terça-feira, 16 de maio de 2006

A cultura da violência, por Jéferson Dantas

Ao lado, Fernandinho Beira-Mar
do PCC


As ondas de ataque em São Paulo comandadas pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) e os seus efeitos em outras capitais do país, como é o caso de Florianópolis, apenas realça com cores vivas o fato de que vivemos uma guerra civil declarada no Brasil. Não há mais o que esconder! A elite econômica do país associada às antigas oligarquias políticas de norte a sul e também aos ideólogos neoliberais conseguiram o seu intento: agudizaram o fosso entre os endinheirados e os completamente miseráveis. Não é à toa que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo!
Mas, engana-se quem acredita que o PCC é apenas um grupo de bandidos sem discernimento das práticas sócio-econômicas impingidas pela classe política tupiniquim. A demonstração de força do PCC paralisou o Estado mais rico do país e os seus estragos podem ser muito mais devastadores numa cidade como Florianópolis, que já convive com uma população estimada em 30 mil pessoas nos morros e encostas da capital. E quando essa massa descer os morros e exigir atenção do poder público? O Estado de Direito vai fazer o quê? Reprimir e colocar em risco milhares de civis?
Sem projeto social nenhum país consegue dar dignidade ao seu povo. São tempos difíceis! De uma barbárie generalizada. Acredito que só é possível mudar o jogo quando o Estado brasileiro tomar a decisão histórica de investir maciçamente em educação e saúde pública. Não vejo outra saída. As gerações que vêm por aí estão desamparadas em diferentes níveis objetivos e subjetivos. O nível de exclusão social é brutal! E para piorar, a imprensa brasileira aposta na cultura da violência para alavancar programas sensacionalistas encharcados de moralismo cristão, hipocrisia e xenofobia!
Hard times, hard times caro Dickens... Continuarei escrevendo sobre as minhas impressões da cultura da violência nos próximos dias.
NOTA: Foi com profundo mal-estar que li a reportagem de uma agência internacional de notícias relatando a criação de um game baseado no massacre da Escola Columbine (EUA) onde jovens e um professor foram assassinados por dois estudantes. No game, o jogador que mais matar estudantes e professores avança para as próximas fase ou níveis de dificuldade. Não há dúvidas: são tempos de indiferença à vida!

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