quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Qual educador(a) já não passou por isso?

> Zero Hora, 02/02/2006 - Porto Alegre RS

Demissões de docentes, uma surpresa anual
Cecília Farias/ Diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS)



Início de ano... Reflexões sobre o que passou, balanço e novos desafios para o próximo ano. Para grande parte dos profissionais que iniciam mais uma jornada com a garantia de seus empregos. Mas, para uma expressiva parte dos professores da rede privada de ensino, o início do ano está sendo marcado pelo afastamento do seu ambiente de trabalho, pela angústia e preocupação com o sustento no próximo período. Esta tem sido uma situação recorrente há muitos anos.
As instituições de ensino privadas, diferentemente das instituições de ensino públicas, aproveitam o final de um ano letivo e o início de outro para fazerem uma "limpa" no seu quadro docente, seja com a justificativa de mudança na organização curricular, seja para superar eventuais problemas de gestão, seja, ainda, porque aquele professor "não mais atende às necessidades da instituição".
Essa última justificativa, normalmente nunca abordada pela direção das instituições com os docentes, se caracteriza, em muitos casos, em total surpresa para o professor.
A mudança do corpo docente, a cada ano, traz como conseqüência imediata a constante necessidade de incorporar novos profissionais que precisam se adequar ao projeto político pedagógico específico de cada instituição. Ocorre que a rotatividade de profissionais ataca sistematicamente a identidade da instituição, colocando em risco a consolidação do projeto pedagógico. Neste sentido, surge um primeiro questionamento: por que a escola particular do Rio Grande do Sul, que tem demonstrado uma extrema preocupação com a aprovação de seus alunos, não tem investido na capacitação de seus professores? O que pode justificar a demissão de um professor que há anos entrega para a instituição os finais de semana na preparação de suas aulas, as horas livres dedicadas às atividades extracurriculares e, até mesmo, a flexibilização no cumprimento da legislação trabalhista? Em que momento ela "perde" esse profissional?
É lamentável que o mesmo esforço da escola privada gaúcha em promover ações que inviabilizem a reprovação de seus alunos não seja estendido aos seus colaboradores. Que não haja, durante o ano letivo, acompanhamento do trabalho do professor para que possam ser superados possíveis problemas, que não aconteça a formação em serviço, a exemplo da previsão nas escolas públicas e, principalmente, que o espírito fraterno, enaltecido pelas diversas instituições confessionais, não tenha correspondência, muitas vezes, no dia-a-dia da escola privada do Rio Grande do Sul.

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