A geografia do ódio
Por Jéferson Dantas[1]
A disputa presidencial no Brasil trouxe à tona muitas questões de ordem
social e cultural que precisam ser problematizadas, dentre elas o ‘discurso do
ódio’. Longe de ser uma questão menor, podemos afirmar que há neste imenso país
uma ‘cartografia do ódio’, que vem desde a gênese colonial. A exploração
desenfreada dos recursos naturais do litoral brasileiro pela metrópole
portuguesa e a utilização da força de trabalho escrava dos povos originários e
dos negros da África, realizaram neste país um verdadeiro mapa da fome, da
discriminação, do genocídio, do preconceito e do apartheid social. Em outras palavras, vale a máxima de que os
pobres e miseráveis são culpados pela sua própria pobreza, sem qualquer
contextualização histórica e uma análise mais depurada da construção da nação
brasileira.
Somente nos EUA há dois mil grupos de ódio, aproximadamente, e não por
acaso tais grupos se concentram na região sul daquele país, território de
intensas disputas sociais e raciais, que se acirram desde a metade do século
XIX. Num país tão desigual como é o caso do Brasil, as elites dirigentes e
nichos políticos oligárquicos reprisam as mesmas artimanhas dos grupos
conservadores estadunidenses, pautando-se numa pretensa superioridade racial e
econômica, fruto de espoliações regulares que não permitiram às populações
empobrecidas acesso a bens culturais básicos, como são os casos da educação e
saúde.
A principal síntese a se fazer deste processo eleitoral – notadamente em
relação aos cargos legislativos – é de que não estamos suficientemente
problematizando as questões políticas do Brasil. Em outras palavras, a negação
da política, da história, e a exasperação dos preconceitos arraigados, têm
gerado uma cizânia sem volta, de contornos fascistas e autoritários. A ‘desrazão’,
a alienação, o preconceito, o recuo da teoria e a ausência de argumentação
foram os motores destas eleições no Brasil. E isto não é pouco para um país de
democracia jovem e que mal se recuperou das agruras de uma ditadura militar.
[1]
Historiador e Doutor em Educação. Professor no
Departamento de Estudos Especializados em Educação da Universidade Federal de
Santa Catarina (EED/CED/UFSC). E-mail: jeferson.dantas@ufsc.br.
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