A configuração espaço-temporal em Florianópolis é assimétrica do
ponto de vista social e econômico, principalmente em seus territórios periféricos. Tais reordenações e contradições
espaço-temporais sob a ótica da lógica do capital apresentam efeitos sensíveis, corroborando para um apartheid social aparentemetne invisível. Em outros termos, há claramente um desenvolvimento geográfico desigual na capital catarinense: uma cidade para os que possuem muitos bens materiais e outra cidade para os despossuídos, subempregados ou precarizados.
O pacto urbano inexiste em Florianópolis, já
que justamente a desmobilização ou incapacidade de articulação das
lideranças populares têm ocasionado um tipo de violência – por parte
das políticas estatais – que ignora ‘o outro', como se esse não fosse
portador de discurso, apagando definitivamente o litígio constitutivo
da política. Tal aposta no vazio político e o silenciamento das falas
de dissenso são produtoras e reprodutoras da violência legítima
estatal; a busca do consenso na pólis se dá pelo apaziguamento
do conflito e das tensões sociais; por meio da privatização dos espaços públicos, tornando-os cada vez palatáveis à gulodice do mercado imobiliário. O etnocentrismo da classe média irrompe com o seu senso comum, evidenciando posturas conservadoras, limitadoras ou reducionistas diante deste jogo pseudo-democrático.
Além disso, a
‘guerra' do crime-negócio - que consome a vida da juventude dos territórios empobrecidos da Grande Florianópolis numa faixa etária média que vai dos 14 aos 22 anos - não pode ser
traduzida tão-somente pela associação ao narcotráfico, mas
principalmente por uma política policialesca que enxerga a totalidade dos moradores
destes territórios como ‘classes perigosas', onde as mesmas precisam ser
combatidas não com políticas públicas, mas com repressão e extermínio.
Tais territórios que apresentam pouca atratividade ao capital, recebem
apenas reformas pontuais para não elevar o nível de insatisfação dos pobres, afinal, estes/as moradores/as fornecem farta força de
trabalho barata para a construção civil, para o comércio local e para o
subemprego. A contenção da rebelião popular em Florianópolis é realizada pelo mais raso e asqueroso assistencialismo, aliás, mote da campanha dos dois candidatos à prefeitura da capital de Santa Catarina, denotando velhas práticas oligárquicas de servilismo civil.
No
conjunto das forças sociais em litígio, a anomia é utilizada como
pretexto ou argumento por estes partidos conservadores e pelos meios de comunicação de massa, que ao adaptarem seus discursos a um controle
repressivo e excessivo dos ‘desvalidos', exigem a responsabilização
penal para a juventude delinquente. Ignorar, porém, dezenas de milhares de seres
humanos numa cidade que já sofre consequências alarmantes de mobilidade
urbana, custo de vida elevadíssimo, escolaridade pública precária,
despreparo policial e saúde ineficiente, não é a melhor saída
na conjugação de um pacto civilizador atuante e propositivo. Anular o voto no dia 28 de outubro parece-me redundante. Há de se pensar a partir de agora como os movimentos sociais podem se articular nos próximos quatro anos para que esta cidade não seja totalmente devastada!
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