Recentemente o cientista político André
Singer, em artigo assinado para o jornal Folha
de S. Paulo, argumentou que o país passará por um “longo inverno”, tendo em
vista as recentes medidas de contenção de gastos públicos por parte do governo
federal por 20 anos e que, concomitantemente, vêm acompanhadas de uma enorme
desconfiança e contrariedade por parte da classe trabalhadora brasileira. Além
disso, a suspeição institucional só tem crescido no Brasil, e o resultado das
urnas no pleito municipal (com número expressivo de abstenções, votos brancos e
nulos) é apenas um destes reflexos.
A flexibilização das leis trabalhistas,
políticas de ajuste estrutural e mudanças significativas no modelo de
seguridade social, ocasionam toda sorte de incertezas em relação a uma
vaga/posição no mundo do trabalho e, porque não dizer, advento de síndromes
associadas ao pânico, ou mesmo quadros clínicos de depressão e ansiedade. Associado
a isso, as situações de subempregabilidade têm levado ao aumento de suicídios e
de doenças psicossociais em várias partes do mundo, não sendo incomuns os casos
de morte por excesso de trabalho. Já a infotoxicação,
resultado do uso significativo das redes sociais por parcela da população
brasileira, nem sempre contribui para um debate aprofundado das questões
conjunturais/estruturais que afetam o país. Tais fóruns virtuais além de se
constituírem como vínculos frágeis de sociabilidade, alimentam a cizânia, a
gramática do ódio e preconceitos de toda ordem, sem qualquer fundamentação
histórica, que me parecem ser os dilemas destes tempos. A desrazão e o recuo da
história e da política empobrecem as diferentes perspectivas analíticas, pois
há simplificações reducionistas e binárias sobre as contradições sociais
imperantes, especialmente, neste contexto de luta pela educação pública e pela
manutenção de direitos trabalhistas adquiridos.
De fato, um longo inverno se inscreve no
Brasil e não há como alimentarmos uma falsa esperança com as medidas tomadas por
este governo, que desde o afastamento da presidente Dilma Rousseff sofre com
ausência de credibilidade e aprovação pública. Por outro lado, os agentes das
mudanças históricas – e aqui me refiro, em especial, à juventude escolarizada e
à classe trabalhadora – não sairão dos gabinetes presidenciais ou dos conluios
jurídicos, mas dos setores que mais sofrem e sofrerão com a diminuição dos
investimentos sociais.
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