E já me acostumava com a chuva e o frio, quando enfim pude colocar os pés para fora, e visitar as livrarias favoritas e os cafés onde era possível fumar cigarros avulsos. Uma estranha mania passou a consumir meus dias; com o pretexto de comprar ou alugar imóveis no centro da cidade, ficava horas visitando apartamentos antigos, como se pudesse apreender os cheiros ali depositados; como se pudesse catalisar as energias empreendidas naqueles espaços. Os corretores deveriam saber que não compraria nenhum imóvel; demorava-me nos quartos, na sala-de-estar, na cozinha, no banheiro, nas sacadas... Observava cada detalhe; sinais nas paredes, as instalações elétricas, o formato e a aderência dos pisos. Uma viagem nostálgica por mundos e pessoas que nunca vi. E me detinha em alguns rastros deixados por antigos moradores; um bilhete esquecido num criado-mudo; um quadro pintado a óleo, com dedicatória; um livro esquecido e com alguma página dobrada, denotando uma leitura interrompida...
Um comentário:
Mas que clima interessante! Múltiplas sensações envelhecidas...
Gostei.
Postar um comentário