quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A MILITÂNCIA NA ESCOLA PÚBLICA


Num pequeno livro de caráter militante (Contrafogos), o sociólogo francês, Pierre Bourdieu (1930-2002), demonstra em pequenos artigos como os regimes neoliberais – compreendidos como uma 'utopia' de uma exploração sem limites – têm conseguido desmantelar todos os serviços públicos oferecidos à sociedade. Bourdieu assinala que a individualização dos salários em função de competências individuais, têm gerado continuamente a degradação e a atomização dos trabalhadores. Ressalta ainda o sociólogo, que vivemos um período dramático de 'crise de militância' ou, na pior das hipóteses, uma adesão irrefletida às teses do fatalismo econômico determinada pelos governos neoliberais.


De fato, as políticas públicas no campo educacional têm sido definidas por certos economistas que infestam os noticiários televisivos na condição de experts, revestidos de uma racionalidade matemática/financeira, que objetiva a produção e a reprodução da utopia neoliberal; lidam com números frios e calculistas, comparando escolas públicas e escolas privadas, como quem coteja empresas indiferenciadas na corrida insana pelo lucro; tratam escolas e professores de forma homogênea, prestigiando os ranqueamentos educativos em detrimento da ausência de investimentos permanentes e públicos na formação docente e na reestruturação do parque escolar nacional. Estes economistas reagem mal aos inconformados, utilizando-se da pureza racional e cínica, tipicamente emoldurada pela lógica capitalista, subservientes que são de um modelo que ajudaram a construir e pelo qual são os seus mais aguerridos defensores.


Florestan Fernandes (1920-1995), prestigiado sociólogo brasileiro, sempre acreditou na militância pela escola pública como alternativa a um modelo pedagógico dualista e profundamente desigual, via de regra, fomentador de uma classe apta a obedecer e ser explorada e uma classe proprietária dirigente. Florestan argumentava que os professores das escolas públicas tinham uma responsabilidade cívica e intelectual com aqueles que mais precisavam da escola, e isso significava ir além de uma crítica epidérmica e reprodutivista da sociedade capitalista, da qual a escola é um de seus reflexos. Espaços escolares despolitizados e com trabalhadores em educação desmobilizados são terrenos férteis para a aceitação tácita da utopia neoliberal. Logo, a 'crise da militância', apontada por Bourdieu, nada mais é do que a crise do debate político nas escolas e para além delas, o que denota a pouca clareza de um projeto educativo que avance para além do capital.



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