Sobre
o assentamento “Amarildo de Souza”
Jéferson
Dantas[1]
A ocupação de uma
propriedade às margens da SC-401 no norte da Ilha de Santa Catarina tem
motivado uma série de análises epidérmicas de um fenômeno repleto de múltiplas
determinações sociais e históricas. As centenas de famílias que hoje ocupam o
assentamento “Amarildo de Souza” possuem diferentes trajetórias, mas traços em
comum, já que são oriundos de territórios empobrecidos da Grande Florianópolis
e de outros entes federativos. Estes homens e mulheres viveram durante muitos
anos em áreas rurais e urbanas com pouquíssima infraestrutura, apresentando baixíssima
escolarização e sofrendo toda sorte de precarização de sua força de trabalho.
Compreender as migrações intra e inter-regionais é essencial para que não
fiquemos aprisionados a um discurso que criminaliza os movimentos sociais sem
qualquer adensamento histórico.
O discurso midiático
liberal, de maneira genérica, defende deliberadamente a propriedade privada
como princípio constitucional inalienável, porém, sabe-se que no interior dos
mecanismos jurídicos burgueses a igualdade entre os cidadãos é apenas formal,
já que há aí imensas e intensas desigualdades substantivas em contextos
concretos da produção material humana. Seria razoável problematizar o déficit
de moradia urbana na Grande Florianópolis, as diferentes formas de acesso à
escolarização básica e as reais motivações que desencadeiam a organização
destes assentamentos, tendo em vista que estes sujeitos históricos só conseguem
ter visibilidade por parte do poder público quando estão devidamente
organizados e dispostos a enfrentar posicionamentos políticos e ideológicos
marcadamente hegemônicos. Ao se desistoricizar as ocupações humanas recentes,
que estão na gênese colonial brasileira, incorre-se em anacronismos e defesas
tacanhas de determinadas frações de classe. Evidencia-se aí que a luta entre
capital e trabalho continua sendo a força-motriz da história contemporânea,
especialmente em tempos de triunfo do pragmatismo capitalista.
Nenhuma investigação
histórica – ou mesmo jornalística – digna deste nome será relevante se não for
levada em consideração todas as partes envolvidas, com os seus devidos
contextos temporais e espaciais. A ‘estratégia da desqualificação’, que
criminaliza os movimentos sociais, universidades públicas, trabalhadores e
trabalhadoras denota uma configuração bastante reducionista da complexidade do
mundo do trabalho, que necessita ser arrostado com políticas públicas
permanentes. A questão fundiária em Santa Catarina e, especialmente, na Grande
Florianópolis, há muito tempo tem merecido uma discussão mais radical e
propositiva de todos os seus envolvidos!
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