quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


A simplificação da política

Jéferson Dantas


   Uma série de adjetivações desqualificatórias/persecutórias tem percorrido as manchetes dos jornais e revistas de grande circulação no país, acusando o governo Dilma e o PT pelos descalabros na Petrobras e de estelionato eleitoral após a vitória nas últimas eleições presidenciais. Já se fala em sarneyzação do segundo mandato de Dilma, referência ao governo de José Sarney (1985-1990), historicamente reconhecido como um retumbante fracasso político e econômico. Os dois primeiros meses do segundo mandato do governo Dilma estão, assim, muito associados aos respingos da disputa eleitoral ocorrida em outubro do ano passado, onde o discurso do ódio e a simplificação da política se tornaram elementos chaves para a construção das pautas midiáticas e das siglas partidárias oposicionistas.
   Não se trata de defender, maniqueisticamente, o partido “x” ou o partido “y”, mas compreender que a história republicana brasileira é atravessada por golpes e contragolpes e isto tem um enorme preço político dependendo da conjuntura. Vê-se nitidamente um Congresso Nacional conservador e que legisla de costas para a população brasileira, correndo sério risco de ser um dos alvos de novas manifestações populares, como as que ocorreram em junho de 2013. Se, por um lado, as reivindicações provenientes das jornadas de junho de 2013 não apresentavam pautas muito claras (excetuando-se os movimentos sociais organizados) pode ser que agora as disputas por determinados projetos políticos venham a se tornar mais polarizadas. Não é nada desprezível o surgimento de grupos ultraconservadores no Brasil, que não se reconhecem nas atuais representações político-partidárias. E, mesmo no interior de partidos neoliberais, como é o caso do PSDB, já há uma movimentação denominada ‘onda azul’, formada por jovens bem sucedidos, que pretendem ajudar a ‘reformar’ o partido, aproximando-o das grandes questões nacionais.
   O PT não tem muito que comemorar nestes 35 anos de fundação. Historicamente identificado com sua militância desde meados da década de 1980, hoje se vê na contingência de alianças espúrias e comprometidas com um ideário econômico que sempre condenou. Isto não significa, todavia, que a irresponsabilidade da política fisiológica e de determinados conglomerados midiáticos atentem para princípios tão importantes e construídos a duras penas neste país de jovem democracia. Não se pode esquecer, por conseguinte, como nos ensina o historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012), de que qualquer etapa histórica não é permanente e que a sociedade humana é uma estrutura capaz de mudança e o presente nunca será o seu destino final!







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