quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Do projeto literário "Forma Crua e Poema pra quem tem verso" (reunidos até 1997)


ARTISTA

“Só raramente, por singularidade,
uma ou outra mulher ama o
artista, quando já acaso também
existe nela qualquer corrente de simpatia
mental, qualquer relação de afinidade
que estabeleça entre ambos uma claridade
e harmonia de sentimentos mais ou menos
congêneres, equilibrados.”
(CRUZ E SOUSA)


Quem saberá
das fugas
dos artistas e
de seus devaneios
noturnos...
Quem saberá de seus noctambulismos
e de suas sensibilidades
discretas ...

Quem saberá resistir
ao poeta
que se
traveste de mendigo
e abre
as portas
do Paraíso
com o doce
ciciar dos
anjos e das
floridas falas
das hipnotizantes
magnólias ...
Oh, triste pássaro
audaz!
Quem te seduz no vôo?
Não morra
sem conhecer
os doces
beijos dos
faróis, das
fêmeas endiabradas de Senso
Crítico e
de achismos tórridos ...
Não sonhe!
Oh, tresloucado
companheiro das
viagens mórbidas ! ...
Não te
imobilize por fragmentos
rotineiros
das tardes
infernais ...
Quem saberá encontrar
a dor do outro?
Das efêmeras casualidades,
dos registros
límpidos,
das cachoeiras
que inundam
teu corpo
de alvuras gélidas,
Enrijecem teus músculos fatigados
e o prenúncio dos dias
d’ouro
são as misérias
lúgubres
do instante da
volúpia
incerta ...
Quem poderá amar o artista?
Quem saberá o
infinito
desejo
de cada
alma peregrina?
São incertas as mariposas
e
os insetos zunem
pelo jardim
das delícias ...
Cálidos e
morosos
beijos,
desventuras
do artista
sem dono ...
Misturas de covardia
e
indolências alegres ...


Janeiro de 1997

Nenhum comentário: