terça-feira, 4 de outubro de 2011

FÁBULA







Na relva macia onde eles se entregavam, os espiões se refestelaram de novidades e toda a cidade soube do acontecido e todos se voltaram contra eles...

Eram jovens e bonitos. Ela tinha este brilho fácil das jovens de sua idade, o rosto macio, os cabelos loiros e ondulados e uma pureza inconteste. Ele era altivo e sereno. Não era rude, antes delicado e viril, sem ser vulgar e pernicioso. Diria mesmo ser um par raro.

Mas, estas cidadezinhas vis, onde os homens são taxados de frouxos e que bebem muito para esquecer as mágoas, nunca mudarão seus hábitos tácitos.

Os jovens foram expostos como criminosos. Recriminados por amarem livremente e por serem puros.    
Degolam-se cabeças como se degolam ervas daninhas. Misturas de tudo que é nocivo à boa planta.

Logo, quando amanheceu naquela cidadezinha torpe, encontrava-se em frente à casa do jovem uma mulher de luto, imensa cabeleira pestilenta, trazendo na mão uma Bíblia em frangalhos e uma corja de tantas velhas infaustas.

O rapaz assistiu sua casa ser queimada. Os ladrilhos arderam em chamas e os vidros das janelas, estilhaçados pelas pedras, rebentaram como disparos de revólveres.

A cidade estava salva daquele pequeno demônio. A moça passaria a morar com a tia distante, até que todos se esquecessem do ocorrido.

Eles nunca mais se viram. Sabe-se que a cidade está maior (principal produtora de arroz da região). Onde os jovens costumavam se encontrar foi erguido um enorme silo para guardarem cereais. Estranhamente, o silo tinha uma fragrância de rosas e todos que ali entravam tinham a sensação de estar flutuando.

Covardemente, o silo foi queimado.

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