quarta-feira, 8 de junho de 2011

DESVELOS


E, de repente, fiz-me dezenas de perguntas... os oráculos nesta hora se calaram, pois acreditavam  no silêncio farsesco de suas sabedorias...

Que se ame sem perda integral... na mistura... nos moldes sem censura...onde a vida reluta em se fazer vida! Ora, que se ame! Mas, que o amor não seja breve, nem de um mais solene, nem de outro mais ardente, das beldades ou dos seres que só desejam, enfim, desfazer do amor o cume do labor sublime...
Que se ame nas paredes nuas... nos penteados de maciez soturna...nos enlaces práticos de se doar o corpo em troca da palavra certa e, por si só, explícita e sem dor. DOR que guilhotina, onde os falsos sentimentos encontram guarida, mas que desfalecem nos uivos dos ventos, como num balanço de crinas sangüinolentas...
Que se ame além das palavras... onde tudo é gesto...pantomima dos pleniamados...Que se ame além da porta, além do quarto, além do pranto...OH! Tantos questionamentos... E eu que não me vejo neste flagelo secreto, neste manto de crispar a carne, de mãos feridas pelas chagas, segurando minhas penas como pássaro ferido... e ainda não sei o que queres, apesar do olhar...
A coragem dos homens que não perdem um só momento, para responder a todos que estão doentes, que se vigiam e se destroem, descrentes na renovabilidade da paixão, fazem-me crer numa possibilidade remota, ainda que o tempo seja cruel... Não posso admitir a dor que não me pertence... engendrada na fonte de meus Ser...Não mais!
Este pranto que incrementa as ficções tão semelhantes àquela infância famigerada, destroçada de onirismos, recheada de crueldades avassaladoras, revelam-me as verdades que possuo... préstimos que relato na Arte e na busca do Amor...

Quando via o horizonte, pedindo a proteção dos deuses, uma lança atravessava meu peito... e aquela casa de degredos sussurrava breve e lenta, até que se martirizasse o canto. E o mar me inundava... o mar onduloso, contrastando com minha face angulosa e apaixonada...a voz mansa repousara, enfim...Ah! Eu que não tenho pai, nem mãe, vivendo no dorso dos corcéis alados, presenciando a chama de séculos... o coração quente a pulsar, pulsar, PULSAR!
Os enganos favoreciam os ocultamentos... longe da nudez e da inteireza...Os irmãos de sangue te olvidariam, porque serias feliz sem eles...os mesmos irmãos que vivem esta tragédia humana, sabedores da História assim como tu, inda sendo mais moço...

Quando a menina te ofertou os lábios quentes de uma lascívia imponderada, tua boca fremiu desculpas como alguém cativo em seu estertor... A perversão se agitava, embora não sentisse piedade dos outros e levasse teus sonhos em fantásticas alvuras... tua obra madura!
Desvencilho-me dos afagos sem carícia, dos que não me sentem... Que se ame até a última gota e, quando saciado, deixe o corpo flamejar, irromper as nuvens com a leveza postergada pelos anos, onde o sorriso delicioso possa originar um facho de luz rasgante, destruindo o ventre das estrelas... lá no céu.

1994

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