quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ANULAR O VOTO EM FLORIANÓPOLIS

   A configuração espaço-temporal em Florianópolis é assimétrica do ponto de vista social e econômico, principalmente em seus territórios periféricos. Tais reordenações e contradições espaço-temporais sob a ótica da lógica do capital apresentam efeitos sensíveis, corroborando para um apartheid social aparentemetne invisível. Em outros termos, há claramente um desenvolvimento geográfico desigual na capital catarinense: uma cidade para os que possuem muitos bens materiais e outra cidade para os despossuídos, subempregados ou precarizados.

   O pacto urbano inexiste em Florianópolis, já que justamente a desmobilização ou incapacidade de articulação das lideranças populares têm ocasionado um tipo de violência – por parte das políticas estatais – que ignora ‘o outro', como se esse não fosse portador de discurso, apagando definitivamente o litígio constitutivo da política. Tal aposta no vazio político e o silenciamento das falas de dissenso são produtoras e reprodutoras da violência legítima estatal; a busca do consenso na pólis se dá pelo apaziguamento do conflito e das tensões sociais; por meio da privatização dos espaços públicos, tornando-os cada vez palatáveis à gulodice do mercado imobiliário. O etnocentrismo da classe média irrompe com o seu senso comum, evidenciando posturas conservadoras, limitadoras ou reducionistas diante deste jogo pseudo-democrático.

   Além disso, a ‘guerra' do crime-negócio - que consome a vida da juventude dos territórios empobrecidos da Grande Florianópolis numa faixa etária média que vai dos 14 aos 22 anos - não pode ser traduzida tão-somente pela associação ao narcotráfico, mas principalmente por uma política policialesca que enxerga a totalidade dos moradores destes territórios como ‘classes perigosas', onde as mesmas precisam ser combatidas não com políticas públicas, mas com repressão e extermínio. Tais territórios que apresentam pouca atratividade ao capital, recebem apenas reformas pontuais para não elevar o nível de insatisfação dos pobres, afinal, estes/as moradores/as fornecem farta força de trabalho barata para a construção civil, para o comércio local e para o subemprego. A contenção da rebelião popular em Florianópolis é realizada pelo mais raso e asqueroso assistencialismo, aliás, mote da campanha dos dois candidatos à prefeitura da capital de Santa Catarina, denotando velhas práticas oligárquicas de servilismo civil.

   No conjunto das forças sociais em litígio, a anomia é utilizada como pretexto ou argumento por estes partidos conservadores e pelos meios de comunicação de massa, que ao adaptarem seus discursos a um controle repressivo e excessivo dos ‘desvalidos', exigem a responsabilização penal para a juventude delinquente. Ignorar, porém, dezenas de milhares de seres humanos numa cidade que já sofre consequências alarmantes de mobilidade urbana, custo de vida elevadíssimo, escolaridade pública precária, despreparo policial e saúde ineficiente, não é a melhor saída na conjugação de um pacto civilizador atuante e propositivo. Anular o voto no dia 28 de outubro parece-me redundante. Há de se pensar a partir de agora como os movimentos sociais podem se articular nos próximos quatro anos para que esta cidade não seja totalmente devastada!

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