sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A MERITOCRACIA DOCENTE EM SANTA CATARINA






O atual governo de Santa Catarina pretende implementar a meritocracia nas escolas públicas, objetivando avaliar o rendimento de professores e professoras. Tal modelo – que inclusive fracassou nos EUA – tem sido adotado em algumas unidades da federação, como é o caso de São Paulo, que teve como mentor o então secretário de educação e ex-ministro do governo FHC, Paulo Renato Souza (1945-2011). A meritocracia docente ou a 'ideologia do esforço individual' terá como avaliadores os 'gestores das escolas' que, como se sabe, são cargos de confiança do governador. Em outras palavras, quais serão os critérios para se avaliar as práticas pedagógicas dos educadores? Estariam os professores a mercê de uma avaliação draconiana e antidemocrática? Para ser bem avaliado o educador precisaria estar sintonizado aos ditames dos partidos políticos que formam a 'tríplice aliança'?

As razões para a aplicação de tal modelo estariam assentadas nestas motivações: os professores faltam muito e há diversos afastamentos por motivos de saúde. Tal argumentação, tão epidérmica quanto preconceituosa, revela que o Estado pretende se desresponsabilizar cada vez mais de suas obrigações com o campo educacional, onde se deveria inscrever um plano de carreira digno e uma maior atratividade salarial para os futuros professores. Por outro lado, isto não significa que os professores não precisam ser avaliados, mas tais critérios precisam ser discutidos de forma coletiva com as instâncias deliberativas das escolas (conselhos deliberativos, APPs, grêmios estudantis e conselhos escolares) e com o sindicato que os representa. Isto pressupõe condição precípua do compromisso social e público dos professores. Além disso, a conformação dos saberes definidas pelo Estado são bastante decisivas na reformulação dos currículos, concorrendo para uma estratégia perversa de mecanismos avaliativos arbitrários na educação formal; e aqui me refiro, basicamente, à possibilidade do governo catarinense em comprar cartilhas de alfabetização de um grupo privado educacional para os primeiros anos do ensino fundamental, transformando os educadores em aplicadores de materiais pedagógicos ou de instrutores desqualificados de seu saber.

 A educação básica pública, nos moldes defendidos pelo atual governo, tem minimizado de maneira nefanda a capacidade de intervenção de educadores e educandos, já que as unidades de ensino vêm sendo tratadas como currais eleitorais, esvaziando a sua intencionalidade/autonomia pedagógica. Se ficarmos apenas na questão de quem ‘ensina melhor’ e de quem ‘ensina pior’ (um maniqueísmo mecanicista e determinista) não conseguiremos visualizar de forma mais ampla as condições de trabalho pelas quais os dois perfis de trabalhadores estão/são submetidos. Como já foi revelado em extensa pesquisa organizada pelo psicólogo Wanderley Codo no final da década de 1990, mesmo os ditos ‘bons professores’ com o passar dos anos vão se tornando desmotivados, exaustos emocionalmente e despersonalizados. Cabe lembrar que a formação continuada em Santa Catarina nos últimos nove anos foi praticamente inexistente. Logo, preocupar-se com a qualidade da educação em Santa Catarina, significa compreender a complexidade das relações de trabalho nestes espaços sociais e não culpabilizar os professores pela má qualidade de ensino. O modelo de educação estatal catarinense tem primado pela gestão tarefeira, além da exploração incessante de uma força de trabalho intelectual precarizada e que é responsável diretamente pela formação das novas gerações nesta federação.



Nenhum comentário: