma criança ou jovem desprovida de capital econômico e cultural é a que mais necessita do capital escolar. Mas, não por acaso é a que mais abandona a escola e a que mais tarde terá maiores dificuldades de empregabilidade. Nesta direção, o consenso educacional defendido pelos neoconservadores procura imprimir uma marca indistinta no que compreendem ser os ‘verdadeiros valores’ a serem ensinados, prescindindo as comunidades escolar e local de suas próprias escolhas teórico-metodológicas. Como nos ensina Apple, faz sentido um currículo oficial nacional num país de dimensões continentais como é o caso do Brasil? Ou melhor: faz sentido uma escola burocratizada, hierarquizada, verticalizada e usada como moeda de troca em conchavos eleitorais?



quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Tantas palavras...

exigindo
palavras obtusas
às duas da matina.

querendo
explicação
de tudo
o que não sabe.

e eu filosofando
cartesianas
verdades
no vislumbre
da tarde.

agora me
reconhecias.

e podias
partir
repleta
de vazia existência.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010



PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

Publicado originalmente no Jornal Notícias do Dia

 
O terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos lançado pelo governo Lula há algumas semanas está mexendo com três vespeiros clássicos em nosso país: militares, Igreja Católica e o agronegócio. No que tange ao primeiro aspecto, os militares compreendem que o documento apresenta elevado teor ‘revanchista’, principalmente com a proposta da ‘comissão nacional da verdade’, que tem por finalidade um exame minucioso do aparato repressor que grassou pelo Brasil em mais de 20 anos de ditadura. Evidente, que para o torturador do regime militar, agia-se em nome da defesa de princípios democráticos, ainda que a imprensa tenha sido amordaçada, houvesse todo e qualquer tipo de violação individual e a Constituição Federal tenha sido rasgada ao meio. Isto demonstra por um lado o sério e dificultoso processo de enxergarmos as nossas chagas históricas recentes, eliminando de forma preocupante as suas evidências e os seus algozes.

Já a Igreja Católica importunou-se com a possibilidade da retirada de símbolos religiosos de repartições públicas. Ora, nada mais justo, afinal tais espaços sociais de trabalho são laicos e não devem fazer menção a qualquer tipo de religião. Todavia, com a sua trajetória em nosso país desde a colonização portuguesa ocorrida no século XVI, a Igreja Católica tem interferido em vários domínios sociais, fundamentalmente aqueles associados à educação. Além disso, não deixa de ser polêmica a descriminalização do aborto, assunto caro para os vetustos representantes do Vaticano.
 
Por fim, o programa ao bater de frente com o agronegócio enfrenta adversários no Congresso Nacional (ala ruralista) dispostos a não permitir que a grande escala de produção agrícola que beneficiam em grande medida poucas famílias e empresas, deem lugar aos subsídios relevantes à agricultura familiar. O programa também prevê a regulamentação dos mandados de reintegração de posse fundiária, um novo estatuto para os povos indígenas e a taxação sobre grandes fortunas (já conjeturada desde a aprovação da Constituição Federal em 1988).
De fato, o programa como um todo apresenta imperfeições e, possivelmente, muitas de suas intenções não sairão do papel. A discussão de tal documento nos vários âmbitos da sociedade brasileira foi muito frágil, para não dizer quase inexistente (apresentada em formato eletrônico e no período das festas de final de ano). Por outro lado, seus princípios são muito valiosos, já que representam questões sociais não resolvidas neste país, tais como o latifúndio improdutivo, imposição hegemônica religiosa e a impunidade dos torturadores. Se o programa vai vingar, não se sabe. Mas, a polêmica está lançada! 
                                                                                                                                                                                        

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os limites de Copenhague

 

A 15ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em Copenhague, Dinamarca, foi literalmente uma ‘vergonha’, como bem apontaram os manifestantes presentes no lado de fora do encontro. Evidente que havia outros interesses por parte de alguns chefes de Estado em participar de um evento como esse, pois isso capitaliza visibilidade internacional, uma possibilidade de assento no Conselho de Segurança da ONU, tratativas comerciais diferenciadas, fortalecimento de nações não hegemônicas, etc. Mas, os limites de um acordo sobre a emissão de gases poluentes e de qualquer ameaça ao planeta Terra não podem estar descolados dos limites do Capitalismo. E isto significa perceber, analisar e avaliar outros prejuízos sociais em tal contexto.

A destruição da Terra já vem acontecendo há muito tempo. O número de favelas por todo o planeta é algo assombroso e preocupante. O urbanista estadunidense Mike Davis revela, por exemplo, que a situação da África é a mais extremada. A esperança de atenuar a pobreza urbana desapareceu de qualquer estimativa oficial, quando o FMI e o Banco Mundial observaram que as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU para a África não se cumpririam até 2015, i.e, não seria atingida por várias gerações. A África subsaariana, por exemplo, só obteria educação primária universal em 2130, uma redução razoável da pobreza em 2150 e a eliminação da mortalidade infantil evitável apenas em 2165. Até 2015 a África negra terá mais de 330 milhões de favelados, número que continuará dobrando a cada quinze anos. Tal realidade não é diferente para a América Latina, Ásia, Oriente Médio e Leste da Europa. Todavia, a maior concentração de miséria ou de indigência social está concentrada nas nações que se livraram do jugo colonial apenas há algumas décadas.

Nesta direção, pensar o impacto ambiental do planeta é repensar a sociedade em que vivemos. Uma sociedade carcomida pela exploração intensiva da força de trabalho dos seres humanos; pela desqualificação do trabalho feminino e utilização da mão de obra escrava em muitos países; da exploração do trabalho infantil e da ausência de escolaridade básica para milhões de crianças em todo o mundo. Os chefes de Estado em Copenhague, cada qual olhando para o seu próprio umbigo, não deram respostas satisfatórias e suficientes para a humanidade. Reduziram as esperanças de um mundo mais justo, acreditando por certo que haverá planeta ‘sustentável’ daqui a algumas décadas (como se isto fosse possível sem a interferência humana). A Conferência de Copenhague foi a demonstração autêntica de como o corporativismo industrial internacional não mede qualquer esforço em fazer valer suas metas lucrativas e a expansão de seus mercados, ainda que à custa de vidas e do planeta que nos subsiste.





sábado, 19 de dezembro de 2009

Furacão

todo dia
todo dia


eu me lembro


do que fui.


todo dia
todo dia


voz de furacão!

Escuta

é uma
forma de percurso
isso
que aqui está.

não posso
duvidar
da quimera
e nem da
rosa.

a vida
desta maneira

e o segredo
roto
a nos humilhar...

suas
sapatilhas
de desenhos
gélidos.

e a
palavra
doce
deste 
dia-inverno.

eu saberia te escutar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Livro de Jéferson Dantas na vitrine virtual AGbooks

DO QUE É DO HUMANO


Por: Jéferson Dantas
"Para entender devo me calar de maneira monástica. Retrucar seria inglório. Observar o gesto, as palavras cortantes que brotam daquela boca como ameaça sistemática. E às vezes nem era isso que ardia profundamente. Apenas o prazer de machucar, lanhar e depois cuspir. [...]. E sei que gostava de umas sujeiras; de umas ofensas cabalísticas, que findava no deleite do quartinho, onde se debulhava inteira na excitante orgia".

Autor: Jéferson Dantas
Tema: Literatura Nacional, Ficção, Poesia
Palavras-chave: existencialismo, ficção, modernidade, poética, prosa
Número de páginas: 40
Peso: 80 gramas
Edição: 1 ( 2009 )




sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ASSIM

nesta
dança
um pouco de tua

luz


vi
tua pele
alva
e incandescente


e esta
chama
que ainda
arde

era
de manhã
no tempo
que
escolhemos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ÉGAB


o que eu sabia
era
o segredo
da casa.

casa-gelo
e ventania.

por certo
outra vida.

nem sequer
palavra
ou
distância.

égab,
a herança
tatuada
n'alma!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Alheio


sentado aqui
vejo estas pessoas
que
se arrastam
corpos pesados
e lamentos.

e devagar
te sopro
versos
e te ensino
coisas
que julgara
ter esquecido.

ah! a manhã
que me traz
a loba-luz
que me trai
reclusão!

já não procuro
tua boca.
e aqui
de perto
olho estas pessoas
e
não desperto...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Três


tu só
assim
em noites

a querer
voar
e a
querer
partir.

e não te
moves.

e assim
te
plantas
na cama
a morder
fronhas
e sonhos

como se
um
anjo
pudesse
lhe salvar...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

DOIS


estas horas
que não passam.

e a principal
novidade
na cidade
é uma tevê
digital
num boteco
onde
os ratos
são fregueses.

e estas horas
que não passam.

e esta tinta
tão borrada
a
pintura
d'alma
que se escapa...

UM


a janela
deixa entrar
isso
que não é meu.

és
a bota
na garganta
a me
sufocar.

e eu me desfaço
desta tua
pouca alegria

e ímpeto
de amar!



CRÉDITOS DA FOTO:
DANIEL PEDROGAM

quarta-feira, 1 de julho de 2009

HOMENAGEM A UM GRANDE INTELECTUAL



Por Jéferson Dantas

O sociólogo Paulo Meksenas, de maneira precoce, deixou-nos no dia 22 de junho. Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1984), Mestre em Didática pela Universidade de São Paulo (1993) e Doutor em Educação pela Universidade
de São Paulo (2001), Meksenas era professor adjunto IV da Universidade Federal de Santa Catarina e atuava no Programa de Pós-Graduação em Educação onde, entre outras atividades, ministrava a disciplina de Educação e Epistemologia. Na
Licenciatura em Pedagogia ministrava as disciplinas de Pesquisa e Prática Pedagógica I, II III e IV. Autor de inúmeras obras e coordenador de atividades de extensão, Meksenas descobriu tardiamente que estava com câncer. A convivência pessoal e intelectual com este grande educador marcou, profundamente, a vida de muitos estudantes, futuros educadores e colegas de ofício, que puderam desfrutar de sua sabedoria e de sua generosidade ao tratar de temas tão espinhosos e caros ao processo educacional.

Como todo intelectual engajado e erudito, Meksenas nunca fugiu dos litígios concernentes ao processo de formação de educadores, enfatizando a importância politizadora no território escolar e, fundamentalmente, a necessidade permanente da pesquisa e leitura na Educação Básica. Nesta direção, condenava o ‘senso comum pedagógico’ e políticas públicas educacionais voltadas a uma produtividade acadêmica muitas vezes estéril e pouco propositiva. Apesar de toda a sua erudição, nunca se esquivava das indagações aparentemente ingênuas provenientes de seus discípulos, além de apresentar uma postura democrática e não arrogante no convívio acadêmico. Numa de suas últimas aulas na disciplina de Epistemologia e Educação recebeu o carinho e o respeito de todos os seus alunos, que foram, praticamente, unânimes em afirmar que a sua conduta como educador era irreparável, mesmo quando os autores estudados (Marx, Weber, Comte, Merleau-Ponty, Foucault, Thompson, Agnes Heller, Bourdieu, Nietzsche, dentre outros) apresentavam diferentes níveis de apreensão teórica e metodológica. Em outras palavras, Meksenas ‘tornava fácil’ o que era, aparentemente, penoso, quando se trata de autores fundadores do pensamento humano.

O legado de Meksenas é inegável. Quando um intelectual de sua envergadura nos abandona de forma tão abrupta, sabemos o quanto a nossa responsabilidade como educadores-formadores e/ou intelectuais orgânicos se eleva. Contudo, há de se avaliar também o autocuidado que muitas vezes nós, educadores, deixamos em segundo plano, tendo em vista que o mergulho nos embates com os nossos pares e com as ações políticas enviesadas no campo educacional podem nos fragilizar organicamente e psiquicamente. Em tempos escassos de referências humanas íntegras, Meksenas nos ensinou, sobretudo, que lutar por uma condição humana melhor e por uma educação pública de qualidade é o princípio-mor de uma sociedade justa, solidária e igualitária.

CORAGEM PARA MUDANÇA!




Por Jéferson Dantas

A maneira cuidadosa ou mesmo eufemística de tratar o presidente do Senado, José Sarney, como ‘patriarca’ (melhor seria dizer ‘oligarca’) representa, em grande medida, a dificuldade que a mídia de massa tem em enfrentar lideranças políticas que se empoderaram à custa da ignorância pública e da corrupção estrutural que grassa este país. Amigo pessoal de Antônio Carlos Magalhães e abrigado em legendas partidárias conservadoras, Sarney tem tentado reeditar no Senado a velha prática clientelista e/ou patrimonialista herdada de nosso passado colonial. Eleito senador pelo Amapá, - numa evidente manobra política para continuar se perpetuando no poder - Sarney começa a vislumbrar o término de uma carreira política construída nos porões da ditadura e, ironicamente, prosseguida com o período de redemocratização do país (1985), quando legou de forma indireta a presidência da República com a morte de Tancredo Neves (membro da mesma chapa no Colégio Eleitoral).

Creio que, se pudéssemos medir os efeitos perversos e nocivos do custo social das oligarquias no Brasil ao longo de séculos, teríamos um quadro, efetivamente, devastador (e desanimador). Tais práticas calcadas no clientelismo, favoritismo e nepotismo, apresentam uma intimidade bastante tênue com o atraso social, representadas na deficiente prestação de serviços públicos essenciais. Não cabe, pois, defender quem sempre soube que cometia erros premeditados, crente na impunidade. A sensação é de que se tais ‘ranços’ forem extirpados das práticas políticas democráticas de cunho representativo e se houver possibilidades concretas de barganha originárias da sociedade civil, teremos outros níveis de entendimento democrático, que condenarão ‘atos secretos’, ‘compras de votos’, ‘alianças espúrias’ e ‘guerra declarada por cargos públicos’.

O inferno astral do presidente do Senado está apenas começando. Muitos outros parlamentares envolvidos e mancomunados com tais práticas terão de responder publicamente pelos seus atos. Aos poucos, o Brasil inicia o processo de prestação de contas com o seu passado, o que significa repensar o domínio permanente de determinados clãs políticos; a acessibilidade social dos historicamente excluídos; e, fundamentalmente, compreender as novas reconfigurações dos movimentos sociais, que poderão ser determinantes na reavaliação contra-hegemônica pautada numa agenda de ação coletiva plural e antissectária.

terça-feira, 9 de junho de 2009

JÉFERSON DANTAS ENCERRA TRILOGIA COM PUBLICAÇÃO NO CLUBE DE AUTORES

Do que é do humano
Non omnia possumus omnes

Cover_front_medium

Autor: Jéferson Silveira Dantas
Descrição:
Prosa poética de caráter ficcional, profundamente associada aos dilemas existenciais da espécie humana (estertores, erotismo, falibilidade e suspensão).

Link do site: http://clubedeautores.com.br/book/2133--Do_que_e_do_humano
Preço de venda: R$ 26,75

Edição: 1ª (2009)
Número de páginas: 40

Tópicos: Literatura Nacional.
Palavras-chave: ficção, humanidade, prosa.


terça-feira, 2 de junho de 2009

JÉFERSON DANTAS LANÇA LIVRO NA FAED/UDESC



O QUÊ: Coquetel de lançamento do livro 'COMPETÊNCIAS E HABILIDADES E A FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DAS LEIS 5.692/1971 E 9.394/1996 EM SANTA CATARINA, editado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) do Rio de Janeiro/RJ.

► QUANDO E ONDE: Dia 9 de junho (3a. feira) às 19h no Auditório da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (FAED/UDESC), Campus do Itacorubi, Florianópolis/SC.

ENDEREÇO: Avenida Madre Benvenuta, 2007, Bairro Itacorubi.
► DADOS DA OBRA: A obra é uma síntese da Dissertação de Mestrado defendida pelo autor no ano de 2002 no Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (CED/UFSC) e orientada pelo Historiador e Professor Doutor Carlos Eduardo dos Reis (CED/UFSC). Fundamentalmente, esta pesquisa procurou investigar o processo de formação de educadores nos cursos de Magistério de Nível Médio em Santa Catarina e os documentos produzidos nas décadas de 1960,1970, 1980 e 1990 concernentes à estruturação curricular destes cursos.

domingo, 31 de maio de 2009

O “x”, o “y” e o “z” da Educação



Por Jéferson Dantas


Em recente pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada no dia 17 de março pelo Ibope (apresentada no Editorial do Jornal A Notícia do dia 18 de Março), o principal problema da educação básica pública para 19% dos brasileiros é a desmotivação docente. Em segundo lugar a falta de segurança e a presença de drogas nas unidades de ensino; e em terceiro lugar o número insuficiente de escolas. A baixa qualidade de aprendizagem é apontada por 9% dos entrevistados como principal problema na educação brasileira. Estes números se diferenciam dependendo do estado federativo onde foram realizadas as pesquisas.

As questões apontadas acima revelam apenas a ponta do iceberg. Para os/as educadores de uma forma geral, a questão desmotivacional está em primeiro plano, assim como revelou a pesquisa encomendada para o Ibope. Logo, entendo ser fundamental que os/as docentes consigam sair do plano da cotidianidade e se elevar ao plano da reflexão, que nada mais é do que uma ação investigativa e filosófica em relação às suas condições de trabalho. Em nenhum instante, contudo, devemos minimizar o processo desmotivacional, assim como o adoecimento docente como algo dissociado da violência estrutural impingida pela lógica do capital. A despersonalização do trabalho docente tem efeitos ruinosos principalmente no que tange ao processo ensino-aprendizagem, fazendo com que muitas vezes os educadores atribuam aos próprios estudantes a culpa pelo insucesso escolar.

Ainda que entendamos a dimensão exaustiva e conflitiva do trabalho docente, os elementos aparentes deste ofício necessitam ser descortinados para que se construa uma formação continuada que ultrapasse a mera incisão imediata ou reativa diante de tais demandas estruturais. Pois como já nos ensinava o filósofo espanhol Adolfo Sánchez Vásquez: “a essência não se manifesta de maneira direta e imediata em sua aparência, e que a prática cotidiana – longe de mostrá-la de um modo transparente - não faz senão ocultá-la”.

Assim, as experiências docentes estão vinculadas à universalidade destas relações de trabalho, pois a violência escolar, o adoecimento docente, a indisciplina, elevada carga laboral, baixos salários, pouco tempo para planejamento, gestões escolares verticalizadas, ausência das famílias na composição do projeto político pedagógico, são questões litigiosas e reconhecidas pela classe docente como primordiais. Porém, as experiências particulares da classe docente são irrepetíveis e podem se constituir em projetos pedagógicos diferenciados que leve em conta a superação do que está determinado pelas políticas públicas oficiais ou por construções curriculares etnocêntricas e esvaziadas de conteúdo político.

EDUCAÇÃO À DERIVA



Por Jéferson Dantas

Agressões em sala de aula, crianças e jovens vítimas do bullying eletrônico; ameaças sistemáticas envolvendo diferentes grupos de jovens, identificados pelas suas opções musicais, roupas, adereços, cabelos e espaços sociais compartilhados. Há muito as escolas públicas, notadamente (mas não só), têm se tornado o local privilegiado do ‘acerto de contas’, que ocorrem à revelia dos/as que estão à frente do processo educacional. E isso tem acontecido, frequentemente, com adolescentes do sexo feminino, numa demonstração de força e sustentação de liderança até então mais visivelmente associado aos rapazes. Os motivos das agressões, muitas vezes, são fúteis e torpes, como o que ocorreu recentemente numa escola estadual de Joinville. No filme-documentário do diretor João Jardim (Pro dia nascer feliz, 2007), esta realidade está bastante patente nas escolas públicas de periferia, tendo em vista que estes/as jovens estão mergulhados em contextos estruturais de violência e impossíveis de serem atendidos pelos mecanismos (pífios) de inclusão social da escola.

Contudo, a relação quase esquizofrênica envolvendo escolas e o aparato tecnoburocrático educacional, demonstra a sua total ineficácia e o jogo do ‘empurra-empurra’ no que concerne à responsabilização das demandas trazidas por esta juventude cada vez mais indiferente à escola. As gerências educacionais maximizam dinâmicas de controle em relação à obediência do calendário escolar, interpretando unilateralmente leis educacionais e retirando a autonomia das unidades de ensino quando a questão é centralmente pedagógica; mas, quando as evidências são de cunho estrutural, o Estado culpabiliza as escolas, enfatizando que as mesmas têm ‘autonomia’ para solucionar os problemas associados à violência.

Ora, se fizermos um mapeamento minucioso nas escolas estaduais catarinenses, provavelmente encontraremos centenas de relatos de violência envolvendo estudantes contra estudantes, educadores contra estudantes e vice-versa; além disso, as mínimas condições de trabalho não são respeitadas (banheiros estragados e fechados, preparo da merenda escolar sem condições de higiene, falta de água potável, tetos prestes a desabar na cabeça de estudantes e educadores, inexistência de áreas de recreação, etc.). Enfim, uma arquitetura escolar que oprime mais do que educa.

A relação ‘autista’ que as escolas têm com o aparato tecnoburocrático educacional produz, em última instância, o não diálogo e culpabilizações recíprocas que não equacionam questões emergentes, fazendo com que a Educação fique cada vez mais à deriva.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

DOCUMENTÁRIO MACIÇO

O grande problema do cinema nacional ainda é o velho gargalo da exibição e distribuição. Depois de produzido, quase sempre com recursos públicos, o filme precisa ser visto. Foi analisando essa característica da indústria cultural que a Cizânia Filmes criou o Circuito de Exibição Olhar.Doc, uma iniciativa que já começa com o apoio da Cinemateca Catarinense, do Funcine e de 16 pontos de exibição em Santa Catarina.A ideia é perpendicular à estrutura de um festival ou de um cineclube, pois ao invés de vários filmes serem exibidos num mesmo local, apenas um audiovisual será projetado em diversos pontos, acompanhado de um convidado que irá debater as questões estéticas com o público.“A gente nota que o público que frequenta uma determinada sala de exibição é cativo daquela rede de relacionamentos”, comenta Pedro MC, diretor do documentário “Maciço”, primeiro convidado do circuito. “A ideia é ótima, multidisciplinar e de grande alcance, ativando a rede dos pontos de exibição do estado”, afirma.O registro do olhar é a motivação de quem faz cinema, e nada melhor que um documentário para pensar, refletir e debater o mundo em que vivemos. Vencedor do Edital Cinemateca Catarinense / Fundação Catarinense de Cultura, “Maciço” tem 79 minutos de registro sobre as comunidades que compõem o maciço do morro da cruz, o mais denso enclave urbano da ilha.“A diversidade de temas e culturas é o foco do ‘Maciço’, que pode ser uma alegoria não só de Florianópolis mas do Brasil contemporâneo” afirma Karen Christine Rechia, produtora do filme. Após cada projeção do Olhar.Doc um ou mais convidados farão um debate a respeito dos temas suscitados no filme. Sobre o longa-metragem “Maciço”, que teve pré estreia no Cinema do CIC no dia 10 de março de 2009, as discussões não passam apenas sobre a produção, a narrativa e o mercado de audiovisual, mas também sobre a própria visibilidade das comunidades retratadas no filme.Para futuras projeções, que acontecerão livremente sem periodicidade definida, filmes catarinenses e nacionais já estão em negociação. Além de outros pontos de exibição com melhor infra-estrutura, como os cinemas dos shoppings, os espaços culturais das principais cidades do estado também vão entrar no circuito, sempre com exibições gratuitas.
Serviço: I Circuito de Exibição Olhar.Doc
Filme: Maciço
Direção: Pedro MC
Duração: 79 minutos
Ingresso: Gratuito
07 de Maio, 19h, Auditório Antonieta de Barros (ALESC)
Rua Doutor Jorge Luz Fontes, 310 Centro.
Informações: 48 3221.2500
Convidados: Vilson Groh, Jéferson Dantas, Karen Christine Rechia e Ed Soul
Mais Informações: www.olharpontodoc.blogspot.com
(48) 3025.5375 8405.5375 3304.2877

quinta-feira, 12 de março de 2009

Excomunhão e contradição



Por Jéferson Dantas


No estado de Pernambuco, uma menina de 9 anos foi violentada sexualmente pelo padrasto e engravidou de gêmeos. Em tal situação (estupro), levando-se em conta a idade da menina e para não colocar em risco a vida da mãe, o aborto é uma ação legalmente aceita no Brasil. Todavia, o reacionarismo clerical condenou/abominou tal atitude e excomungou a família e a equipe médica responsável pelo aborto. O porta-voz da condenação medieval foi o bispo de Olinda e Pernambuco, tendo suas declarações acolhidas imediatamente pelo Vaticano.

Durante mais de oito séculos a Igreja Católica comandou uma verdadeira caçada aos intelectuais e às mulheres ditas ‘diferentes’, ou seja, que não se enquadravam em seus preceitos eivados de ignorância e revanchismo. Em pleno século 21 o ranço medieval volta à carga com a infeliz declaração do bispo. Curioso e contraditoriamente, o papa Bento 16 afirmou ontem (dia internacional da mulher) que todas as mulheres do mundo sejam respeitadas em sua dignidade e potencialidade. No caso da menina pernambucana, pobre e vítima de violência sexual, o respeito à sua dignidade, pelo visto, passa ao largo.

Nenhum meio de comunicação razoavelmente digno de receber esta alcunha, eximiu-se de divulgar o caso e reprovar o tresloucado gesto do bispo, possivelmente alheio aos dramas humanos e o que significa para a saúde de uma criança de 9 anos estar grávida. É a mesma Igreja que condena as pesquisas em células-troco para salvar vidas e o uso de contraceptivos nos países miseráveis da África. Sem dúvidas, um episódio que expõe o anacronismo de uma instituição nefelibata.


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