quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A JUVENTUDE TEM PRESSA


Os movimentos de rua protagonizados por jovens em larga escala no território europeu e também em solo americano possuem raízes materiais (desemprego, ausência de escolaridade e moradia, etc.), e não se tratam apenas de indícios motivados pelas ‘redes sociais’ (os denominados flashes mobs), como alguns analistas mal intencionados tentaram justificar no início de tais manifestações. Quando imigrantes franceses iniciaram uma série de protestos em 2005 contra a falta de emprego, assistência médica e vagas nas escolas, a síntese midiática, num primeiro momento, reduziu tudo a um ‘bando de baderneiros’, ‘desocupados’ e ‘marginais’, como se os problemas sociais agravados pela imigração ilegal não estivessem inextricavelmente associados a décadas de exploração do imperialismo francês em território africano, notadamente. Logicamente, a força de trabalho destes jovens imigrantes era fundamental para a acumulação do capital e não podia ser facilmente descartada, principalmente no subemprego ou em ocupações de elevada insalubridade.
Para o historiador de origem egípcia, Eric Hobsbawm, é importante se considerar ainda outros fatores no que tange aos movimentos praticados pela juventude. Durante a década de 1960 a Europa presenciou uma sensível explosão demográfica em suas universidades, deixando de ser um privilégio para uns bem pouco afortunados. Em consequência, esta nova geração de jovens universitários, pouco afeitos à autoridade e pauperizados, inclinou-se para os partidos e movimentos de esquerda, contrários à guerra do Vietnã e ao imperialismo estadunidense. Segundo Hobsbawm, genericamente, as insatisfações da juventude na década de 1960 “não eram amortecidas pela consciência de terem vivido épocas de impressionante progresso, muito melhores do que seus pais algum dia esperaram ver. [...]. o ímpeto para o novo radicalismo vinha de grupos não afetados pela insatisfação econômica, tendo como efeitos imediatos a rebelião estudantil europeia e uma onda de greves operárias por melhores salários e melhores condições de trabalho”.
Cinco décadas depois a massa juvenil hodierna é muito mais desconfiada em relação aos ganhos democráticos e sociais por intermédio de partidos políticos de esquerda. Aliás, o recrudescimento das organizações partidárias de extrema-direita tem revelado a incapacidade das esquerdas em estabelecerem um projeto efetivamente satisfatório para as classes trabalhadoras. O acesso à informação também mudou e os jovens não são mais reféns de uns poucos meios de comunicação. Por outro lado, os aspectos dinâmicos dos movimentos organizados pela juventude possuem difusa consciência histórica. Se tais manifestações ainda são insuficientes para abalar o establishment, devidamente coordenadas podem se estruturar numa força social consistente, reunidas não apenas em função de protestos pontuais, mas em relação a todos os instrumentos ideológicos sob a posse das classes dirigentes. A juventude clama por mudanças... a juventude tem pressa!

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