segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A síndrome de avestruz

Em recente entrevista, o ex-secretário da Fazenda do governo Raimundo Colombo, Ubiratan Rezende, numa incomum demonstração de lucidez, realizou uma avaliação contundente do universo político catarinense, principalmente no que se refere às disputas empedernidas pelo poder e a ausência do compromisso com o público. O ex-secretário compara Florianópolis à Brasília, um território dependente economicamente e afeito ao arrivismo e ao jogo de intrigas, o que invariavelmente acaba por atingir trabalhadores estatais competentes e descolados do clientelismo ou do favoritismo.

Ampliando o debate, temos nos últimos anos em Santa Catarina e em quase toda a esfera federal polarizações partidárias e programas de governo extremamente pragmáticos, além de alianças espúrias entre siglas que até então se digladiavam. As ideologias para os defensores do arrivismo político há muito estão nas latas de lixo da História. E o que isto significa? Ausência de ética e de pudores no momento de negociar cargos políticos e beneficiar cabos eleitorais. Sobretudo, a certeza de que quando os/as cidadãos/ãs cumprem os limites democráticos do ‘ato de votar’ não têm qualquer domínio sobre quem serão os ministros e secretários de Estado, o que equivale a uma ‘fé cega’, mormente decepcionante. No que tange aos governos regionais, secretários de Estado ficam mais tempo costurando alianças políticas e projetando os seus nomes à custa de uma superexposição do que, propriamente, trabalhando em benefício da população.

A síndrome de avestruz, apontada por Rezende em relação às secretarias de Estado, denotam o quanto a ingerência pública é grave e onerosa para a população catarinense. O mal-estar generalizado em relação a esta democracia representativa talvez tenha atingido o seu limite, e tal esgotamento precisa ir além do voto obrigatório. Onde não existe diálogo e outras formas de se pensar o estado e o país que queremos, temos o autoritarismo civil subserviente ao mercado e, então, a ‘democracia’ se torna um engodo. E este alerta partiu das próprias hostes governistas em época de pleito eleitoral.

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