segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A geografia do ódio
Por Jéferson Dantas[1]


A disputa presidencial no Brasil trouxe à tona muitas questões de ordem social e cultural que precisam ser problematizadas, dentre elas o ‘discurso do ódio’. Longe de ser uma questão menor, podemos afirmar que há neste imenso país uma ‘cartografia do ódio’, que vem desde a gênese colonial. A exploração desenfreada dos recursos naturais do litoral brasileiro pela metrópole portuguesa e a utilização da força de trabalho escrava dos povos originários e dos negros da África, realizaram neste país um verdadeiro mapa da fome, da discriminação, do genocídio, do preconceito e do apartheid social. Em outras palavras, vale a máxima de que os pobres e miseráveis são culpados pela sua própria pobreza, sem qualquer contextualização histórica e uma análise mais depurada da construção da nação brasileira.

Somente nos EUA há dois mil grupos de ódio, aproximadamente, e não por acaso tais grupos se concentram na região sul daquele país, território de intensas disputas sociais e raciais, que se acirram desde a metade do século XIX. Num país tão desigual como é o caso do Brasil, as elites dirigentes e nichos políticos oligárquicos reprisam as mesmas artimanhas dos grupos conservadores estadunidenses, pautando-se numa pretensa superioridade racial e econômica, fruto de espoliações regulares que não permitiram às populações empobrecidas acesso a bens culturais básicos, como são os casos da educação e saúde.

A principal síntese a se fazer deste processo eleitoral – notadamente em relação aos cargos legislativos – é de que não estamos suficientemente problematizando as questões políticas do Brasil. Em outras palavras, a negação da política, da história, e a exasperação dos preconceitos arraigados, têm gerado uma cizânia sem volta, de contornos fascistas e autoritários. A ‘desrazão’, a alienação, o preconceito, o recuo da teoria e a ausência de argumentação foram os motores destas eleições no Brasil. E isto não é pouco para um país de democracia jovem e que mal se recuperou das agruras de uma ditadura militar.



[1]  Historiador e Doutor em Educação. Professor no Departamento de Estudos Especializados em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (EED/CED/UFSC). E-mail: jeferson.dantas@ufsc.br

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