quarta-feira, 10 de maio de 2006

O Legado de Paulo Freire, por Jéferson Dantas*



No dia 2 de maio fez nove anos que o educador Paulo Freire desapareceu. Porém, suas idéias e, principalmente, o seu legado no campo da Educação continua tão vivo quanto na época da Ditadura Militar (1964-1985), quando teve de abandonar o seu próprio país por acreditar numa educação popular emancipadora. Paulo Freire considerava também que o educador para atingir os seus estudantes precisava compreender a sua própria prática social, rompendo com o que denominou de “consciência ingênua”. Logo, o educador não deveria se entregar às questões educacionais como um missionário que libertaria seus educandos das trevas da ignorância, sendo tão-somente um depositário de conteúdos (educação bancária).
Para Freire, se o educador é um sujeito histórico, ele é um agente de mudança. Porém, agente de mudança da estrutura social. Neste sentido, quanto mais fosse levado a refletir sobre sua situação como trabalhador intelectual, sobre seu “enraizamento espaço-temporal”, mais conscientemente estaria carregado de compromisso com sua realidade comunitária. O comportamento ingênuo diante dos acontecimentos históricos era um dos grandes pontos de discussão de Freire, já que para ele o ingênuo era polêmico, com forte carga passional, compreendendo a realidade social como estática e não mutável. Já o educador crítico quando se deparasse com um determinado fenômeno histórico, tentaria se afastar o máximo dos preconceitos, “não somente na captação, mas também na análise e na resposta”.
Diante de tamanhos ensinamentos, do intenso e apaixonado legado de Paulo Freire, o que vemos em nosso país, atualmente, é a desistência sistemática de jovens educadores do magistério. A identidade do educador está cada vez mais agredida pela desvalorização de seu ofício. E é justamente a identidade que confere legitimidade ao processo de construção da prática pedagógica e suas conseqüentes rupturas históricas. Fiquemos, pois, com a herança de um homem que nos ensinou que educar é, acima de tudo, um exercício de imortalidade.

* Mestre em Educação (UFSC). Educador da rede municipal de São José/SC.

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