quinta-feira, 4 de março de 2010

A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA

Por Jéferson Dantas

Em relação à matéria dominical do jornal AN (28/02/2010) sobre os vinte anos de desaparecimento do ex-governador de Santa Catarina, Pedro Ivo Campos, penso ser importante ressaltar controvérsias para que não tenhamos uma visão unilateral deste personagem político, notadamente proveniente de seus antigos aliados e correligionários. 

O governo Pedro Ivo Campos representou a vitória de um PMDB moderado, para não dizer conservador. Depois dos anos de chumbo e de um processo de redemocratização ainda capengo, Pedro Ivo assumiu o governo sem demonstrar qualquer compromisso com o Plano Estadual de Educação (PEE) construído a duras penas pelos/as educadores/as de todo o estado de Santa Catarina durante o governo Amin (1983-1986). Além disso, na primeira greve do magistério durante o seu governo (1987-1990), agiu de forma truculenta e autoritária lembrando os momentos mais torpes do período ditatorial no Brasil. Foram mais de dezessete mil professores demitidos. Perguntado sobre as lacunas pedagógicas que estes educadores deixariam, Pedro Ivo Campos teria respondido com o seu ‘jeito peculiar’: “Quem leciona Geografia pode lecionar História”. Alheio às complicações pedagógicas que tal ação poderia proporcionar, seu governo conseguiu desmobilizar as eleições diretas nas escolas, além de destruir todos os propósitos contidos no PEE.

Como bem nos ensina o historiador inglês Eric Hobsbawm em sua obra 'Era dos extremos', cabe aos historiadores lembrar o que a humanidade já esqueceu. Nesta direção, nenhuma herança política ou cultural deve ser analisada de forma pragmática, sem mediação e tensionamentos. Ao traçar o perfil deste político, entendo que o próprio discurso jornalístico desconsidera os antagonismos e a opinião de milhares de pessoas que não compartilham de tal pensamento único e homogeneizante.

O reacionarismo do governo Pedro Ivo Campos não era o mote de tal homenagem, pois via de regra, parece-nos que os mortos se deificam e nada mais pode macular a sua imagem. Ao identificar tais mediações e conduzir a análise para além de uma homenagem a - histórica, poderíamos ter um quadro mais honesto de sua herança política e isto exigiria ouvir diversos sujeitos históricos. Uma análise epidérmica e cronológica não possibilita aos leitores compreenderem a construção da personalidade política de Pedro Ivo Campos, tampouco as reestruturações internas de sua legenda partidária, bastante afastada nos dias atuais dos propósitos concernentes ao chamado ‘MDB histórico’.

Nenhum comentário: